Malhação de Judas: Uma tradição que está morrendo em Manaus

Amazonianarede – Osny Araújo

Manaus – Ontem, sábado de Aleluia, data consagrada em tempos passados pela “festa profana” da malhação de Judas, o apóstolo traidor de Jesus cristo e quase não encontramos os bonecos representando o traidor pendurado nos postos ou expostos nas calçadas.

Percorremos vários bairros das diferentes zona da cidade e não encontramos mais do que 14 bonecos e a maior parte deles, criticando políticos locais e nacionais, com destaque para o ex-prefeito Amazonino Mendes, pastor Feliciano, senador Alfredo Nascimento deputado ,ex-senador Demóstenes Torres , deputado federal Sabino Castelo Branco, ex-deputado José Dirceu, deputado federal José Genoíno, ambos do PT paulista, Esse cara sou, entre outros figurões que representaram Judas e naturalmente, considerados traidores pelo povo.

Num passado não muito distante, num sábado de aleluia bastava sair nas ruas de Manaus que os Judas em forma de bonecos estavam por toda parte. Hoje, são figuras difíceis e ainda existem nos bairros periféricos e para muitos, os bonecos passam despercebidos, manifestação bem diferente dos ocorridos num passado não muito distante.

Confraria do Cipriano

Na verdade, a tradição da malhação de Judas no Amazonas está agonizante na UTI, mesmo assim, nas poucas manifestações que aparecem nas calçadas ou nos postes das ruas de Manaus, as críticas e sátiras são quase que exclusivamente em cima de políticos e não vimos nenhum desses poucos bonecos expostos, todos representavam figuras da política partidária. Chegamos a confraria e para decepção do repórter nenhum boneco foi encontrado e foi aí, que tivemos a informação de que a tradição também está em estado terminal na confraria do Cipriano e desde o ano passado que a tradição parece que foi esquecida.

Encontramos alguns velhos frequentadores da confraria que lamentam o fato e falou com saudade dos tempos idos e culpam a internet e as redes sociais como um veneno mortal para matar as tradições como a malhação do Judas no sábado de aleluia. “A juventude de hoje só tem tempo para baladas e a internet e os jovens, muitos talvez nem saibam que existe essa tradição e o que ela representa para a humanidade” – disse Almir Pantoja.

Procuramos falar com o proprietário do Bar, o Cipriano, mas como ainda não eram dez horas, o bar ainda estava fechado, mas demos sorte e encontramos um antigo morador da área e frequentados do bar, o seu Pedro Moraes, que falou com certa melancolia no fim da tradição da malhação do Judas na confraria que atravessou mais de três décadas.

Indagado pela reportagem se a tradição está morrendo em Manaus, afirmou com certa dose de melancolia. “É meu jovem. Acredito que sim, pelo menos é essa a triste impressão que tenho. O fato é que a evolução e a tecnologia vão chegando e essas e outras tradições vão desaparecendo”.

Numa tentativa de tentar explicar o fato, Pedro Moraes, foi categórico: “O fato é que as pessoas mais velhas, aquelas que gostavam da brincadeira e de confeccionar os bonecos vão adoecendo, morrendo e os filhos não demonstram interesse em seguir com a tradição e com isso, tradições bonitas como a malhação de Judas, onde ocorriam muitas críticas e sátiras aos políticos e outros seguimentos, numa brincadeira saudável e democrática vão se acabando aos poucos. É uma pena” – completou.

Para dona Jacira Matos Campos (65), moradora do bairro do Alvorada, não é apenas a tradição da malhação de Judas que está acabando, mas muitas outras coisas boas e saudáveis e lembra: “Meu filho, eu quando jovem gostava muito de danças, mas durante a quaresma, os clubes de Manaus fechavam e ninguém fazia festa e hoje, tudo é diferente, pois até sexta-feira santa tem pagode por todos os cantos da cidade e depois, perguntam porque que pai está matando filho, filho matando pai e familiares, a droga toma conta de tudo e tantas outras coisas ruins que acontecem no mundo, como a falta de respeito dos jovens para com os mais idosos, dos filhos para com os pais e por aí vai. A explicação para tudo isso, é muito fácil: É a falta de Deus no coração da humanidade” – afirmou.

Malhação acanhada

Como a tradição está na UTI e ainda não morreu, em alguns pontos da cidade, especialmente nos bairros mais periféricos, aconteceram algumas manifestações e ocorreram acanhadas malhação do boneco de Judas, representando o traidor de cristo, de acordo com a cultura universal do crhistianismo.

Na chamada Bolo do Produtor, no bairro Jorge Teixeira, por exemplo, professores se reuniram em torno de um boneco (Judas) e fizeram uma manifestação, demonstrando que a classe política e as próprias autoridades estão traindo os compromissos assumidos com a educação brasileira.

Os responsáveis por essa malhação diferente, são integrantes do Movimento de Luta Independente dos professores de Manaus. Segundo um dos coordenadores do movimento Airton Caldas, são basicamente duas e explicou em detalhes: “ Esse Judas, representa os traidores da sociedade e dos professores, como os políticos que são eleitos pelo voto popular, mas quando chegam ao poder esquecem as promessas feitas e os seus compromissos com a sociedade como um todo e dessa forma, os enforcados somos todos nós que fazemos parte da sociedade”.

Judas o mais lembrado

Penetrando um pouco na história do crhistianismo, não é difícil entender porque Judas Iscariotes é o discípulo de Jesus mais lembrado na páscoa e é homenageado pela sua traição com a tradicional malhação do Judas por muitas e muitas gerações. Quem foi criança antes dos anos 90-00 que nunca malhou um Judas ?

Essa tradição chegou a America Latina e ao Brasil através dos portugueses e espanhóis de comunidades católicas e ortodoxias. A malhação do Judas consistia em surrar e queimar um boneco feito de trapos forrado de jornais, palha ou ferragem amarrado em uma árvore, poste de iluminação ou porteira ao meio-dia do Sábado de Aleluia.

No Brasil a malhação do boneco recebe outros nomes; placas com nomes de políticos corruptos ou treinadores de futebol ficam fixados no peito do boneco como sinal de protesto.

No nordeste é chamado de “Enforcamento do Judas”, enquanto na cidade de Itu interior de São Paulo a malhação é chamada de “Estouro do Judas”. Nos evangelhos, Judas é revelado como o que traiu Jesus. Seu nome aparece pela primeira vez na lista dos apóstolos (Mc.3:19), e depois aparece fazendo um acerto com os sacerdotes para entregar Jesus em troca de dinheiro (Mc.14.10-11).

Cheio de remorso, Judas lançou as moedas de prata aos pés dos sacerdotes e foi se enforcar (Mt.27.3-5) entrando definitivamente na história do cristianismo sendo o apóstolo mais lembrado na páscoa, mais que Pedro que negou Jesus três vezes e depois se tornou um dos apóstolos de mais destaque nas escrituras.

Malhar o Judas deve ser divertido, mas e quando o Judas somos nós? Judas Iscariotes traiu Jesus e foi se enforcar tamanho o remorso que invadiu seu coração, perdendo assim sua alma. Traição segundo o Dicionário da Língua Portuguesa (DCL) que dizer “ato ou efeito de trair. Perfídia, quebra de fidelidade prometida e empenhada.”

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