Manaus, AM – Os testes da primeira vacina brasileira contra a dengue, desenvolvida pelo Instituto Butantan (SP), começam nesta quinta-feira, em Manaus, com 1,2 mil voluntários.
É a terceira e última etapa de testes antes de a vacina ser submetida à aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para ser produzida em larga escala e disponibilizada nas campanhas de imunização.
Em Manaus, os ensaios clínicos serão coordenados pelo pesquisador Marcus Lacerda, da FMT-HVD (Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado) e da Fiocruz Amazônia, com o apoio das secretarias de Saúde do Estado e do município.
“Manaus é um dos grandes centros de pesquisa clínica do Brasil para testagem de novas drogas e vacinas infecciosas. Não poderíamos estar de fora desse grande estudo nacional, que pode eliminar a dengue em um futuro próximo”, disse Lacerda. A vacinação e o acompanhamento dos voluntários acontecem na Unidade Básica de Saúde Arthur Virgílio Filho, na Cidade Nova, zona norte da capital.
Ainda nesta quinta-feira, a Universidade Federal de Roraima também dá início aos testes em Boa Vista. Com isso, os ensaios clínicos estarão em andamento em quatro dos 14 centros de pesquisa credenciados pelo Butantan para a realização dos estudos. Os outros dois são a Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, na capital paulista, e a Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, no interior do Estado de São Paulo
17 mil voluntários
Ao todo, os testes envolverão 17 mil voluntários em 13 cidades nas cinco regiões do Brasil. São convidadas a participar do estudo pessoas saudáveis, que já tiveram ou não dengue em algum momento da vida e que se enquadrem em três faixas etárias: 2 a 6 anos, 7 a 17 anos e 18 a 59 anos.
Os participantes do estudo são acompanhados pela equipe médica por um período de cinco anos para verificar a duração da proteção oferecida pela vacina.
A vacina do Butantan, desenvolvida em parceria com o National Institutes of Health (EUA), tem potencial para proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose e é produzida com os vírus vivos, mas geneticamente atenuados, isto é, enfraquecidos. “Com os vírus vivos, a resposta imunológica tende a ser mais forte, mas como estão enfraquecidos, eles não têm potencial para provocar a doença”, explica o diretor do Instituto Butantan, Jorge Kalil.
Nesta última etapa da pesquisa, os estudos visam a comprovar a eficácia da vacina.
Como será
Do total de voluntários, 2/3 receberão a vacina e 1/3 receberá placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem os vírus, ou seja, sem efeito. Nem a equipe médica nem o participante saberão quais voluntários receberam a vacina e quais receberam o placebo.
O objetivo é descobrir, mais à frente, a partir de exames coletados dos voluntários, se quem tomou a vacina ficou protegido e quem tomou o placebo contraiu a doença.
Os dados disponíveis até agora das duas primeiras fases indicam que a vacina é segura, que ela induz o organismo a produzir anticorpos de maneira equilibrada contra os quatro vírus da dengue e que ela é potencialmente eficaz.
Amazonianarede-Instituto Butantan