Rosângela Portela
A pandemia mundial causada pelo novo coronavírus tem levado pesquisadores do mundo inteiro a buscarem respostas para o enfrentamento dessa doença. Recente estudo divulgado pela Universidade de São Paulo – USP revela que o Covid-19 pode se dissimular no organismo humano e contagiar outras pessoas sem que o infectado saiba que está transmitindo o vírus, o que explica o ritmo acelerado de disseminação da doença.
Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (Sars-Cov-2), descoberto no último dia de 2019, em Wuhan, na China, é o causador da doença Covid-19.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sobretudo as crianças.Os mais conhecidos até o momento são: Alpha coronavírus 229E e NL63; Beta coronavírus OC43 e HKU1; SARS-CoV (causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave ou SARS); MERS-CoV (causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio ou MERS); SARS-CoV-2: novo tipo de vírus do agente coronavírus, chamado de coronavírus.
Uma vez a pessoa estando infectada, o período de incubação do coronavírus é de 2 a 14 dias. E a transmissão, de modo geral, ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas. Há possibilidade dessa transmissão viral após a resolução dos sintomas, no entanto, no caso do coronavírus, a duração do período de transmissibilidade é desconhecida.
Diante da letalidade da doença e rapidez na disseminação, diversas pesquisas estão sendo desenvolvidas no mundo inteiro para que se possa entender o comportamento do vírus no organismo e combatê-lo.
A pesquisa
Estudo divulgado recentemente pela Universidade de São Paulo – USP revela que o novo coronavírus se esconde no organismo para ampliar sua disseminação, de modo que a pessoa, vítima de contágio, pode transmitir a doença para outras pessoas sem saber que está infectada.
Paulo Saldiva, um dos autores da pesquisa e professor do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), estuda o comportamento do vírus e revela que esse agente transmissor é mais agressivo que o H1N1 e tem um tempo maior de latência no organismo.
O pesquisador ressalta que, quando uma pessoa contrai outra influenza, como o H1N1, em, no máximo, dois dias já apresenta febre; ao passo que, uma vez infectado com o novo coronavírus, o paciente pode vir a apresentar febre somente após dez ou doze dias, assim transmitindo a doença a outras pessoas por não saber que está com a Covid-19. Essa é uma das características que define a letalidade do vírus.
Para a realização da pesquisa, foram feitas quinze autópsias, com análise apenas de dez, e PCR, estudos moleculares de todos os órgãos. “Para entender como o vírus age em nossas defesas, é necessária a coleta de tecido humano das pessoas que morreram infectadas”, disse.
Segundo o pesquisador, o vírus age de forma rápida e agressiva, sobretudo no sistema respiratório, o que foi visível, pois a maioria estava com as vias sanguíneas que irrigam os pulmões obstruídas por tromboses. Mas atinge órgãos como pulmão, cérebro, rins e testículos.
Um dos desafios do estudo é entender como a doença evolui ao longo do tempo de internação. O porquê de algumas pessoas morrerem em poucos dias e outras morrerem com mais dias também instiga os pesquisadores.
Outros estudos
A cada três horas, cientistas publicam uma nova pesquisa sobre o novo coronavírus (Sars-CoV-2) e a doença provocada por ele, a Covid-19. Todas as áreas do conhecimento estão envolvidas em busca de terapias e formas de combate à doença, aspectos da transmissão, diagnóstico clínico, comportamento do vírus, entre outros. Também há trabalhos dedicados ao impacto da pandemia no comportamento humano e na economia.
O primeiro estudo sistemático sobre a doença foi publicado no periódico médico The Lancet, em 15 de fevereiro de 2020, com resultados apresentados em 24 de janeiro de 2020. Na pesquisa, liderada pelo Hospital Yin-tan, em Wuhan, na China, características de 41 pacientes confirmados com Covid-19 em janeiro foram analisadas. A publicação serviu de fundamentação para várias outras pesquisas. As informações são do Jornal Folha de São Paulo.
Uma outra pesquisa desenvolvida por cientistas norte-americanos relaciona os casos graves de Covid-19 ao sistema imunológico. Segundo o estudo, há uma reação exagerada de um elemento do sistema imune (os glóbulos brancos, conhecidos também como netrófilos) à presença do coronavírus, pois, quando estão hiperativos, há um lançamento excessivo de citocinas no corpo, que pode danificar o aparelho respiratório, o que provoca o agravamento da doença. O trabalho foi publicado na última edição da revista especializada Journal of Experimental Medicine.
“A maioria dos pesquisadores do nosso grupo trabalhou com esse fenômeno em outras doenças e, quando começamos a ouvir sobre os sintomas das pessoas com Covid-19, pareciam familiares”, conta, em comunicado, Mikala Egeblad, pesquisadora do Cold Spring Harbor Laboratory, nos Estados Unidos, e uma das autoras do estudo.
No Brasil, diversas instituições estão voltadas ao desenvolvimento de estudos sobre o novo coronavírus. Foram destinados 50 milhões pelo governo brasileiro para este fim. As linhas de pesquisa devem estar distribuídas a partir das diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), alinhadas às prioridades nacionais, levando em consideração a necessidade de uma resposta rápida.
Assim, estão relacionadas à história natural da doença; desenvolvimento e avaliação de testes, de alternativas terapêuticas e de vacinas contra a Covid-19; avaliação da atenção à saúde nos três níveis de complexidade frente à epidemia; uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) nas ações de prevenção, controle e manejo; adesão e cumprimento das medidas de prevenção e controle, entre outros temas.
Em um terreno de incertezas, toda a comunidade científica está empenhada em realizar descobertas sobre essa doença que teve seu primeiro registro na cidade de Wuhan, na China, e se espalhou de forma exponencial, deixando um rastro de destruição pelo mundo.
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