Saracá, a Formiga Branca e Brava da Amazônia

Dona Raimunda Saracá, "coisa melhor não há"

Tatiana Sobreira

Mulheres da Amazônia

Escrever para jornal, revista, portal, ou outro veículo de comunicação de grande circulação e acesso por milhares deve ser uma experiência bem desafiadora, certo?

Aperta em CONFIRMA e sem dó!!

Mas, como boa leitora, partilharei textos do meu dia a dia e de boa parte que vi, além das experiências na Amazônia, por onde viajei pelo mundo, reportagens, comunidades e pessoas que possibilitaram um novo significado à minha vida  e mudanças na visão de mundo.

E, não há outra palavra para descrever, não somente as minhas experiências, mas também toda esta minha nova etapa de vida: DESAFIO!

A viagem que gostaria que fizessem comigo é para compartilhar o universo de muitas mulheres do Norte que precisam ser contadas e mostradas para o restante do Mundo.

Irei começar com esta mulher que recebe um nome lindo:

SARACÁ, A FORMIGA BRANCA E BRAVA DA AMAZÔNIA.

No mês de Fevereiro de 2012, recebi um presente da minha amiga Jacira Oliveira. À época, Jacira era a diretora do programa “Vozes da Floresta”, na rádio cultura do Amazonas. Eu fazia parte da produção e dividia a apresentação do programa com meu amigo, Sávio Santos.

O que você me diz?

Não foi um presente?

Olha a pauta: Cobertura da inauguração de um restaurante em uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro (RDS Rio Negro).

E olha só que incrível, a Reserva faz parte do maior programa ambiental do mundo promovido pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), por meio do programa Bolsa Floresta e seus 4 componentes que são os Bolsa renda, social, associação, familiar. Atualmente são atendidas 15 Unidades de Conservação sendo 11 Reservas, 2 Resex, 1 APA e 1 Florest Maués.

Cedo, passaram em meu prédio. No carro, eu, Cleber (cinegrafista) e Toga como motorista. Na cabeça de cada um, um monte de emoções e aventuras garantidas pela frente.

Rumo ao Pier do Tropical Hotel, paramos no meio do caminho e tomamos aquele café típico do Amazonas:  sanduíche de tucumã e queijo coalho, o famoso x-caboquinho bem porrudo, acompanhado de um copo grande de café com leite quentinhos.

De bucho cheio, chegamos ao Pier do Hotel e esperamos o restante da equipe para zarpar, pontualmente, às 9h.

Como sempre, navegar nas águas da Amazônia, no caso o rio Negro, é renovar os olhos com a perfeição. A beleza agiganta-se para onde quer que olhemos naquele mar de água doce, e, qualquer som (além da voadeira), encaixa na trilha e ajuda a compor esse teatro gratuito ofertado pelo Criador.

A Reserva

A Reserva fica a 26 km de Manaus e leva em média 1h30 de voadeira.

Faz parte das terras de Anavilhanas, o maior arquipélago de águas doce do mundo.

Que paraíso!

Assim que aportamos, os comunitários estavam na beira do barranco. Todos nós ansiosos pela hora mais esperada do dia: a inauguração do restaurante Encanto do Saracá.

O local era um encanto e bem no meio da floresta.

O visual e quietude do local, os moradores de uma verdade estampada nos mínimos detalhes, nos rostos, risos francos, tímidos, combinavam com a exuberância das terras.

Dona Raimunda Saracá

A primeira pessoa a nos receber é a figura mais emblemática do local e que deu o título do meu primeiro texto aqui.

A mulher que decidiu adotar o local como seu há 34 anos à época que fui ( em 2019, completaria 41 anos no local).

Além de fundadora da Comunidade, é também administradora do restaurante, professora, dona de casa, e, nas horas vagas, conselheira de todos que moram na comunidade e aportam por lá.

Dona Raimunda Saracá e, como a mesma diz em rima: “coisa melhor não há”,  é o retrato da mulher da região norte do País. Com uma beleza que vem de dentro, exala força por todos os poros. Uma mistura negra, nordestina, índia, a cara do Brasil, a pele e força da Amazônia.

Quando começamos a conversar, um bate-papo gostoso, revelava detalhes da menina, mulher e a firmeza das Amazonas que ajudaram a construir cada família ribeirinha do Norte do Brasil. Sem essas personalidades, a Amazônia seria meramente uma Natureza sem Natureza Amazônica. Ela é uma resistência ao tempo. Não uma matemática complexa e inútil. Mas um luxo a olhos vistos de tanta emoção que aflora em lágrimas que escorrem dos relatos e mistérios saídos daquela Saracá. Creio que, na Amazônia, sempre tem uma guerreira dessas com cada palavra de carinho para semear, por meio da oralidade, todas as histórias que ainda não sabemos e precisamos compartilhar.

Aqui e acolá, enquanto andávamos pela Comunidade, ela interferia na reunião entre moradores. Esqueci de mencionar que ela também é presidente de uma associação que coordena 19 comunidades do entorno. Na nossa visita, ela recebeu das mãos de um vereador uma placa que estampava seu nome. Toda orgulhosa, ergueu a placa e foi fixada no chão junto com a faixa do restaurante.

Mesa farta, crianças dançavam quadrilhas e bumbás, vestidas com adereços e fantasias a caráter, e contando os minutos da chegada da próxima comitiva e convidados para a tão esperada hora da inauguração oficial.

Quando menos esperávamos, ela desce as barranqueiras da comunidade, ao avistar as lanchas que se aproximam do atracadouro. Ela, feito criança, recepcionou com abraços e sorrisos emocionando a todos.

Agora sim.

Inauguração, almoço servido, festa na Comunidade e histórias para contar.

“Mulheres da Amazônia”, feito eu e você; cabocla nortista ou não temos esse olhar diferente sobre a Amazônia, o olhar de amor pelo Amazonas.

 

Aqui, eu deixo a minha dica de amor e pauta do bem.

Prepare a sua família, façam uma visita para esse povo da Comunidade do Saracá, conheçam a Dona Raimunda e seus familiares.

São apreciadores de um bom peixe,  de quietude, amor e do turismo Comunitário? Toma-lhe Saracá!

E não venham com a desculpa de que não tem lancha ou embarcação, vão até a Marina do Davi, próxima ao Tropical Hotel e paguem por uma ida até o Saracá. Preço bom, viável e inesquecível.

Que tal surpreender a gata ou a família?

Se for, vê se convida!

Telefone Recanto do Saracá: (092) 91736049

amazonianarede

 

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