Após 85 dias sem reajuste, a Petrobras anunciou nesta terça-feira (28) aumento de 8,9% no preço do diesel em suas refinarias. O anúncio ocorre um dia depois de mais uma sequência de ruídos entre o governo e a estatal em relação aos preços dos combustíveis.

A partir desta quarta (29), o litro do diesel sairá das refinarias da Petrobras custando, em média, R$ 3,06, um aumento de R$ 0,25 em relação ao valor vigente até esta terça. É a primeira vez que o preço do combustível nas refinarias ultrapassa a barreira dos R$ 3.

Segundo a estatal, o reajuste “reflete parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e da taxa de câmbio”. Nesta segunda (27), a empresa já havia sinalizado que promoveria o reajuste, por entender que o preço do petróleo atingiu um novo patamar.

“Esse ajuste é importante para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras”, afirmou a estatal nesta terça.

No comunicado sobre o reajuste, a empresa disse que durante os 85 dias sem reajuste “evitou o repasse imediato para os preços internos devido à volatilidade externa causada por eventos conjunturais”, repetindo discurso adotado pela gestão do general Joaquim Silva e Luna.

Na segunda pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que discutia com o Ministério de Minas e Energia maneiras de reduzir o preço dos combustíveis “na ponta da linha”, declaração que teve impacto sobre as ações da Petrobras em bolsa de valores.

Logo depois, a companhia convocou uma entrevista para reforçar que mantém sua política de preços, na qual sinalizou que já considerava novos aumentos diante da alta das cotações internacionais do petróleo, que está sendo negociado em torno dos US$ 80 por barril.

“Vemos o preço do [petróleo] Brent se posicionar num valor elevado, acima de US$ 70 por barril e está sinalizando realmente uma necessidade de ajustes de preço”, afirmou na entrevista o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna.

Segundo estimativa da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), naquele momento o litro do diesel era vendido no Brasil R$ 0,46 mais barato do que a paridade de importação, conceito que estima quanto custaria para trazer o produto do exterior.

Nesta terça, diz a Abicom, a defasagem subiu para R$ 0,50 por litro. Assim, o reajuste anunciado pela Petrobras cobriria metade da diferença. A pressão, portanto, deve continuar, até porque já há analistas vendo o petróleo acima dos US$ 90 no fim do ano.

No ano, a Petrobras já elevou o preço do diesel em 50% em suas refinarias. Nas bombas, a alta acumulada é de 30%. Na semana passada, três das principais entidades representativas dos caminhoneiros divulgaram uma pauta comum de reivindicações que inclui discussões sobre o preço do combustível.

A escalada dos preços está na base da explosão da inflação e vem provocando estragos na popularidade do governo. No início do ano, Bolsonaro trocou o comando da Petrobras para tentar acalmar os ânimos. Depois, passou a responsabilizar os impostos estaduais pelos aumentos.

“Onde está a responsabilidade? Eu usei muito nos últimos dias uma outra passagem bíblica: por falta de conhecimento meu povo pereceu. Nós temos que ter conhecimento do que está acontecendo antes de culpar quem quer que seja”, disse o presidente nesta segunda.

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