Enchente no Amazonas invade municípios e atinge em cheio Manaus

Enchente no Amazonas invade municípios e atinge em cheio Manaus
Enchente no Amazonas invade municípios e atinge em cheio Manaus

Amazonas – Nível do Rio Negro atingiu 28,90 m em Manaus nesta terça-feira (23). Na mesma data do ano anterior, a cota era de 26,74 m. O avanço da água sobre ruas e casas preocupa moradores da zona urbana, que têm a rotina afetada. Eles passaram a conviver com lixo, animais e risco de crianças caírem no rio. “A água é imprevisível”, diz morador que junta dinheiro para comprar madeira e elevar o piso de sua residência.

A cheia fez a capital entrar em situação alerta em 12 de maio. A construção de pontes de madeira foi iniciada em vários bairros. No interior a situação não é diferente, 27 cidades estão em emergência e mais de 51 mil famílias foram afingidas pelo avanço dos rios.

A Prefeitura de Manaus estima que, ao todo, cerca de 13 comunidades da Zona Rural e mais de 10 bairros devem ser atingidos pela enchente neste ano.

Da porta de casa, o auxiliar de limpeza Diego da Silva Feitoza, de 27 anos, acompanha o regime das águas. “Mansa e traiçoeira”, ela toma conta de algumas ruas do bairro Presidente Vargas, na Zona Sul.

No início do mês, Diego se reuniu com os vizinhos para construir uma ponte de madeira no beco onde ele mora, até a rua Walter Rayol. “A prefeitura construiu a ponte na rua. Em alguns becos eles também fizeram as pontes, mas no nosso não. Então, nós mesmo construímos”, disse o jovem que mora no local com mais sete pessoas que testemunham o avanço do rio da janela de casa.

Pontes e lixo

A estrutura erguida em madeira é a forma encontrada para os moradores entrarem nas suas casas. Além de dificultar o acesso até as residências, a subida do rio também expõe outro problema: a poluição. Um “tapete” de lixo e plantas aquáticas se forma em várias partes do rio e invade quintais e ruas alagadas.

Carcaças de eletrodomésticos, pneus, sacos, garrafas e objetos variados e até mesmo animais mortos. Todo o tipo de material descartado sem cuidado, bate à porta dos moradores. “Tem muito lixo acumulado. Com ele, vem muito carapanã, ratos, barata. É um problema. Quando a água invade a casa e para de subir, o lixo fica embaixo da maromba e o fedor é muito forte”, disse o morador.

Prejuízos e perigo

Com exceção de 2016, em todos os anos anteriores, a família sempre se prepara para enfrentar a cheia em maio. Diego economiza para poder comprar madeira e elevar a altura do piso da residência construíndo assoalhos e marombas. “Todo ano a gente sobe o piso. Chegamos a levantar de 1 metro a 1 metro e meio. Em 2015, a água subiu mais de 1m. A gente chega a gastar de R$ 500 a R$ 600 todo ano, porque a madeira apodrece e não dá para reaproveitar “, disse.

Apesar da água e do lixo já terem invadido o beco onde Diego mora, ele ainda não pode subir o assoalho de casa. “Estou esperando a liberação de dinheiro para poder subir o piso semana que vem. A água é imprevisível. Ela sobe rápido em uma noite. Se chove mais forte, ela sobe”,analisou.

Além de comprar madeira para o assoalho, o jovem calcula prejuízos de 2 mil com móveis e eletrodomésticos. Mas, o prejuízo financeiro com a cheia, não é a única dificuldade vivida pela família do jovem. “Como a casa é pequena, quando sobe o piso, fica difícil de andar. É perigoso as crianças caírem no rio. Já caíram, mas sempre teve alguém por perto para ajudar”, disse o jovem acrescentando que os filhos não sabem nadar.

Sair da casa por conta da cheia é um desejo antigo da família. “Já pensamos em nos mudar. Falaram que o governo vai retirar todo mundo, mas até agora nada. Tira uma família aqui, outra ali. E enquanto isso ficamos, porque não temos condições de comprar outra casa, ou mesmo alugar um lugar para ficar durante a cheia”, relatou Diego.

Muitos vizinhos dele abandonaram as casas por conta da cheia. “A minha tia mesma ia alugar uma casa, mas não conseguiu porque a água já invadiu tudo”, afirmou.

Raízes

Se uns contam os dias para poder abandonar de vez a comunidade que sofre todo ano com a cheia, outros arranjam jeito para continuar no local que carrega mais que a história de vida. É o caso do ex-jogador de futebol, Artur Cesar de Alencar, de 52 anos, que vive no bairro Presidente Vargas.

“Moro há 40 anos aqui com minha mãe e meu filho. Somos muito antigos aqui. Já vivemos muitas enchentes. Já estamos adaptados. Aqui, apesar da cheia, é um lugar tranquilo. Nosso vizinhos já se tornaram nossos amigos, todo mundo se conhece há muitos anos. Nossas raízes estão aqui”, disse o ex-jogador.

A mãe dele, Etelvina de Alencar, de 74 anos, se mudou para o bairro Presidente Vargas no final da década de 70. No local ela comemorou o crescimento e as vitórias da família. “Gosto muito de morar aqui. Aqui somos conhecidos. A gente sabe que tem muito bairro violento. Tenho medo de mudar e vir morar em um lugar com muita criminalidade. Aqui a gente não mexe com ninguém e as pessoas nos respeitam. Então, só é rezar para a enchente não vir forte”, revelou Etelvina.

A água já invadiu a sala da residência de Artur. Por isso, a família se adiantou para “subir o assoalho”. “Faz uns 4 dias que a águia entrou, foi muito rápido. É questão de segundos para a água avançar, se dá uma chuva, já influência”, disse.

Com o alto custo da madeira, o morador tenta – na medida do possível – reaproveitar o material. “Espero que a água não suba muito e não invada a cozinha. O preço da madeira esta muito caro. Estamos na expectativa de sair o bônus da enchente”, disse.

Estimativa

A previsão para este ano é que o Rio Negro alcance a marca máxima de 29,85 metros, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). A marca é a segunda maior dos últimos seis anos.

Segundo o CPRM, a cota mínima pode ser de 29,05 metros, mas pode variar entre 29,15 até a máxima estimada. O maior nível já registrado do Rio Negro foi em 2012, quando a cota das águas atingiu 29,97 metros.

Municípios em situação de emergência

  1. Guajará
  2. Ipixuna
  3. Eirunepé
  4. Itamarati
  5. Carauari
  6. Juruá
  7. Canutama
  8. Benjamin Constant
  9. Atalaia do Norte
  10. Tapauá
  11. Tabatinga
  12. Tonantins
  13. Santo Antônio do Iça
  14. Amaturá
  15. Anamã
  16. Anori
  17. Coari
  18. Iranduba
  19. Manacapuru
  20. Caapiranga
  21. Itacoatiara
  22. Tefé
  23. São Paulo de Olivença
  24. Alvarães
  25. Boa Vista do Ramos
  26. Beruri
  27. Careiro da Várzea

Municípios em situação de alerta

  1. Parintins
  2. Barreirinha
  3. Nhamundá
  4. Urucará
  5. Maués
  6. São Sebastião do Uatumã
  7. Jutaí
  8. Fonte Boa
  9. Uarini
  10. Codajás
  11. Manaquiri
  12. Autazes
  13. Silves
  14. Itapiranga
  15. Urucurituba
  16. Maraã
  17. Careiro Castanho
  18. Manaus

Municípios em situação de atenção

  1. Novo Airão
  2. Borba
  3. Nova Olinda do Norte

Amazonianarede-JAM- As fotos que ilustram a matéria, são de passadas e históricas enchentes no Amazocas

 

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