Procurador e entidades federais apontam abuso no caso do reitor da UFSC que se matou

Reitor da UFSC Luis Carlos Cancellier foi encontrado morto em shopping de Floianópolis (Foto: Eduardo Guedes de Oliveira /Agência AL)

RIO – Um dia depois de o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, ser encontrado morto num shopping de Florianópolis, entidades federais emitiram nota de pesar na qual criticam um possível abuso das autoridades na condução das investigações da Operação Ouvidos Moucos, que apura suspeita de desvio de recursos dos cursos de Educação a Distância (EaD) da instituição.

O procurador-geral do Estado, João dos Passos Martins Neto, também pediu “responsabilidade civil” das autoridades judiciais e policiais pelos “danos psicológicos” que em sua visão foram causas do suicídio, como a prisão temporária e o afastamento do cargo de reitor da UFSC. Martins Neto era amigo pessoal do reitor – os dois lecionaram juntos durante décadas no curso de Direito da UFSC.

“A morte de Cancillier enluta Santa Catarina pela perda de um homem digno, de poucas posses, que devotou seus últimos anos à nobre causa do ensino. (…) Que o legado do professor Cancillier seja, em meio a tantos outros, o de ter exposto ao país a perversidade de um sistema de justiça criminal sedento de luz e fama, especializado em antecipar penas e martirizar inocentes, sob o falso pretexto de garantir a eficiência de suas investigações”, escreveu o procurador-geral.

Em nota conjunta, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e a Associação Nacional de Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) lamentaram a morte do reitor e manifestaram “absoluta indignação e inconformismo com o modo como o reitor Cancellier foi tratado por autoridades públicas ante a um processo de apuração de atos administrativos, ainda em andamento e sem juízo formado”.

Ainda no documento, as entidades dizerm ser “inaceitável que pessoas investidas de responsabilidades públicas de enorme repercussão social tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal”.

ENTENDA O CASO

O reitor foi preso no último dia 14 por obstrução de Justiça. Ele tentava tirar a investigação do caso da Corregedoria da UFSC para a Procuradoria, órgão ligado à Advocacia-Geral da União de assessoria jurídica à universidade. Além disso, ele teria pressionado a professora que testemunhou contra ele no inquérito interno na corregedoria.

O corregedor Rodolfo Hickel do Prado vinha acusando o reitor de pressioná-lo, de tentar barrar a investigação em curso, e seu depoimento à PF foi importante para a decisão judicial. O reitor vinha afirmando em entrevistas que a discussão sobre se o caso deveria ser investigado pela Corregedoria ou pela Procuradoria da universidade era eminentemente técnica e jurídica.

O corregedor não chega a acusar diretamente o reitor de estar entre os que receberam dinheiro desviado, mas ressalta que a investigação estava em curso e era uma suspeita. Em entrevista ao Diário Catarinense”, no último dia 19, Prado respondeu sobre que motivo imaginava que o reitor tivesse para obstruir as investigações. “Acredito que, e isso é mera suposição, foi para tentar proteger alguns de seus pares, ou até mesmo ele (Cancellier). Mas não chegamos a uma conclusão (sobre as condutas dos investigados), o processo está em trâmite ainda”, declarou.

Segundo o inquérito policial nº 419/2016 – SR/PF/SC, Cancellier nomeou no âmbito do EaD os professores do grupo que mantiveram a política de desvios e direcionamento nos pagamentos das bolsas do EaD; procurou obstaculizar as investigações internas sobre as irregularidades na gestão de recursos do EaD; e pressionou para a saída da professora Taisa Dias, que denunciou a história à Corregedoria, do cargo de coordenadora do EaD do curso de Administração.

Em seu depoimento à PF, Taisa afirma que levou as denúncias de desvios primeiramente ao reitor, mas que Cancillier não tomou providência, e passou a ser pressionada a deixar o cargo. Diante disso, diz à PF, ela levou o caso à Corregedoria.

AMAZÔNIANAREDE-AGÊNCIAOGLOBO

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