Porto Velho: Na madrugada, a fila do desemprego

09-01roPorto Velho, RO – Madrugada de quarta para quinta-feira. Porto Velho dorme, as ruas estão desertas. A não ser por um endereço: Rua Paulo Leal, 332, Centro da capital.

Lá, quase todas as noites, dezenas de pessoas se aglomeram em filas para conseguir atendimento no Sistema Nacional de Emprego (Sine-RO). Quem busca dar entrada no seguro-desemprego precisa dormir em frente ao órgão, mas a maioria procura uma oportunidade profissional. Pendurados na cerca do prédio, há avisos claros: “não há vagas disponíveis nas usinas”, referente às hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. No entanto, grande parte das pessoas está interessada em qualquer vaga de emprego em que possa se encaixar.

É o caso de Maria Nubiã, de 31 anos. Desempregada há cerca de um ano, soube que precisaria dormir na fila em frente ao Sine e se preparou, levando café para ajudar a passar a noite. Com relação ao mercado de trabalho porto-velhense, Maria acredita que está faltando emprego para muita gente. “Falta oportunidades. Eu sou auxiliar de almoxarifado e trabalho mais em obras, mas elas [as obras] estão acabando em Porto Velho, então fica mais difícil conseguir emprego”, conta.

Maria chegou a fila às 23h30 de quarta-feira, mas há pessoas que chegaram muito antes, caso de Renê Mourão, de 51 anos, que se juntou à fila por volta das 20h – com esperança de ser atendido às 8h da manhã de quinta-feira, 12 horas depois de ter chegado. Diego Mendes Lima, que chegou no mesmo horário que Mourão, conta que nenhuma orientação é passada para as pessoas na fila, a única informação que eles têm se resume ao aviso sobre a falta de trabalho nas usinas. “É ruim demais, eu venho há quatro dias e durmo aqui, não tem o que fazer. Eles entregam 130 senhas às 6h da manhã, mas até esse horário já temos umas 500 pessoas aqui”, reclama o jovem de 24 anos.

“Há pessoas que estão vindo aqui há uma semana e quando elas são atendidas, dizem somente que não há vagas”, revela Thiago Corrêa, que procura emprego em qualquer área. A situação é parecida com quase todas as pessoas na fila, que passam a noite sobre papelões, expostos ao relento e os perigos noturnos do Centro da cidade.

SEGURO-DESEMPREGO TAMBÉM GERA FILAS

Além do grande número de desempregados que estão no Sine estadual todas as noites à procura de trabalho, há pessoas que acabaram de perder seus empregos e desejam dar entrada no seguro-desemprego. Porém, a disputa por um lugar na fila é acirrada: para este tipo de serviço, as pessoas alegam que o Sine disponibiliza apenas 50 senhas de atendimento. “Cheguei aqui meia-noite e fui o número 31 a assinar uma lista na portaria”, conta Ameciano dos Santos Ribeiro, de 43 anos.

A lista a qual Ribeiro se refere é elaborada pelos próprios integrantes da fila, que encontraram nela uma forma de se organizar para assegurar atendimento às pessoas que chegaram primeiro. “Quando eles [funcionários do Sine] vêm entregar as senhas, damos a nossa lista e eles a seguem, para ninguém tomar a vez de ninguém”, revela Ezequiel Alves de Freitas, 30 anos.

Os mesmos integrantes da fila afirmam que foram orientados a procurarem o Sine-RO depois que receberam a informação de que o Sine municipal estava sem sistema para trabalhar. Antônio Geraldo Afonso, secretário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Socioeconômico e Turismo (Semdestur) – órgão que administra o Sine de Porto Velho –, diz que o sistema para dar entrada no seguro-desemprego e emitir carteira de trabalho realmente estava fora do ar, mas que era um problema geral. “Estávamos com um problema geral no sistema para seguro e carteiras de trabalho, mas não estávamos orientando as pessoas a procurarem o Sine estadual. Inclusive, creio que o sistema antigo de emissão da carteira de trabalho pode ser retomado para dar conta da demanda de solicitações dessa população”, afirma.

Por: Emerson Machado – DIÁRIO DA AMAZÔNIA

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