Pará está de joelhos diante da violência

06-11paraBelém, PA – O Pará está de joelhos, encolhido e aterrorizado pela violência. Sair às ruas, seja de dia ou à noite, é um risco permanente. O problema não é sair de casa, mas saber se retorna sem ter sido admoestado por um malfeitor.

A insegurança está por toda parte: na viela escura do subúrbio, na praça do centro da cidade ou num sinal de trânsito, na feira, no jogo de futebol, na porta da escola, na parada de ônibus.

O terror da noite passada, com a matança promovida por agentes da lei que deveriam zelar pela segurança dos que pagam seus salários– as autoridades responsáveis pela investigação das mortes não admitem oficialmente o que já sabem – é o retrato de uma Belém sitiada pela banalidade do crime.

Já era previsível que, a qualquer hora, viesse à tona o que se comentava sobre a participação de militares da Rotam em um grupo de extermínio. Que, aliás, botou suas garras de fora depois que um integrante da própria corporação, licenciado para tratamento de saúde e também por responder a inquéritos por homicídio, ser morto a tiros por pistoleiros ligados ao tráfico de drogas. A morte do policial desencadeou uma revolta entre os colegas.

“Vá com deus, irmão! O sr combateu um bom combate e cumpriu a sua missão. CB Pety (como era conhecido Marco Figueiredo). A caça começou…!!! Te liga vagabundo… a Rotam esta com sangue nos olhos”, foi a mensagem postada na página da Rotam na Internet. Uma página que, em nota, a assessoria do governo do Estado disse não reconhecer. De qualquer maneira, a página tinha até ontem mais de 10 mil curtidas e vários comentários de incentivo à vingança.

Os que saíram em campo movidos pela fúria vingativa e armados com pistolas ponto 40, além de outros tipos de armas, decidiram que seria melhor fazer logo a chamada justiça com as próprias mãos, em vez de aguardar que a Polícia Civil, o Ministério Público e a Justiça fizessem seu papel de investigar, denunciar e julgar os matadores do militar. Com essa atitude, os justiceiros acabaram por revelar que não há comando na tropa, ou que este é frágil e incapaz de impedir que se manche, com atitude insana, todo um trabalho feito pela maioria dos policiais militares que diariamente expõem suas vidas em defesa da sociedade.

O promotor militar Armando Brasil Teixeira, que tem sido duro no combate aos desvios de conduta, informou que está acompanhando todo o trabalho de investigação policial e que não hesitará em pedir a condenação a pena máxima e expulsão da tropa em caso de confirmação do envolvimento de policiais militares. Brasil também pediu que a população de Belém não se deixasse influenciar por informações exageradas. “A população não deve entrar em pânico.

Há muitas pessoas se aproveitando da situação e espalhando boatos pela internet, tentando criar uma situação de caos”, afirmou o promotor. O secretário de Segurança Pública, Luís Fernandes, comentou que, pelo menos, seis das noves vítimas apresentavam característica de execução. Ele confirmou que as mortes não ocorreram em confronto com a polícia e que não houve mortes durante a operação para localizar os assassinos do PM. A Corregedoria da Polícia Militar disse que não descarta e nem confirma a participação de membros da PM nesses crimes.

LIMPEZA

Mas se a polícia e as autoridades da segurança ainda não se arriscam a apontar os responsáveis pela matança, testemunhas dão pistas valiosas. Um parente de uma das vítimas disse que os homens estavam vestidos de preto, usavam capuzes e estavam em várias motocicletas, seguidos por carros também de cor preta. Outro, revelou que militares apareceram em várias ruas da Terra Firme intimando os moradores para se trancassem em suas casas, porque a “limpeza” ia começar no bairro. O recado era claro: por “limpeza”, eles queriam se referir a pessoas pobres, negras e que tivessem envolvimento com a bandidagem. Uma “limpeza”social.

Corriam, é lógico, o grande risco de sair matando inocentes. A cantora Gaby Amarantos postou em sua página nas redes sociais o seguinte, referindo-se a uma das vítimas, do bairro do Jurunas: “o rapaz de boné branco era homossexual, e era conhecido pelo apelido de “Carequinha”. Ele estava comemorando seu aniversário quando foi abordado e confundido com um bandido, inocente e sem antecedentes”. Amarantos pediu que as autoridades cumpram seu papel e “nos deem segurança”. “Não se trata de defender o crime ou criminalizar o defensor, mas sim de me manifestar diante de um ato deplorável”, resumiu a cantora.

Enquanto Gaby Amarantos e tantos outros milhões de paraenses pedem paz, o delegado Eder Mauro, recém consagrado nas urnas com mais de 150 mil votos para deputado federal, apaga o incêndio da matança com mais gasolina: num vídeo postado ontem à tarde por ele no Facebook, Mauro aparece no gramado do Congresso Nacional, em Brasília, prometendo que estará hoje em Belém para um acerto de contas “com a bandidagem”, desafiando-a para o confronto. É, como se vê, um recado de dar medo.

(Diário do Pará)

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