Na reunião de 70 anos da ONU, papa Francisco critica organismos financeiros e uso indiscriminado do planeta

Entre os vários tratados no discurso, Francisco falou de questões financeiras e meio ambiente
Entre os vários tratados no discurso, Francisco falou de questões financeiras e meio ambiente
Entre os vários tratados no discurso, Francisco falou de questões financeiras e meio ambiente

Nova York – O Papa Francisco criticou os órgãos financeiros internacionais e o uso indiscriminado do planeta que prejudica a natureza e os mais pobres durante seu discurso nesta sexta-feira (25) diante da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, nos Estados Unidos. O discurso foi presenciado por diversos líderes mundiais, incluindo a presidente brasileira, Dilma Rousseff.

A presença do Papa marca a celebração dos 70 anos da Assembleia Geral. Ele fez seu discurso em espanhol.

“Os organismos financeiros internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países e não a submissão asfixiantes destes por sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência”, afirmou o pontífice.

“Nenhum humano, indivíduo ou grupo pode se considerar onipotente e autorizado a passar por cima do direito dos outros”, disse. Ele ainda condenou a “má gestão irresponsável da economia global”, que não pode ser guiada pela “ambição de riqueza e poder”.

Por isso, o Papa clamou por “conceder a todos os países, sem exceção”, uma participação e incidência real e equitativa nas decisões desses órgãos, no Conselho de Segurança da ONU e em mecanismos criados para afrontar as crises econômicas. Para ele, a exclusão econômica e social é uma “grave ofensa” aos direitos humanos e ao ambiente.

Francisco ainda condenou a “colonização ideológica” na qual países ricos tentam impor seus “modelos de estilo de vida anômalos” a nações em desenvolvimento.

Meio ambiente

O papa Francisco também deu destaque em seu discurso ao tema do aquecimento global e mudança climática, e afirmou que a “sede de poder e propriedade material sem limites” estão prejudicando o meio ambiente e os mais pobres, criticando a cultura do descarte em vigor atualmente.

Para ele, o abuso e o mau uso do meio ambiente veem sempre acompanhado de processos de exclusão social. “Os mais pobres são os que mais sofrem, são descartados pela sociedade”, afirmou.

Para Francisco, a crise ecológica e a destruição da biodiversidade ameaçam “a própria existência da espécie humana”. “O meio ambiente é um bem fundamental. A humanidade não está autorizada a abusar dele e muito menos a destruí-lo”, disse.

O Papa disse estar confiante de que “a conferencia de Paris [que será realizada em dezembro sobre o assunto] alcance acordos fundamentais e eficazes. Entretanto, não bastam os compromissos assumidos solenemente, ainda que eles constituam um passo necessário para as soluções.”

Guerras e questão nuclear

Francisco disse que a guerra é a negação de todos os direitos e também um imenso ataque ao ambiente. Ele disse que devemos continuar incansavelmente com a tarefa de evitar a guerra entre nações e a guerra entre pessoas. Para isso, deve haver o primado do direito e da negociação.

“Quanto a Carta das Nações Unidas é respeitada e seguida, resultados pacíficos são obtidos”, disse o Papa Francisco na ONU.

O pontífice voltou a apelar sobre a “dolorosa situação” do Oriente Médio, do norte da África e de outros países africanos em que os cristãos são perseguidos e têm seus locais de culto destruídos.

Em uma referência indireta ao Estado Islâmico, ele criticou a perseguição de minorias religiosas e a destruição do patrimônio cultural.

O Papa também falou sobre o recente acordo para o fim da atividade nuclear no Irã, acertado com potências mundiais neste ano. “O recente acordo sobre a questão nuclear em uma região sensível da Ásia e do Oriente Médio é uma prova das possibilidades da boa vontade política e do direito, exercitados com sinceridade, paciência e constância”, afirmou sem mencionar explicitamente o Irã.

Também denunciou o narcotráfico que “silenciosamente cobra a vida de milhões de pessoas” e criticou que não é suficientemente combatido.

“Gostaria de fazer menção a outro tipo de conflito que nem sempre é tão explicitado, mas que silenciosamente vem cobrando a vida de milhões de pessoas. Outro tipo de guerra em que vivem muitas de nossas sociedades através do fenômeno do narcotráfico. Uma guerra ‘assumida’ e pobremente combatida”, enfatizou, concluindo seu discurso com uma bênção e sendo muito aplaudido pelos dirigentes presentes.

Homossexualidade

O papa, visita o Memorial em homenagem aos 11 de Setembro
O papa, visita o Memorial em homenagem aos 11 de Setembro

Em relação à polêmica questão da homossexualidade, o Papa pediu o reconhecimento de uma “lei moral inscrita na própria natureza humana, que compreende a distinção natural entre homem e mulher”.

Francisco, que sempre se mostrou menos hostil aos homossexuais, ao contrário de seus antecessores, evidenciou em seu discurso que não defende os direitos dos transgêneros.

Em uma possível alusão ao casamento entre pessoas de mesmo sexo, alertou contra “a colonização ideológica através da imposição de modelos e estilos de vida que são estranhos à identidade das pessoas e, portanto, irresponsáveis”.

Importância da ONU O Papa abriu seu discurso falando sobre a importância das Nações Unidas para a humanidade, e falou da importância das pessoas que trabalham para a organização, principalmente aquelas que “deram suas vidas para a paz e reconciliação entre os povos”.

“A história da comunidade organizada dos estados representada pelas ONU é uma história de importante êxitos comuns, em um período de inusitada aceleração dos acontecimentos”, afirmou. “É certo que ainda são muitos os problemas a serem resolvidos, mas é certo que se não houvesse essa interferência, a humanidade não teria sobrevivido a suas próprias potencialidades.”

Antes de seu discurso, o Papa foi saudado pelo presidente da Assembleia Geral da ONU, Mogens Lykketoft. Ele ressaltou os esforços do pontífice pela paz, pelo desenvolvimento sustentável, pela Justiça, pela redução das desigualdades, afirmando que são ideais compartilhados pela ONU. “Estamos unidos pela mesma preocupação”, disse.

Antes de seu discurso oficial, o Papa se reuniu com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e fez uma declaração para os funcionários ONU, na qual afirmou estar preocupado com o futuro do mundo e como ele será deixado para as próximas gerações, além de agradecer por seu trabalho.

“Seu devotado trabalho não só contribui para o aperfeiçoamento da ONU, mas expressa sua dignidade”, disse o Papa Francisco em discurso aos funcionários da organização.

Museu do 11 de setembro

Após o discurso desta manhã, Francisco seguiu para o Museu do 11 de Setembro, onde rezou junto a um dos espelhos de água que formam o monumento e depositou uma rosa branca em um monumento. Em seguida, participou de uma cerimônia ecumênica pela paz ao lado de representantes do hinduísmo, budismo, jainismo, sikhismo, judaísmo, de nativos americanos, dos muçulmanos e de outras ramificações do cristianismo. Logo no começo do discurso, o pontífice disse que vivia com uma mistura de “sentimentos e emoções” por estar naquele local, “onde milhares de vidas foram arrancadas num ato insensato de destruição”.

“Aqui, a dor é palpável. A água, que vemos correr para este centro vazio, lembra-nos todas aquelas vidas que estavam sob o poder daqueles que creem que a destruição é o único modo de resolver os conflitos”, disse ele. Ele garantiu que, apesar das diferenças, é possível viver num mundo de paz. Depois, foi feita uma oração em memória das 2.983 vítimas dos atentados e meditações sobre a paz, marcadas por badaladas do sino

Depois, o Papa seguiu para a Escola Nossa Senhora Rainha dos Anjos, no bairro do Harlem, onde se encontrou com crianças e famílias de imigrantes. Na agenda do Papa, ainda está prevista uma procissão no Central Park e encerrará sua visita com uma missa no Madison Square Garden. De acordo com a agência EFE, dezenas de milhares de pessoas já fazem longas filas para entrar no Central Park, e participar da procissão, um ato que contará com um forte esquema de segurança. Estão envolvidos agentes dos serviços secretos, a Polícia de Nova York, o FBI e unidades especializadas na luta antiterrorista.

As autoridades estimam que cerca de 80 mil pessoas estarão presentes durante a passagem de Francisco no Central Park. Apenas pessoas com ingressos sorteados semanas antes da chegada do pontífice aos EUA poderão entrar no local. Os sortudos que ganharam ingressos para assistir à procissão no Central Park só estão autorizados a levar água, lanches e pequenas câmeras.

O papa, colocando uma flor, sinal de homenagem ou paz
O papa, colocando uma flor branca, sinal de homenagem e paz

No entanto, os paus de selfie, os cartazes e as bolsas grandes estão proibidas. A procissão deve começar por volta das 17h locais (18h em Brasília). Assim que terminar a procissão, o Papa irá para o Madison Square Garden, onde celebrará uma missa para 20 mil fiéis, o último ato de sua visita a Nova York, antes de continuar no sábado a viagem pelos EUA na Filadélfia.

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