Um dos maiores contistas da literatura gaúcha, ele tinha 83 anos e havia sido diagnosticado com câncer
Porto Alegre, RS – Morreu na noite de quinta-feira (15), aos 83 anos, em Pelotas, o escritor Aldyr Garcia Schlee. Ele havia sido diagnosticado há menos de 15 dias com um câncer que atacou o fígado e parte dos pulmões, e ainda estava realizando exames para tomar pé de seu estado de saúde. Schlee deixa três filhos, Aldyr, Andrey e Sylvia.
Reconhecido no campo da literatura como um dos maiores contistas em atividade no Estado, o autor também era famoso por ter criado, em 1953, o uniforme da Seleção Brasileira até hoje em uso pelo time canarinho – apelido, aliás, que só passou a ser usado depois que Schlee fez o desenho da camiseta.
Nascido em Jaguarão em 1934, ele não tinha ainda 20 anos quando criou o desenho verde-amarelo da camiseta brasileira para um concurso promovido pelo jornal carioca Correio da Manhã para substituir o malfadado uniforme branco e azul usado pela Seleção de 1950, derrotada em pleno Maracanã.
– Fui na agência da Varig em Pelotas buscar os jornais do dia. Entre eles, o Correio da Manhã. Na terceira página, lá estava o meu desenho, com a manchete: esta será a nova camisa do Brasil. Fiquei louco. Nem sei como cheguei ao trabalho – contou ele em entrevista a Zero Hora em 2014.
O episódio da camisa, contudo, era uma nota de pé de página na trajetória de Schlee, que trabalhou como ilustrador de imprensa e artista gráfico até estrear na literatura nos anos 1980 com Contos de Sempre.
Numa produção constante mas sem fanfarras, Schlee publicou 12 livros ao longo de mais de três décadas de carreira literária. Sua obra artística é peculiar e diferente da corrente mainstream da literatura do Estado.
Embora também enfoque com frequência o mundo rural e a mentalidade de fronteira (seus contos costumam ser ambientados o território entre Brasil e Uruguai), Schlee era ele próprio uma tradição à parte: suas histórias renegavam o ufanismo cetegista e preferiam lançar seu olhar não sobre valentes e tauras, mas sobre as vidas pobres e sofridas à margem, tanto da História oficial quanto do banditismo glamouroso.
Schlee faria 84 anos no dia 22 e havia recém lançado seu último livro, a novela O Outro Lado, uma história de amor entre dois personagens desfavorecidos pela sorte. O sepultamento do escritor será sexta-feira, em Pelotas.
Cores históricas
Até o início dos anos 1950, a Seleção Brasileira usava um uniforme branco, com detalhes em azul.
- A camisa verde-amarela desenhada por Schlee foi eleita em um concurso organizado pelo jornal Correio da Manhã após a derrota na final da Copa de 1950, para o Uruguai.
- A apresentação do novo uniforme se deu em 20 de janeiro de 1954, em grande festa no Maracanã.
- A estreia oficial se deu no jogo entre Brasil e Chile, em Santiago, pelas eliminatórias da Copa da Suíça. Foi no dia 28 de fevereiro de 1954.
- O Brasil venceu por 2 a 0, com o primeiro gol da nova camisa marcado por Baltazar, o “cabecinha de ouro”.
- Há controvérsias sobre a origem do apelido “canarinho”. Sabe-se que ganhou popularidade pela voz do narrador Geraldo José de Almeida.
Originais enviados por Schlee para o concurso que definiu a camisa da Seleção Brasileira em 1953Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Os livros
- Contos de Sempre (contos, 1983)
- Uma Terra Só (contos, 1984)
- O Dia em que o Papa Foi a Melo (contos, 1991, publicado primeiro Uruguai, em espanhol, e editado no Brasil, em português, em 1999)
- Contos de Futebol ( contos, 1997)
- Linha Divisória (contos, 1998)
- Contos de Verdades (contos, 2000)
- Os Limites do Impossível: Contos Gardelianos ( contos, 2009)
- Don Frutos ( romance, 2010)
- Contos da Vida Difícil ( contos, 2013)
- Memórias de o que já não será (contos, 2014)
- Fitas de Cinema (contos, 2015)
- O Outro Lado (romance, 2018)
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