
Goiânia, GO – O Tribunal de Justiça de Goiás anunciou nesta terça-feira a primeira sentença contra o artesão José Vicente Matias, o Corumbá, assassino confesso de seis mulheres em quatro Estados do país. Ele foi condenado a 23 anos de prisão pela morte e ocultação de cadáver de Lidiayne Vieira Melo, em janeiro de 2004, em Goiânia. No julgamento, presidido pelo juiz Jesseir Coelho, foram considerados três qualificadores: motivo torpe, uso de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
São 21 anos pelo assassinato, mais dois pela ocultação. O acusado, que estava preso no Maranhão, agora fica à disposição da justiça goiana. Ele ainda será julgado por outros cinco assassinatos. “A cada julgamento, será recambiado para o Estado onde aconteceu o crime”, informou o juiz Jesseir Coelho.
“O resultado não poderia ser diferente. Os jurados apenas comprovaram a evidência das provas de um crime que repugnou toda a sociedade. Considero justo”, afirmou Geibson Cândido Rezende, representante da promotoria. A defesa, que tentou alegar problemas psicológicos para tornar o réu semi-imputável, afirmou que vai protestar para novo júri, já que a condenação é superior a 20 anos.
“Deve ser meu último caso de apelação, já que a medida aprovada no Congresso deve entrar em vigor em 60 dias”, afirmou o defensor de Corumbá, Douglas Dalto Messora. Ele se refere ao projeto aprovado na Câmara que deve por fim a esse recurso da defesa e que deve ser sancionado pelo presidente Lula.
A mãe da vítima também esteve presente na leitura da sentença, realizada às 16h50 de hoje. Ela se limitou a um tímido sorriso quando a pena foi anunciada. “Para mim, quantidade de anos não faz diferença. Justiça seria se eu tivesse a minha filha de volta. Espero, sinceramente, que ele morra na cadeia”, afirmou a atendente de restaurante Jovelina Vieira de Melo, 37.
Ela contou à reportagem do UOL que estava grávida de quatro meses quando esteve no IML para reconhecer o corpo da filha, decapitado por Corumbá. “Apesar de grávida, fui ao local. Quando vi a minha filha daquele jeito, não suportei e desmaiei. Felizmente não perdi o meu filho”, conta Jovelina, mãe da menina.
De acordo com a promotoria, Corumbá ainda tentou esquartejar a vítima, mas não conseguiu. Então ele colocou a cabeça dela em uma sacola plástica, enrolou o corpo em uma colcha e jogou no Córrego Fundo, que fica nas imediações da Vila Mutirão, periferia de Goiânia. Após matá-la, a promotoria afirma que Corumbá bebeu o sangue da vítima.
Além de Lidiayne, Corumbá confessou outros cinco assassinatos, das quais três eram estrangeiras: a espanhola Núria Fernandes, 27, foi morta a pauladas em Alcântara (MA); a alemã Maryanne Kern, 49, foi encontrada em uma cova rasa em Ribeirinhas (MA); a russo-israelense Katryn Rakitov, 29, foi morta a pedradas na cidade de Pirenópolis (GO); Simone Pinho, 26, era da Bahia e também foi morta a pedradas e jogada em um poço de garimpo em Lençois (BA); Natália Carneiro, 15, morava em Três Marias (MG). Os seis crimes foram executados no período de 1999 a 2005.
Pelo menos em outro caso, Corumbá também teria praticado canibalismo. Após matar Núria Fernandes, a última de suas vítimas, ele teria comido parte da massa encefálica em mais um ritual. Ele foi preso em Bragança (PA) em 29 de março de 2005. Desde então está sob custódia da justiça do Maranhão. Em depoimento, Corumbá afirmou que recebera “uma ordem demoníaca” para matar sete mulheres.
Ritual macabro

A promotoria do caso de Lidiayne descreve no processo como tudo aconteceu. “Ao anoitecer, já nos últimos minutos do dia, afirma o denunciado (Corumbá) que recebeu uma ordem sobrenatural para deitar a garota no chão, colocá-la em posição de cruz e cortá-la em tal posição”, relata o promotor.
O ritual macabro teria seguido com o acendimento de velas pela casa e a asfixia de Lidiayne, aproveitando que ela havia ingerido bebida alcóolica e de sua fragilidade física. Em seguida decapitou-a e tentou esquartejá-la, sem sucesso. A cabeça da menina foi perdida no mato enquanto o transporte do corpo era feito. Foi encontrada a 500 metros do córrego. Após o crime, Corumbá seguiu para outros estados, onde mataria as três estrangeiras.
Com aparência mais velha e diferente daquela da época em que foi preso (ele tinha cabelos longos), Corumbá se mostrou tranqüilo durante todo o julgamento. Tão tranqüilo que chegou a dormir (ou fingiu que dormia) durante a exposição da promotoria. Porém, ausentou-se da sala do júri durante o anúncio da sentença.
A variação geográfica dos crimes de Corumbá é explicada pela “vida cigana” que levava. Ele era adepto do estilo hippie e vivia viajando pelo país vendendo os produtos que fabricava. Essa vida nômade, sem residência fixa por um tempo maior, também dificultou os trabalhos de investigação que acabaram resultando em sua prisão.
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