Oscarino & “Peteleco” e suas histórias

(Amazonianarede – Osny Araújo)

Qual o habitante de Manaus nascido nos anos 50/60, como o repórter, que passou pela rua Marques de Santa Cruz rumo ao Mercado Adolpho Lisboa, não encontrou um verdadeiro teatro a céu aberto e de cara com o ventríloco Oscarino e o seu famoso boneco Negro, “Peteleco”, contando piadas e cantando paródias criadas pelo próprio Oscarino.

É só puxar um pouco pela memória que todos e todos se lembrarão do debochado “boneco” que gostava e gosta nos seus shows de ser brincalhão e irreverente.

Recentemente, o repórter encontrou por acaso com o Oscarino Farias Farjão e conversando sobre a sua arte, resolvi alongar o papo que rendeu esta matéria contando um pouco da vida desse artista caboclo, viajado pelo Brasil e o do seu boneco favorito, o “Peteleco”, que continua alegrando crianças e adultos por onde chega ou passa.

DO CATALÃO PARA O BRASIL

Oscarino é um cara de bem com a vida, brincalhão, ou melhor como ele gosta de dizer “esculhambado”, por isso se considera de “um homem feliz e realizado”, mas lembra que sua vida até se tornar o artista conhecido e admirado que é, passou por pedaços muito difíceis na vida e garante que tudo o que aconteceu de bom, “ foi porque Deus me deu esse dom e nasci artista para contrariar um pouco o meu velho pai que queria me ver médico ou advogado, mas ainda assim, sempre apoiou a minha arte”.

Casado pela terceira vez, após ficar viúvo e uma separação, o artista hoje, no terceiro casamento que já dura mais de 30 anos, com a dona Orlandina da Silva Varjão, que segundo ele casamento que deu certo, “por isso a suporta por mais de 30 anos”.

Ao todo conta que tem 12 filhos, 50 netos e 14 bisnetos e garante que o seu jeito brincalhão que é feliz, por isso, é feliz e continua curtindo muito a vida e garante que para ser feliz não é preciso fumar drogas, fazer coisas erradas e ser rico, “ Para que isso ocorra, basta ter Deus no coração, respeitar as pessoas e ser de bem com a vida”.

Caboclo nascido na zona rural de Manaus, no Catalão, ainda adolescente veio morar em Manaus acompanhado dos pais, mas confessa que pouco estudou , só até o chamado 4° ano primário e tudo o que tem e sabe, deve a Deus e claro, também ao Peteleco e alguns amigos que o ajudaram como Robério Braga, Átila Lins, Amazonino Mendes e Bernardo Cabral.

“Foi uma vida muito difícil, mas felizmente tudo foi superado e hoje posso dizer que tive sucesso, mostrei a minha arte em quase três mil municípios brasileiros, incluindo várias capitais, além de me apresentar em vários teatros em Manaus e shows particulares, passei por todas as televisões de Manaus mostrando o meu trabalho junto com o “Peteleco” e também nas TVs Globo e do SBT, o que tornou a mim e ao “Peteleco” conhecidos em todo o Brasil e a partir daí, a minha vida começou a melhorar, deu para construir a minha casa na Praça 14 de Janeiro, comprar carro e o meu trabalho passou a ser muito valorizado após ter feito uma entrevista no Programa do Jô. “A partir daí os meus shows foram inflacionados” – brinca.

Hoje, convalescendo de um acidente doméstico, afirma que continua a trabalhar com a sua arte e recebe uma ajuda do Governo do Estado, uma pensão e a aposentadoria como servidor da Assembleia Legislativa do Estado.

“Hoje – disse – posso afirmar que vivo bem, mas agradeço a esses amigos e políticos que me ajudaram e muito. Como eu só vivia viajando, ninguém me dava emprego aqui, mas esses políticos me deram a mão e me fizeram permanecer em Manaus e hoje estou aposentado graças a eles” .

FAMÍLIA DE BONECOS

Além de três mulheres, netos e bisnetos, Oscarino, também tem uma “família de bonecos”, composta por Chiquinho (o mais velho), Marinheiro, Charles e xodó e caçula “Peteleco”, o único que ainda está agregado a família, os demais, segundo o próprio artista sumiram da sua vida e ficaram apenas as lembranças.

Pedimos para ele falar um pouco sobre a história do boneco negro e o artista não se fez de rogado e afirmou: “O Peteleco foi o meu quarto boneco. Na verdade, ele nasceu com outro nome e foi idealizado para ser o vovô Bastião, que seria para dar conselhos às pessoas e com isso, certamente eu iria morrer de fome, porque o povo gosta é de coisas engraçadas de esculhambação e não de conselhos e foi aí que entrou o dedo do meu velho pai.

Numa conversa que tivemos, ele sugeriu que o negrinho fosse batizado de “Peteleco”, uma gíria cabocla que significa uma pancada mal dada, geralmente próximo a orelha ou no pé de ouvido, como dizem e foi assim que surgiu o nome Peteleco, uma boneco negro mal criado, malvado educado, irreverente que os, esculhambado, que até hoje só pensa em levar vantagem em tudo o que faz e pensa. Em função do nome, resolvi criar uma personalidade para o boneco, ou melhor, duas personalidades, uma para trabalhar para adultos, com piadas mais fortes e pesadas que os adultos adoram e outra com um ar inocente para programas infantis, especialmente apresentados em aniversários de crianças e a sua cor negro, é uma homenagem a cor do meu pai” – disse.

Oscarino lembrou ainda, que o aniversário de Peteleco é 15 de maio. “Ele nas céu exatamente no dia 15 de maio de 1957 e quem quiser dar um presente a ele é só contratar para um show. Esse presente sei que ele e eu vamos gostar muito “ – risos.

PIADAS E PARÓDIAS

Sempre com a conversa entrecortada por uma brincadeira em forma de piada, Oscarino fala com orgulho da sua parceria vitoriosa junto com o “Peteleco”.

Garante que não tem em mente o tamanho das suas criações em piadas e paródias ditas e cantadas pelo “negrinho”, todas de sua autoria. “Não dá para somar. Não tenho registrado nada em papel. Todo o repertório de piadas e paródias apresentadas pelo “Peteleco”, são criações minhas e está tudo na cabeça. “Na verdade, nós trabalhamos na base do mais puro improviso e sempre o boneco mal educado arruma um jeito de provocar o público”.

Oscarino costuma dizer para os amigos e até mesmo nas suas apresentações que “artista não é cidadão” e nesta matéria ele explica o porque.

“O artista, geralmente nasce do nada, por isso talvez seja muito difícil encontrar um que tenha nascido rico, em berço de ouro. Um artista como eu, que veio do nada, la das barrancas do Catalão, que trabalhou na infância e juventude como tapioqueiro, engraxate e garçom de botequim, cresceu e venceu na vida apenas pela vontade de Deus, por isso, costumo proclamar que artista não é cidadão, pelo fato de não ser ninguém na vida. Por isso, talvez me considere um artista que não presta e uma coisa que não presta, não vale nada, mas tem utilidade. Na verdade, sou um caboclo artista que deu muita sorte e que conseguiu vencer na vida, cosia que não é fácil pra ninguém”.

Disse ainda que nas apresentações dupla em espetáculos, costumo dizer que “eu sou o artista e o Peteleco” é a atração e assim vamos caminhando pelos difíceis estradas da vida.

DOIS HERDEIROS

Dos doze filhos, Oscarino afirma que apenas dois herdaram um pouco da sua veia artística. “Milha filha Rosana é cantora e tenho um outro que é baixista, mas posso afirmar que de fato o único artista da família sou eu que até o momento não sei o que é trabalhar com seriedade e quem vive dessa forma, só pode mesmo ser um artista” – arremata.

Segundo ele, o mais gostoso de ser artista e a admiração, a amizade e o carinho que você ganha do povo. “Isso é gratificante e fantástico. É bom saber que por onde você passa é reconhecido, gritam o seu nome e isso é realmente contagia e emociona”.

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