(Reportagem: Daniela Meller)
Após o soterramento no garimpo que aparece na imagem, os corpos dos brasileiros aguardam para serem trazidos a Boa Vista.
Uma tragédia entre seis garimpeiros brasileiros ocorreu na quinta-feira, 26, em uma área de garimpo, provavelmente clandestina, localizada na fronteira entre Venezuela e Guiana, às margens do rio Cuyuní, a 12 horas de viagem da cidade de San Isidro – também conhecida por 88 – na Venezuela. Quatro deles morreram e dois sobreviveram. Um barranco com altura estimada de 15 metros desabou e acabou soterrando o grupo.
O acidente ocorreu por volta das 17hs e somente às 20h35 os familiares dos mortos e de um dos sobreviventes foram acionados na capital. O desespero toma conta das famílias. Além da perda, cada uma terá de desembolsar cerca de R$ 20 mil para que os corpos sejam trazidos a Boa Vista, quantia que nenhuma delas têm condições de arcar.
Amigos, familiares e membros de uma igreja estão fazendo campanha para tentar arrecadar o valor. Por outro lado o governo do Estado prometeu não só ajuda burocrática como também meios para que essa questão financeira seja resolvida.
Segundo a amiga de uma das famílias, a agente de saúde Maria Rodrigues da Silva, 49, as vítimas fatais foram: Tiago Nunes Pinto, 23, João Gonçalves, 56, João Nilson Pinto Mendes e Ronaldo da Silva Souza, 32, que há pouco tempo trabalhavam no local. Sobreviveram João Paulo da Silva, 31 e um segundo que não teve o nome divulgado.
Segundo Maria, Paulo percebeu quando o desmoronamento começou, porém, não conseguiu sair a tempo e por pouco não foi completamente soterrado com barro e água. O resgate demorou duas horas.
Os corpos, segundo o secretário de Assuntos Internacionais de Roraima, Eduardo Oestreicher, foram removidos a Georgetown, capital guianense, em uma pequena aeronave onde chegaram às 18h de sexta-feira, devido a distância e dificuldade de acesso. Lá, foram levados ao Instituto Médico Legal (IML), onde aguardam a realização do exame cadavérico para que seja expedida a guia de remoção e enfim o traslado até Lethem para serem trazidos até Boa Vista.
Por telefone, Oestreicher conversou com a Folha e garantiu que já foi feito contato com o embaixador do Brasil na Guiana assim como o Ministério de Relações Internacionais da Guiana. “O governo do Estado está mobilizado e buscando da melhor forma possível dar esse suporte financeiro às famílias no que diz respeito à remoção dos corpos”, garantiu.
Enquanto esse suporte não é resolvido, familiares, amigos, conhecidos e membros de uma igreja ligados aos parentes estão buscando ajuda de porta em porta para tentar arrecadar o dinheiro suficiente para a remoção dos corpos.
“Nós sabemos que a vida que eles estavam vivendo lá era bastante difícil, e que procuraram essa solução por não encontrarem no Estado onde vivem e sobrevivem suas famílias, um emprego decente que possibilitasse um sustento também decente e confortável aos seus filhos e esposas. Não é fácil a vida num garimpo, ainda mais para as famílias que ficam aqui ansiosas por notícias e quando essas informações chegam trazem junto a tristeza. O fato é que a tragédia já aconteceu e que os corpos não podem ficar lá. Todos precisam de um enterro digno. Pedimos ajuda da população e providências do governo, afinal, essas vítimas são eleitores e enquanto viviam aqui pagavam impostos e cumpriam com suas obrigações de cidadão”, desabafou Maria Rodrigues.
Ainda segundo ela, recentemente aconteceu um caso parecido, o da morte de um empresário local assassinado na Venezuela, quando o governo providenciou todo o necessário até a chegada do corpo em Roraima. “Espero que esse mesmo tratamento seja dispensado a essas famílias carentes e humildes”.
Quem quiser colaborar de alguma forma pode ligar para os telefones 9127-6012 e 9129-9601.
ACESSO – Os brasileiros entraram no garimpo onde ocorreu o acidente pela Venezuela, que exige apenas a carteira de identidade para o trânsito no país, enquanto a Guiana cobra passaporte.
Da localidade conhecida por 88, na Venezuela, eles viajaram 12 horas até chegar à vila de San Martin de Turumbán onde passaram a noite e de madrugada, após duas horas de lancha pelo rio Cuyuní, chegaram onde o garimpo está instalado.