Um mergulho para a liberdade: Amazonas Energia faz soltura de quelônios no rio Uatumã

Amazonianarede – Mário Freire – Fotos – Claudia Jatahy

S. Sebastião do Uatumã, AM – A experiência única de ter nas mãos tartarugas e tracajás recém-nascidos para devolvê-los ao seu verdadeiro habitat, os rios da Amazônia, foi vivida mais uma vez no domingo e segunda-feira (24 e 25), por crianças e adultos das comunidades Nossa Senhora do Livramento e Maracarana, no município de São Sebastião do Uatumã, a cerca de 270 quilômetros de Manaus.

Desta vez, o Projeto Quelônios do Uatumã, desenvolvido pela Eletrobrás Amazonas Energia na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã, soltou mais de 13 mil filhotes, o que elevou para mais de 24,4 mil o número de tartarugas, iaçás e tracajás soltos em pontos estratégicos do rio Uatumã em 2012.

No sábado (23), uma expedição organizada pela Eletrobrás Amazonas Energia e formada por pesquisadores, gestores de programas de preservação ambiental, jornalistas e atores do Teatro Popular do SESI, partiu de Manaus com destino a uma das áreas mais protegidas do planeta, a Reserva Biológica do Uatumã.

Era o ponto inicial da 15ª Soltura dos Quelônios do Uatumã, programação que acontece anualmente como resultado de quatro meses de monitoramento da desova das espécies nas margens do rio Uatumã e dos criatórios do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), da Amazonas Energia, onde cerca de 400 tartarugas e tracajás adultos procriam.

Recepção calorosa

Em Nossa Senhora do Livramento, a expedição foi recebida com fogos logo nas primeiras horas da manhã de domingo, o que sinalizava o clima de festa para a comunidade.

Depois do café da manhã coletivo, o tema do dia foi apresentado na peça “Um Mergulho para a Liberdade”, com o elenco do Teatro Popular do SESI.

Na peça, de autoria de Wagner Melo, um grupo de amigos consegue salvar das garras de um vilão alguns quelônios fadados a virar “tartarugada”, nome genérico de uma variedade de pratos típicos feitos com a carne desses animais.

População crescente

De acordo com o coordenador do Projeto Quelônios do Uatumã, Paulo Henrique Oliveira, já é possível dizer que a população de quelônios, principalmente de tracajá, aumentou consideravelmente na região nos últimos anos. “Ao contrário da tartaruga e do iaçá, que são espécies mais andarilhas e seguem para outras regiões, o tracajá permanece no seu habitat, por isso é mais visível”, diz ele.

Em sete anos como coordenador do projeto, Paulo Henrique acredita que mais de 120 mil filhotes, principalmente das três espécies mais conhecidas, foram soltos na Reserva. E isso, segundo ele, também se deve ao envolvimento de moradores, como o agricultor Adalberto da Costa Almeida, 55, que assumiu a função de tratador de pelo menos a metade dos filhotes resgatados para a 15ª Soltura.

Emoção na soltura

Numa faixa estreita de praia à margem do rio Uatumã, começa a soltura dos filhotes, a maioria medindo entre 5 e 8 centímetros de comprimento e diferenciada entre si pelo formato e cores da cabeça e do casco. Adalberto Almeida, o guardião dos recém-nascidos, mostra aos jornalistas as diferenças no casco do iaçá, com protuberâncias na base, e brinca com a sonoridade do nome, “iaçá, não vais assar”.

Na fase de reprodução, que começa em agosto e vai até novembro, os quelônios fazem seus ninhos na areia das margens do rio, locais que são monitorados de perto por tratadores como Adalberto. Depois do nascimento, os filhotes são recolhidos e mantidos em berçários por um período que vai de duas semanas a um mês. Depois são soltos no rio Uatumã.

Para alguns, a emoção de conduzir os filhotes até a água e vê-los desaparecer rio adentro pode mudar uma cultura há muito tempo disseminada entre as populações amazônicas, a de usar esses bichinhos como animais de estimação. E, pior ainda, quando crescidos, como iguaria refinada. A tartarugada, definitivamente, saiu do cardápio por aqui.

Educação ambiental

A soltura de quelônios do Uatumã é realizada pelo Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA) e pela Associação Agroextrativista das Comunidades da RDS Uatumã, com apoio do Centro Estadual de Unidades de Conservação (Ceuc) e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SDS).

Pela primeira vez numa expedição de soltura de quelônios, o comandante de Policiamento Ambiental da Polícia Militar do Amazonas, tenente-coronel Ricardo Gomes, disse que uma parte importante do trabalho realizado por seu grupamento é feito pelo Núcleo de Educação Ambiental, que desenvolve atividades transversais às do ensino fundamental na rede pública de Manaus. “A melhor forma de preservar, não só os animais em extinção, mas o meio ambiente como um todo, é pela educação”, disse.

Com seus 560 mil hectares de área contínua, a Reserva Biológica do Uatumã foi criada para amenizar os impactos ambientais causados pela construção da Usina Hidrelétrica de Balbina, inaugurada em 1989, a 180 quilômetros de Manaus, no rio Uatumã. Atualmente, a Rebio abriga 20 comunidades e, segundo o governo, é aberta apenas à visitação de pesquisadores e ações de educação ambiental. É considerada área prioritária à manutenção da diversidade biológica da Amazônia.

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