Os homens também devem fazer o exame pré-natal para o bem da saúde da criança

Os homens também devem fazer o exame pré-natal para o bem da saúde da criança

Brasil – Conhecido como pré-natal, o acompanhamento da saúde da gestante e do bebê durante a gravidez é oferecido e recomendado pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Ele consiste em uma série de seis consultas — a primeira deve ser realizada até 120 dias de gestação —, exames e atividades complementares (como palestras e reuniões) que servem para detectar, tanto na mãe quanto na criança, anormalidades no desenvolvimento e riscos de doenças e infecções, além de promover uma gestação saudável.

A ideia de que o atendimento pré-natal é responsabilidade única da mulher, sem haver necessidade de participação do parceiro, é um dos fatores que inauguram o peso maior de cuidado dos filhos sobre as mulheres. Para combater essa desigualdade, fundando a prática de uma paternidade ativa e cuidadora antes, durante e depois do nascimento, além de prevenir doenças, o programa de pré-natal do homem foi normatizado pelo Ministério da Saúde em 2011.

“Historicamente, tanto o planejamento reprodutivo quanto as ações em saúde voltadas ao momento da gestação, parto e puerpério foram pensadas e direcionadas às mulheres e às gestantes”, diz o Guia do Pré-Natal do Parceiro para Profissionais de Saúde do Ministério da Saúde, lançado em 2016.  A implementação do pré-natal do parceiro faz parte, segundo o guia, de um movimento crescente no Brasil e no mundo que defende o envolvimento integral dos homens na gestação, no parto, no cuidado e na educação das crianças

“O argumento central trazido por este debate é que, desta forma, é possível romper e transformar, na prática, construções sociais de gênero que, por um lado, direcionam todas as responsabilidades relacionadas à reprodução e aos cuidados das crianças às mulheres e, por outro, afastam os homens tanto dos compromissos e dos deveres, quanto dos prazeres e dos aprendizados que circundam este universo”, diz o documento do Ministério da Saúde

. Como funciona o pré-natal masculino A implementação do pré-natal masculino cabe às unidades de atenção básica dos municípios. A ação está presente nas políticas de saúde dos 26 Estados e do Distrito Federal e de 80 municípios com mais de 100 mil habitantes, segundo dado de 2014 do Ministério da Saúde.

Ao obter resultado positivo no teste de gravidez em uma unidade de saúde, a mulher é vinculada à rotina do pré-natal no SUS. É esse o momento em que o Ministério da Saúde recomenda que se proponha a realização de exames e testes também pelo homem, se estiver presente, e se não estiver, que seja convocado por meio da parceira.  Uma vez na unidade de saúde para o pré-natal, o homem realiza exames de rotina, testes rápidos e tem a carteira de vacinação atualizada. Entre os exames, estão sorologia para hepatite B e C, HIV e sífilis, diabetes, colesterol e pressão arterial.

Ele recebe informações sobre o risco e a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, sobre a possibilidade de realização da cirurgia de vasectomia e, caso necessário, são solicitadas consultas complementares e outros exames preventivos, como de próstata.

A realização dos testes e a adesão ao  tratamento do parceiro com sífilis ou HIV tem grande importância na diminuição do risco de contágio da mãe para a criança.

O programa é, também, uma estratégia para aproximar os homens da medicina preventiva, já que, em geral, eles não costumam ir ao médico. A população masculina sofre mais com o agravamento de doenças e procura atendimento médico já nos estágios mais avançados.

O pré-natal do parceiro tem o objetivo, além disso, de “preparar o homem para o exercício da paternidade ativa”, incluindo-o nas atividades educativas do pré-natal. No roteiro de implementação do pré-natal masculino pelos profissionais do SUS elaborado pela Prefeitura de São Paulo, há, por exemplo, a recomendação de incluí-los, na segunda consulta do pré-natal, em grupos de temas sobre masculinidade, gênero, saúde sexual e reprodutiva, paternidade e cuidado, hábitos saudáveis, prevenção de violência e de acidentes e direitos legais dos pais. A criação do pré-natal masculino no Brasil O pré-natal masculino foi um projeto pioneiro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), implantado em 2007. Em 2010, tornou-se uma prática do município. A resposta foi positiva: mais de 80% dos futuros pais aderiram ao pré-natal, aceitaram fazer todos os exames e acompanhar as esposas em todas as consultas.

Também consentiram em participar de oficinas sobre cuidados básicos do bebê e importância da amamentação. A adesão, no entanto, pode não ser tão simples: muitas vezes a gestante não conta com o apoio do parceiro sexual durante a gestação ou pode se constranger com a presença dele na consulta, além dos casos em que ele próprio resiste em fazer os exames.

Para Lívia Pimenta, doutoranda da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP que pesquisa o pré-natal do parceiro, mudanças efetivas de comportamento por parte dos homens a partir do acompanhamento levam tempo e serão vistas no futuro. “Tenho uma visão restrita ao município, não sei como está isso em outros lugares. Mas aqui a participação [dos homens no pré-natal] tem aumentado, eles têm pedido por isso”, diz Pimenta ao Nexo.

Ela aponta, no entanto, que o pré-natal do parceiro ainda é pouco divulgado e que também é preciso preparar os profissionais de saúde para incluir os homens nos cuidados da gestação. Hoje, o projeto faz parte das ações da Política Nacional de Saúde do Homem do Ministério da Saúde, instituída em 2009.

Amazoninarede-Nexo Jornal

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