Projeto para citricultura no AM busca soluções para sustentabilidade dos pomares

(Reportagem e foto: Síglia Souza e Felipe Rosa)

Um amplo projeto de pesquisa e transferência de tecnologia está sendo coordenado pela Embrapa Amazônia Ocidental, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para viabilizar alternativas de manejo conservacionista e sustentável para pomares cítricos (de laranja, limão e tangerina) no estado do Amazonas.

O projeto inclui tanto ações de pesquisa voltadas para gerar e adaptar tecnologias para as condições locais quanto a capacitação de produtores em boas práticas agrícolas, com fins de consolidar um sistema produtivo que promova a redução dos riscos de contaminação ambiental, do homem e dos frutos produzidos.

O projeto é financiado pela Fundação e Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), através do Programa de Apoio à Consolidação das Instituições Estaduais de Ensino e Pesquisa (Pro-Estado). Estão envolvidos diretamente no projeto 35 profissionais das seguintes instituições: Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus-AM), Embrapa Mandioca e Fruticultura (Cruz das Almas-BA), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Agência de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal do Amazonas (ADAF), Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Secretaria de Estado de Produção Rural do Amazonas (Sepror).

Em um esforço conjunto pretende-se solucionar vários problemas tecnológicos que ameaçam a citricultura no Amazonas. O cultivo de citros é um dos ramos mais promissores da fruticultura no Estado, envolvendo 2.400 produtores nos municípios vizinhos a Manaus, como Iranduba, Rio Preto da Eva, Manacapuru, Itacoatiara, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Careiro.

A pesquisa busca gerar conhecimento científico adaptado ao ecossistema amazônico, principalmente para as condições locais, que ofereça alternativas para manejo adequado do solo, manejo de coberturas vegetais/adubosverdes, manejo e controle de plantas infestantes, nutrição e adubação de citros, entre outras questões.

Entre os problemas que desafiam a citricultura no Estado, o pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, José Eduardo de Carvalho, cita que 99% dos plantios de citros são feitos em cima de apenas uma variedade de porta-enxerto, que é o limão-cravo. “Isso não dá sustentabilidade e é um risco grande, pois se vier uma doença pode arrasar essa citricultura”, afirma. “Por outro lado, uma variedade só para mercado também não dá uma sustentabilidade mercadológica para o produtor”, complementa.

Diante desse problema, entre os estudos realizados pelo projeto destaca-se a avaliação de combinações de copas e porta-enxertos de citros introduzidas no Amazonas e que se mostram com alto potencial de adaptabilidade ao ambiente, tolerância a pragas e permitem aumentar as opções do citricultor na oferta de frutos.

Está sendo feito experimento para avaliação dessas novas combinações de copas e porta-enxertos em área do produtor rural Sebastião Siqueira de Souza, no município de Rio Preto da Eva (a 90 km de Manaus). O agricultor, que trabalha na área de citricultura há 13 anos, e conta com 225 hectares de área plantada, destaca que o estudo será importante para mostrar novas alternativas para a citricultura regional. “Hoje temos um problema seríssimo, porque a grande maioria dos pomares tem como porta-enxerto apenas o limão-cravo, e ele é um dos mais suscetíveis a pragas e doenças, como a gomose. Além disso, esta possibilidade de diversificar as combinações permitirá a produção da fruta o ano todo, porque tem variedade que é precoce, semiprecoce, de meia estação, tardia e supertardia”.

O experimento também contempla a avaliação de variedades de porta-enxerto “ananicantes”, que formam uma arquitetura de copa menor. Para o produtor, esta é uma boa opção para aumentar a produtividade da propriedade. “No passado, nós trabalhávamos aqui em uma densidade de 204 plantas/ha. Hoje já trabalhamos com 571 plantas/ha. Caso estas variedades que estão sendo testadas se adaptem bem aqui, nós poderemos aumentar esta densidade para 700, 800 plantas/ha. Ou seja, em uma mesma área você produz muito mais. Isso vai dar um lucro maior, sem contar que não será necessário abrir novas áreas de floresta”, destacou Sebastião. Outros problemas a serem enfrentados são o uso inadequado do solo e alto uso de agrotóxico no controle de plantas infestantes. Para responder com alternativas a essas questões, o projeto conta com estudos para geração, adaptação e adoção de tecnologias poupadoras de insumos químicos, priorizando métodos biológicos de controle. O projeto também busca definir para as condições amazônicas um modelo de manejo do solo com foco em práticas agrícolas sustentáveis.

Entre as ações que estão sendo feitas inclui-se, ainda, o monitoramento da ocorrência de importantes doenças que afetam plantios de citros em outras regiões, como HLB e CVC e que ainda não ocorrem no Amazonas. Além disso, pretende propor a redução de aplicações de agrotóxicos em pomares de citros através de técnicas de manejo integrado de pragas.

O coordenador do projeto, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, Marcos Garcia, cita que estão previstas capacitações aos produtores em de boas práticas agrícolas, para controle de pragas, para otimizar insumos como adubos químicos e para reduzir o uso de agrotóxicos.

O atual projeto dá continuidade e amplia as ações de um projeto anterior, denominado “Desenvolvimento da Citricultura e implantação do modelo de Produção Integrada no estado do Amazonas”, também realizado sob coordenação da Embrapa Amazônia Ocidental, com financiamento da Fapeam, e participação de vários parceiros, com ações que foram realizadas sobretudo no município de Rio Preto da Eva, com várias capacitações para produtores e técnicos.

O coordenador do projeto destaca que é possível ver resultados do projeto anterior a partir de mudanças entre produtores de Rio Preto que participaram das capacitações oferecidas pelo projeto passado e já adotam boas práticas agrícolas. “Hoje eles têm uma visão diferente, embora não estejam ainda trabalhando em um sistema de Produção Integrada, mas estão em transição”, afirma Marcos Garcia. Um exemplo disso é que muitos produtores deixaram de basear-se em “calendário” para aplicação de produtos contra pragas e estão passando a fazer monitoramento para observar se há necessidade de aplicação, fato que reduz o uso de agrotóxicos.

Nas ações do projeto atual, serão trabalhadas várias frentes, desde o melhoramento envolvendo variedades para porta enxerto, além de questões relacionadas à fitossanidade, manejo e conservação de solo, manejo de cobertura, manejo de plantas infestantes, nutrição e adubação de citros. As capacitações vão apresentar os resultados dos experimentos que estão sendo feitos. “Nessa fase se espera levar para o produtor a tecnologia já existente e fazer as adaptações de tecnologias que são necessárias para o Estado. Essas adaptações serão através de pequenos experimentos feitos junto ao produtor, com a ideia de usar essas áreas para dia de campo e unidades de demonstração”, explica Marcos. Entre as novas ações, o projeto conta ainda com estudo sobre os sistemas de produção nos novos municípios onde vai atuar, para inclusive definir as prioridades de capacitação.

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