
Rio – Escolas grandiosas, alas multicoloridas e alegorias sofisticadas, cheias de efeitos, brilhos, luzes e movimentos. Passado, presente e futuro da humanidade, mitos religiosos e criações da imaginação dos roteiristas de Hollywood, grandes construções e figuras públicas do Brasil e do mundo.
Foi o que viu o público que acompanhou ao primeiro dia de desfiles do Carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, pela televisão ou direto da Marquês do Sapucaí.
A noite contou ainda com convidados especiais, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assistiu a boa parte das apresentações e, no final, distribuiu preservativos ao público, e com a cerimônia de casamento do cantor, compositor e puxador-de-samba Neguinho da Beija-Flor, em pleno sambódromo, antes da saída da escola da qual empresta o nome.
Império abriu
A primeira escola da noite foi a Império Serrano, que foi buscar no próprio passado a inspiração para animar os foliões. O enredo “Lendas das Sereias, Mistérios do Mar”, cantando pela primeira vez em 1976, marcou época e foi sucesso nas rádios na voz de Clara Nunes.
Na atual versão, própria para o século 21, os integrantes da comissão de frente vieram montados em veículos de duas rodas (segways) para representar cavalos-marinhos flutuantes.
Reino Unido
O reino marinho desfilou pela passarela do samba em tons de azul, amarelo e verde, ao longo de 32 alas: servos do mar, piratas e pérolas, golfinhos e sereias, medusas, peixes-dourado, estrelas-do-mar, anêmonas e conchas.
Mitos aquáticos da cultura africana — Caiala, Ogunté, Inaê e Iemanjá — foram representadas em sete carros alegóricos. Entre os destaques da escola, nomes famosos como o dos diretores de TV e cinema Daniel Filho e Jorge Fernando. A atriz Quitéria Chagas foi a rainha da bateria e se emocionou ao longo da passagem pela avenida.
Grande Rio

Brilho, luxo, plumas e paetês, dançarinas francesas de cancã, vindas diretamente do cabaré Moulin Rouge… Estes foram alguns dos destaques da Grande Rio, segunda escola a desfilar na Sapucaí, e que trouxe o samba-enredo “Voila, Caxias! Liberté, egalité, fraternité, merci beaucoup, Brésil! Não tem de quê!” para falar do ano da França no Brasil.
A figura do rei Luis 14 era destaque na comissão de frente e aparecia num trono. No abre-alas, a figura de um homem com uma coroa na cabeça, com olhos que podiam piscar. Por toda a parte, perucas brancas e plumas, numa imitação da corte francesa.
A escola abusou de fantasias rebuscadas, alegorias gigantes e das referências europeias — o palácio de Versalhes, cenas da Revolução Francesa e a Ópera de Paris — para mostrar a influência francesa sobre a cultura e o imaginário popular.
Também não faltaram figuras famosas — entre os quais podem ser citados Paola Oliveira, rainha da bateria, Susana Vieira, Sharon Menezes, Fernanda Lima e Betty Lago, como destaques –, como já se tornou tradição na escola.
Portela

A união do estilo ousado e teatral de Paulo Barros com o chão tradicional da Portela só poderia resultar em um grande espetáculo para a Sapucaí. No Voo da Águia, uma Viagem sem Fim falou sobre as viagens pelo mundo.
E o resultado foi um desfile acompanhado por gritos de “É Campeão” durante toda a avenida.
Não faltaram efeitos especiais. A comissão de frente, tradicionalmente um dos maiores investimentos de Paulo Barros, colocou Zeus para voar sobre a água.
Um dos carros, em formato de embarcação, inclinava de um lado para o outro simulando uma navegação sobre mares agitados. Os truques não pararam por aí. Uma nave voava de uma alegoria para outra, simbolizando a viagem no tempo.
Destaque também para a ala das múmias, que pareciam levantar dos caixões, e para o carro do elo perdido, onde as arqueólogas eram engolidas por dinossauros.
Foi uma Portela completamente diferente do que as pessoas estão acostumadas a ver, muito mais moderna e cheia de efeitos especiais. Como toda mudança, vai agradar a uns e provocar críticas de outros. Mas que foi um espetáculo, isso não resta dúvidas.
Vila Izabel

Ópera, balé e espetáculos artísticos encheram a avenida no desfile da Vila Isabel, que trouxe o enredo “Neste palco da folia, é minha Vila que anuncia: Theatro Municipal – A centenária Maravilha”. Inspirada na Ópera de Paris, a casa artística do Rio foi analisada pela escola, desde a sua construção.
Nas alegorias da Vila, “dorminhocos” se transformavam em atores de comédia, entre sonho e despertar, enquanto “operários” se viam entre peças de bronze, mármore e lustres.
Composições famosas, como a ópera “Aída” e o balé “O Lago dos Cisnes” também foram representados pela escola — integrantes executavam uma coreografia e desciam escadarias, como se estivessem em um espetáculo de verdade.
Vestida a caráter, a bailarina Ana Botafogo foi um dos destaques. Para encerrar o desfile, um luxuoso baile de gala foi encenado, com fantasias cheias de plumas e alegorias com muitas luzes e cores. No chão, os famosos Natália Guimarães, ex-miss e rainha da bateria da escola, o sambista Martinho da Vila e a atriz Juliana Alves.
Mocidade
Dona de cinco títulos, a Mocidade Independente veio com cerca de 4.000 componentes em 36 alas e oito carros alegóricos, para mostrar o enredo “Mocidade apresenta: Clube Literário – Machado de Assis e Guimarães Rosa… Estrela em poesia!”, recheado de obras e momentos da história dos dois escritores.
A escola, porém, enfrentou problemas, logo no início. Minutos antes de começar o desfile, o carnavalesco Cláudio “Cebola” Cavalcante foi atropelado pelo carro abre-alas e teve de ser hospitalizado. Depois, o mesmo carro sofreu um princípio de incêndio, que foi controlado rapidamente. Com os problemas contornados, o que se viu foi uma apresentação competente, com fantasias em verde-escuro com detalhes dourados, citações aos acadêmicos da ABL (Academia Brasileira de Letras) e representações de obras de Machado e Rosa, mas também de estranhos hábitos dos escritores — a ala “Utopia, O Crocodilo no Rio São Francisco” representava o animal dos delírios de Guimarães Rosa.
As baianas da escola jogavam pétalas de rosas para aos foliões. E o carro “Estrelas em Poesia”, o último da agremiação, pierrôs, colombinas e o arlequim ladeavam estrelas com imagens dos escritores.
Casamento de Neguinho

Entre o desfile da Mocidade e o da Beija-Flor, a Sapucaí acompanhou a uma cena inusitada, mas bastante aguardada: o músico Neguinho da Beija-Flor se casou com Elaine dos Reis, minutos antes de assumir o comando do samba-enredo da escola de Nilópolis.
Momentos depois da cerimônia, que foi oficializada com a presença de um juiz de paz, o puxador-de-samba exaltou a importância da prevenção ao câncer de intestino, doença que enfrenta e agradeceu aos votos de recuperação.
No momento do samba, a Beija-Flor de Nilópolis, que venceu o Carnaval carioca nos dois últimos anos, trouxe o samba-enredo “No chuveiro da alegria, quem banha o corpo lava a alma na folia”, bem como carros alegóricos gigantes e cheios de tecnologia, para despejar, borrifar e esguichar centenas de milhares de litros de água e, assim, contar a história do banho e do asseio ao passar dos tempos.
Com 3.900 componentes e oito carros alegóricos, a lista de integrantes contou com VIPs como primeira-dama Marisa Letícia, o ex-diretor da TV Globo José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, e Dudu Braga, filho do cantor Roberto Carlos, que ocupou um posto na bateria ao lado dos outros 249 ritmistas sob comando de Mestre Paulinho.
De banhos no rio Nilo de Cleópatra e outras rainhas do Egito antigo, passando pelo ritual de limpeza de gregos e turcos, bem como pela proibição dos banhos (e a série de doenças decorrentes) na Idade Média, a escola chegou até a “evolução da arte de se banhar”.
O bom-humor esteve presente para falar do enganador “banho de gato”, representando por um carro que mostrou um gato preto de 10 m de comprimento, com a língua em riste.
Em cena, também, a religiosidade, com a representação da festa de lavagem da escadaria da Igreja do Senhor do Bomfim, na Bahia — o efeito, porém, não agradou a escola seguinte, Unidos da Tijuca, já que a avenida ficou toda molhada e escorregadia.
Após o desfile da Beija-Flor, durante alguns instantes, quem roubou a cena foi o presidente Lula, acompanhado da primeira-dama Marisa Letícia, que observou boa parte do desfile instalado no camarote do governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. De chapéu e camisa brancos, o presidente recebeu convidados, acenou ao público e, por fim, distribuiu camisinhas aos presentes.
Unidos da Tijuca
A Unidos da Tijuca foi a última escola a entrar na Marquês de Sapucaí, na primeira noite de desfiles. E para prender a atenção do público e dos jurados, a agremiação optou por uma apresentação mais leve e descontraída. O tema “Tijuca 2009: Uma Odisséia sobre o Espaço” foi carregado de imaginação e referências a obras de ficção científica e animações. Entre as atrações, alienígenas bons e malvados, heróis e vilões de séries de Hollywood e personagens da mitologia. Mulheres de branco remetiam às estrelas, enquanto as primeiras alas representavam deuses de diferentes povos e culturas — Nuth, Odin, Varuna, Zeus e Oxalá.

A bateria do Mestre Casagrande desfilou fantasiada de vampiro, com máscaras de látex escuras, em contraponto com a fantasia dourada da rainha Adriane Galisteu. Alas noemadas como “Space Ghost”, “Pequeno Príncipe”, “National Kid”, “Flash Gordon”, “Cavaleiros do Zodíaco” e “Os Jetsons” (com direito a carro com uma série de carros voadores) fizeram a alegria dos fãs.
E para quem se liga na ficção científica dos cinemas e séries de TV, “Marte Ataca”, “Independence Day”, “Homens de Preto”, “Jornada nas Estrelas” e “Guerra nas Estrelas” (com integrantes caracterizados como jedis) foram o auge da festa.
Com menos escolas (seis por noite, e não sete), mas desfiles mais longos (de até 1h22, contra 1h05) que o das escolas de São Paulo, o Carnaval do Rio volta na noite desta segunda-feira, a partir das 22h05, com a apresentação das escolas Porto da Pedra, Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense, Portela, Mangueira e Viradouro. A Escola capeã do Carnaval carica, será conhecida nesta quarta-feira de cinzas
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