Mato Grosso – Depois que se tornou pública a decisão judicial para o fechamento do garimpo da Serra do Caldeirão, em Pontes e Lacerda, os garimpeiros começaram a evacuar a área e deixaram para trás uma herança totalmente prejudicial à saúde do meio ambiente. Muito lixo, sujeira total e um verdadeiro cemitério de tendas e plásticos que irão demorar de 200 a 500 anos (dependendo do tipo da composição do plástico) para se decompor.
Ainda existem garimpeiros que se aventuram a subir os mais de 700 metros até o pico da serra e continuam a escavar. Porém o caminho que até na semana passada era tomado pelos mais de cinco mil trabalhadores, hoje não é seguido nem pela metade, que deixou os barrancos e já desceu com seus materiais de trabalho.
Delizamento e silencio
Cinco garimpeiros ficaram feridos na tarde desta segunda-feira, após o desmoronamento de um barranco em um garimpo ilegal, que fica na Serra do Caldeirão, em Pontes e Lacerda (MT).
O local está sendo chamado de “Nova Serra Pelada” e atraiu, nos últimos dois meses, cerca de 5 mil pessoas, em uma corrida por pepitas de ouro que estão sendo encontradas praticamente na superfície do solo.
Interditado
Os garimpeiros, formaram uma vila na encosta da Serra, mas na última sexta-feira, a Justiça Federal interditou o garimpo, já que não há licença do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), para exploração da área.
Autoridades locais já haviam chamado a atenção para o problema social criado no local, onde já está faltando água e comida, e com o desmoronamento redobrou a preocupação em adiantar a desocupação.
O desmoronamento ocorreu, de acordo com informações da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Pontes e Lacerda, porque um grupo escavava por baixo de uma área que já havia sido escavada por cima, ou seja, devido a escavações sem qualquer regra.
O que era constante ouvir na subida da serra, como barulhos de motores geradores, batidas de marteletes e gritos de garimpeiros tirando terra dos buracos, hoje não se ouve mais. Em dez metros quadrados onde se aglomeravam mais de 30 homens, atualmente um ou dois continuam por lá.
Lixo por toda a parte
Pelo caminho, o que se acha a cada passo dado é muito lixo. Garrafas pet com restos de água, lonas de acampamentos abandonadas, garrafas de café e térmicas, latinhas de cerveja e refrigerante, sacos de rafia (que eram utilizados para carregar o reco) e até roupas estão abandonados por todo canto do morro.
A devastação é total. além da sujeira deixada pelos trabalhadores que já foram embora, árvores foram derrubadas e parte da Serra do Caldeirão está praticamente pelada. Além disso, as cordas continuam estiradas na subida da serra. É graças a elas que os últimos garimpeiros conseguem subir ao garimpo.
Em contrapartida, a busca pelo ouro continua na parte de baixo da serra. Mais de mil pessoas escavam em um ponto onde até a semana passada não havia nem 100 pessoas. “Aqui a gente escava sem precisar subir a serra. Já falaram que vão tirar o povo e prender o material, então, aqui eu escavo só com picareta e não sofro pra subir com motor”, disse um jovem de Porto Velho.
Prejuízo
Outro grupo que veio do Maranhão está na Serra desde o começo do mês de outubro, confirmou que gastou quase R$ 20 mil em motores e comida e não conseguiu tirar nada. Nenhuma pepita de ouro. “Eu já comprei motor, martelete, paguei frete, vim em grupo e estou pagando cada copo de água que bebo aqui. Furei mais de 15 metros e agora tô aqui embaixo. Vamos tentar achar alguma coisa, porque até agora só devo na praça. De verdade, nós levamos uma ré sem quantia aqui em Pontes e Lacerda”, comentou José Avelino, líder dos maranhenses na Serra do Caldeirão.
Na parte de cima do garimpo, apenas Antônio e Reginaldo falaram com a equipe do HiperNotícias. Sem contar o quanto ele tirou de ouro na região, afirmou que terça-feira era seu último dia na labuta. “O povo aqui de cima tá muito arredio. Nosso grupo pegou ouro, mas não é muita coisa. Estamos indo embora porque aqui foi muito trabalho e pouca grana, isso sim”, disse um dos últimos garimpeiros que ainda trabalhavam na Serra.
Deslizamento
Por enquanto, a polícia não chegou ao local. Apenas militares estiveram por lá impedindo a passagem de pessoas sobre o buraco que deslizou na segunda-feira.
Nenhum tipo de intervenção foi feita e com isso os que se mantêm no local continuam a trabalhar.
A presença de ourives (pessoas que compram ouro), na Serra do Caldeirão é maciça. O preço do grama do ouro caiu de R$ 120 para R$ 100. O mineral é pesado e vendido na hora.
“Temos que comprar antes que acabe. Eles também precisam vender isso, então estamos aqui fazendo nosso trabalho, que é colocar preço no trabalho deles”, falou um empresário que foi ao garimpo comprar o metal precioso.
Amazonianarede-Max Aguiar/HiperNoticias