Cerimônia abre os IV Jogos Tradicionais Indígenas em Marudá (PA)

05-09indioAs 15 etnias que participam dos IV Jogos Tradicionais Indígenas na praia de Marudá, em Marapanim, nordeste paraense, se reuniram no local para a tradicional cerimônia do Acendimento do Fogo Ancestral, que faz a evocação dos espíritos para que as competições ocorram dentro da normalidade e sejam abençoadas pelo Grande Espírito dos indígenas.

Os índios chegaram com suas vestimentas, adereços e muita alegria. Todas as delegações subiram ao palco e mostraram suas danças ritualísticas. Depois que todas as etnias estavam sobre o palco, começou a acendimento do fogo, que é feito da mesma forma artesanal, sem usar fósforos ou outro tipo de processo inflamável, usando o atrito de dois pedaços de madeira. Esse mesmo artefato já é usado há algum tempo pelos índios, sendo que a última vez foi na convenção Rio + 20, em 2012, no Rio de Janeiro.

O presidente do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, Marcos Terena, leu durante a cerimônia um telegrama que recebeu do presidente das Organizações das Nações Unidas (ONU) Ban Ki-moon, no qual Moon dá as boas-vindas a todos os indígenas presentes na competição. “Sabemos que 15% do território brasileiro ainda é ocupado pelas etnias indígenas e isso é muito importante para a sustentabilidade e também para que a voz dos indígenas seja ouvida, assim como o coração da Terra”, disse no telegrama.

Após o acendimento do fogo ancestral, o mesmo foi transferido para uma tocha que foi levada, de carro, para a sede do município de Marapanim pelo tri atleta Claiton Silva, que natural do município. A tocha retornou à praça de Marudá, depois de 30 minutos, e foi acesa a pira olímpica, que será transportada, nesta sexta-feira, dia 5, no final da tarde, quando ocorrerá a abertura oficial dos IV Jogos Tradicionais Indígenas.

Marcos Terena também enfatizou a simbologia do fogo para os indígenas. “Esse fogo ilumina o caminho dos povos, é transformador e quando necessário, ele também destrói. Mas isso é também renovação”, disse Terena.

Para a titular da Secretaria de Estado de Esporte e Lazer (Seel), Renilce Nicodemos Lobo, os Jogos Indígenas já são um sucesso. “Estamos muito satisfeitos e ter os Jogos aqui em Marudá. Estamos felizes de estar realizando-os, depois que os indígenas tanto pediram ao Governo do Pará para que ele retomasse esse importante evento que valoriza a cultura e tradição indígena. Esperamos um público de cerca de 50 mil pessoas nos seis do evento e temos certeza que vamos ter um sucesso muito grande”, disse Renilce.

Os IV Jogos Tradicionais Indígenas são uma promoção do Governo do Pará, por meio da Seel, e serão realizados até o dia 10 de setembro, com competições tradicionais indígenas na arena na praia de Marudá, e os esportes não tradicionais, como futebol, canoagem e natação, em distritos de Marapanim. Toda a programação é aberta ao público gratuitamente.

Reunião

Uma reunião geral entre lideranças de todas as 15 etnias – 13 paraenses e duas convidadas – e os organizadores dos IV Jogos Tradicionais Indígenas do Pará ocorreu nesta quinta-feira (4). O objetivo foi dar as boas-vindas e também tornar as lideranças cientes dos regulamentos do alojamento em que os indígenas estão hospedados. Entre as regras está a proibição de bebidas, drogas e cigarros.

A reunião começou com as explanações de Marcos Terena, do Comitê Intertribal Memória e Ciência Indígena, e da coordenadora geral dos jogos, Ana Júlia Chermont. “Todas as etnias já chegaram. Esta reunião é para lhes dar as boas-vindas e para repassar às lideranças os regulamentos que objetivam tornar a permanência deles a melhor possível. Tudo aqui foi projetado e construído pensando neles, nas necessidades deles. Nosso maior objetivo é que se sintam em casa e que saiam daqui felizes”, disse ela.

Marcos Terena aproveitou para incentivar os índios que participarão das competições esportivas. “Não esqueçam que os melhores atletas daqui poderão participar dos jogos mundiais, em Tocantins, no ano que vem”, lembrou. Em seguida, cada uma das lideranças indígenas tomou a palavra. Todos se comprometeram em zelar pelo complexo de 16 ocas construído especialmente para abrigar os atletas e demais participantes indígenas. Muitos elogiaram a estrutura.

“Já participamos de outros jogos, mas estamos vendo que os deste ano melhoraram muito. Está tudo muito bem organizado. Até o acesso ao alojamento. Estamos gostando muito”, disse Mahu Aikewara. “Quanto aos regulamentos, nosso povo vai se empenhar para cumprir tudo. Vamos estar atentos principalmente aos jovens, que precisam aprender a zelar por tudo e pela nossa cultura”, continuou.

A reunião informou ainda que, em caso de qualquer problema, os hóspedes indígenas devem se dirigir às ocas da administração ou de saúde, instaladas dentro do próprio alojamento. Também estará à disposição dos índios uma oca onde eles próprios vão vender seus artesanatos, além de um infocentro, cinemateca e exposição fotográfica, localizados na praia de Marudá.

Chegada

A maior parte das etnias chegou entre a noite de quarta-feira (3) e a madrugada de quinta. Depois de instalados em suas respectivas ocas, eles fizeram danças na área livre existente no meio do alojamento, como forma de saudar as demais etnias e também para levar boas energias ao local.

Um grupo de cerca de 20 homens da etnia Araweté fez, de braços atados, uma dança de acasalamento. “A música que cantamos nessa dança de acasalamento é sobre um pássaro que muda de lugar. Nosso povo conhece esse pássaro como Irã. Na língua de vocês quer dizer ‘garça’”, explicou um dos jovens envolvidos na apresentação.

Os Assuruni, da região do Xingu, que participam do evento com 30 adultos e doze crianças, também dançaram logo após a chegada. Eles apresentaram o ritual do Turé, que consiste numa dança cadenciada em que se tocam espécies de flautas feitas com tabocas. Antes, porém, fizeram um breve ritual pedindo aos seus deuses autorização para tocar as tabocas. “Nunca tocamos sem pedir permissão aos deuses”, informou Ajê Assurini, liderança da etnia. “O Turé é uma dança muito importante para nós.

Dançamos quando estamos satisfeitos, felizes, em vários momentos, ao longo do ano. O principal é o Turé da colheita do milho, em janeiro, quando realizamos sempre uma grande festa”, explicou a liderança.

Na apresentação realizada no alojamento dos jogos, o cacique Mureíra também participou. “Ele é o nosso cacique mais velho. Deve ter uns 80 anos. Está acompanhado da mulher dele, Maracawáa. Todos dois também são pajé”, acrescentou Ajê.

Por: Dedé Mesquita – Secretaria de Estado de Esporte e Lazer PA

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