III edição dos Jogos Interculturais Indígenas reúne cinco etnias diferentes

Um ritual na língua tucano para chamar o sol e abençoar a terra deu por aberta a III edição dos Jogos Interculturais indígenas, no sábado, 25, na Comunidade do Livramento, localizada a 25 minutos de Manaus.

A celebração, promovida pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Desporto, Lazer e Juventude (Semdej), reuniu uma média de 500 índios das etnias Baré, Tarianos, Tucanos, Miranas e Carapanas, que promoveram sua cultura e seus costumes através do esporte, da dança e da música.

“Nós pedimos aos nossos ancestrais energia e muito calor para tornar esta confraternização um momento proveitoso para todos. Hoje o que mais importa não são os resultados dos Jogos, mas sim a oportunidade de mostrar e valorizar nosso povo e nossa história. Nós precisamos criar possibilidades e apresentar ao mundo o que nossos antepassados deixaram de valioso”, disse o Cacique Asterio Baré, que comanda há quatro anos a comunidade do Livramento, do Rio Tarumã e do Tarumã Açu.

Mergulho, canoagem, peçonha, zarabatana, arco e flecha, arremesso de lança e cabo de guerra, corrida de 80 metros, corrida de saco, salto em distância, voleibol, futebol e natação foram as modalidades que movimentaram os Jogos. Para o coordenador do evento e gerente da Semdej, Eldo Gomes Cabral, a celebração conseguiu cumprir seu papel social.

“O Livramento é uma comunidade mista que precisa ser valorizada e nada melhor do que o esporte para trazer isto à eles. Essa é uma reserva indígena que pertence à Semmas, por isso eles não podem vender nada aqui. Eles plantam e caçam para comer. Logo, com os Jogos aqui, é possível eles mobilizarem sua economia e principalmente criar possibilidade para várias tribos. Este é um momento que valoriza estes povos e sua existência”, comentou o professor, ao confirmar a participação de 15 comunidades indígenas, totalizando uma média de 500 pessoas por dia nos Jogos.

Acostumados a correr no meio da mata, os índios tiveram que canalizar sua força e velocidade na corrida de 80 metros. Na categoria masculina, Kleison Coelho marcou 8seg49 e tornou-se o vencedor da prova. O segundo lugar foi ocupado por Elvys Thomas (8seg49) e o terceiro por Lindrei Santos (8min97).

“Sou rápido como uma flecha”, disse Kleison, que é morador da comunidade Praia da Lua e aos 11 anos pilota todos os dias, por dez minutos, uma rabeta para chegar ao Livramento e estudar. O garoto cursa o quinto ano da Escola Municipal São José I e apesar de ter se destacado como velocista, “quando crescer” pretende ser jogador de futebol.

“Sei que existe o Princesa do Solimões (time amazonense de Manacapuru) e quero muito poder atuar nele. Gosto de futebol e só vou para a cidade se for para ser jogador. Gosto de viver assim, no meio da mata. Aqui eu brinco e tenho meus pais por perto”, disse Kleison.

Uma “piscina” sem borda

Água clara, com cloro, num tanque d´água. Nada disso faz parte da realidade dos Jogos Interculturais Indígenas. Ao contrário. A “piscina” neste evento tem água escura, bichos e uma imensidão sem fim. Para enfrentá-la é preciso esperteza e conhecimento, e isso a pequena Jamiles Silva tem de sobra.

“Sempre me banho nesse rio. Já conheço e não tenho medo”, conta a menina de 11 anos, que não cansou de dar braçadas até o meio do Rio Tarumã. Hoje, a pequena “usou” o rio para competir, mas no dia-a-dia ela se refresca ali antes de ir à Escola Municipal São José I.

“Tem pessoas que quando visitam a gente, ficam com medo de entrar na água. Mas ela não faz mal a ninguém, nem os animais. Eu aprendi a nadar aqui e vou até o fundo, mas é preciso ser rápido”, destacou a pequena.

Livramento 1 leva a melhor no campo

O esporte mais popular do mundo não poderia estar de fora dos Jogos Interculturais. Com as equipes da casa se enfrentando – Livramento 1 e Livramento 2 – o público ficou bastante dividido na hora de torcer. E as equipes não decepcionaram, protagonizando uma partida repleta de suspense. O jogo que terminou empatado (1 a 1), foi para os pênaltis e o Livramento 1 foi que se deu melhor ao balançar cinco vezes a rede, enquanto a adversária marcou quatro. Os gols que garantiram a vitória vieram de Alexandre, Elvys, Paulo, Vitor e Elton.

Mas o futebol não faz só a cabeça dos índios pequenos. A esposa do Cacique, Yakusana, da tribo Mairuna, treina uma média de 30 meninos que compõem a Livramento e a Livramento 2. Segundo ela, em três anos, as duas equipes nunca perderam para os times das outras comunidades. Por isso, são temidas no campo.

“Tenho uma responsabilidade muito grande por ser a mulher cacique e desempenho um papel importante de técnica. Me sinto uma criança quando estou com esses meninos e é a melhor sensação do mundo. Eles têm potencial e não duvido que alguns daqui poderiam ocupar grandes times. Eles revelam nossa dignidade força e luta. São nossos guerreiros em campo e este é o melhor lazer deles”, afirma Yakusana, que é casada há 17 anos com Asterio Baré e é mãe de sete filhos.

(Semcom)

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