Mães eternizadas na memória de amazonenses

Arquivo pessoal

Rosângela Portela

O Dia das Mães é comemorado no Brasil no 2o domingo de maio

Da origem mitológica até os dias atuais, respeitadas as particularidades, no dia das Mães prestam-se homenagens à figura materna. Diante da pandemia que assola o país, muitos filhos estarão impedidos de irem aos cemitérios para homenagearem as mães que já partiram. Amazonenses relembram momentos marcantes ao lado das matriarcas.

O 2o domingo de maio (10) deste ano vai ser atípico. Com os cemitérios de Manaus restritos à circulação de pessoas, atendendo às diretrizes do decreto nº 4.801, de 11 de abril de 2020, a tradicional visita por ocasião do dia das mães está suspensa.

A pandemia do novo coronavírus forçou a todos o distanciamento social. Impedidos de visitarem as sepulturas das mães, nesse dia de homenagem a elas, filhos descrevem momentos que ficaram eternizados na memória.

Raimunda Abreu, a ‘Daíta’

“Saudade louca”, assim Socorro Abreu, professora, refere-se a sua mãe que partiu há seis anos. Dona Raimunda, mais conhecida como ‘Daíta’, viveu seus 85 anos ao lado da filha, com cumplicidade e amor, deixando marcas de saudades.

“Eu era a número 1 dela, e ela minha saudade louca”, disse Socorro e afirmou que a mãe adorava fazer amigos e festejar o aniversário, que algumas vezes teve como tema o carnaval, por conta da proximidade com a data festiva.

“Quando completou 84 anos, reunimos amigos e família, fizemos feijoada. Tinha karaokê, show do Jorjão e muita dança. No de 85 anos, um bailão de carnaval. Ela se divertiu muito. Foi o ano em que ela adoeceu. Ano da última comemoração”, lamentou.

Filha e netos no aniversário de 85 anos de Daíta

Daíta, Daíta pretinha, Raimunda ou Raimundinha era vaidosa, amiga e generosa. A Sherazade, tinha sempre mil histórias pra contar. ‘Causos’ eternizados, que estão atravessando gerações. Histórias que ela dizia serem verdadeiras.

No relato da filha, outras características marcantes. “A mãe tinha habilidade de ouvir, de aconselhar, de fazer as pessoas felizes. Sempre dizia algo para elevar a autoestima. Gastava horrores com recarga de celular para não perder uma novidade”.

Também disse que dona Daíta era ‘antenada’. “Acessava com ajuda o ‘queicebook’ e fazia conta como ninguém. Ela dizia: ninguém me engana não!”, revelou aos risos.

“Sinto falta do cheiro da bonequinha, da minha rainha, daquelas mãozinhas inseguras que apertavam a minha com força, com medo de cair.  3ª idade, melhor idade que nada!! Queria ter 10 anos a menos, minha mãe dizia.

Meu anjo se foi, minha picorrucha, minha passarinho. Se existem outras vidas, nós duas sempre fomos mãe e filha. Como conviver agora sem a minha outra metade? Ela foi a materialização do amor”, finalizou.

Dona Eulice, a ‘Lira’

Em outra memória, a aposentada Adelaide Lira revela características da mãe, dona Eulice, e narra curiosidades sobre a matriarca.

“Minha mãe tinha um coração bondoso, amava os filhos, muito extrovertida, gostava de festa e de cantarolar. Seu canto ia além do horizonte. Nem os 81 anos a impediam de rodar no salão.

A mamãe vivia a vida, ela era a expressão da alegria. Amo uma fuzarca e herdei isso dela. Mesmo debilitada, buscava aproveitar todos os momentos, e adorava uma paquera. Nem o tempo apagava a alegria de viver.”, revelou.

A filha conta que a mãe, quando mais nova, ganhou o apelido de ‘interbairros’,  pelo fato de ir a várias casas vender Avon, Christian Gray. Também porque adorava curtir o final de semana na casa de parentes.

Dona Eulice comemorando o aniversário da irmã, Alice

“Mamãe gostava de reunir os parentes, fazer festa, comida. Tinha sempre que ter música porque ela adorava dançar”, pontua.

Também conta que, com o tempo, dona Eulice foi apresentando doenças que a limitaram, então passou a se entreter com novelas antigas. Adorava Escrava Isaura. Às vezes, confundia ficção com realidade e protagonizava situações engraçadas.

“A mamãe passou os últimos dois anos de vida voltada para tratamentos e cuidados. Com princípio de Alzheimer, às vezes esquecia fatos recentes e trazia à tona situações que ocorreram anos atrás, parecia uma novela.

Personagens do passado participavam das histórias presentes. Era engraçado. Nunca perdia o humor, nem deixava de se preocupar com os filhos. Mesmo com a saúde debilitada estava sempre oferecendo ajuda”, revela a filha.

Origem do Dia das Mães

Os registros de homenagens ao dia das Mães iniciam na Grécia antiga, em alusão à Rhea, Mãe dos Deuses, passando pela Inglaterra, no século XVII, quando se dedicava o quarto domingo da Quaresma às mães das operárias inglesas.

A americana Ana Jarvis, do Estado da Virgínia Ocidental, abalada com a morte da mãe, iniciou a campanha para instituir o Dia das Mães, em homenagem a Ann Jarvis, sua matriarca. E, em 1914, os Estados unidos estabeleceram o Dia Nacional das Mães, que deveria ser comemorado sempre no segundo domingo de maio, costume esse que se estendeu a vários países.

A novidade chegou ao Brasil e, na década de 1930, o presidente Getúlio Vargas, via decreto, determinou o segundo domingo de maio como momento para comemorar os “sentimentos e virtudes do amor materno”.

A idealizadora do dia da Mães, Anna Jarvis, quando percebeu a comercialização que ocorria por conta da data, lutou, sem sucesso, pela abolição do feriado. O dia é comemorado em diversos países e se tornou uma tradição.

 @amazonianarede

Leia também:

Redes de dormir: um costume presente há séculos no Brasil

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.