ASPROC ajuda a aumentar produção e produtividade rural de Carauari (AM)

06-12asprocCarauari, AM -Uma associação criada por produtores rurais, incluindo assentados da reforma agrária do INCRA, vem transformando e melhorando as condições de vida dos trabalhadores da terra no município de Carauari, fato que véu aumentando a produção e os negócios dos agricultores familiares do município.

Estamos falando da Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC), que elaborou e distribuiu um belo trabalho jornalístico e que resolvemos postar alguns dos interessantes tópicos desse trabalho realizando com muita força, dedicação e a união de todos.

A Mudança

Até os anos 1980, as famílias ribeirinhas do rio Juruá eram dependentes, economicamente, de “patrões” e regatões que ditavam e gerenciavam o sistema econômico na região.

Com a crescente utilização do látex e valorização do mesmo no mercado internacional, no século XIX, houve, em vários momentos, migrações de nordestinos para a região, que aqui passaram a utilizar técnicas indígenas para a extração da seiva, transformada, posteriormente, em borracha. Este negócio era altamente rentável para os “patrões” que além de comercializarem um produto rentável, o obtinham por me da mão de obra semi escrava dos habitantes locais.

Os chamados “patrões” se intitulavam donos das terras da região, e. sob este pressuposto, se investiam do direito de dominar os recursos naturais, as quais as famílias necessitavam para sobreviver, e de controlar as necessidades básicas das populações locais que tinham a alimentação a saúde e o transporte precários e dependentes de uma política de troca injusta.

Diante dessa realidade reproduzida durante décadas, sociedade civil organizada, em especial a iniciativa da Igreja já Católica, que, no Brasil, após duas décadas de repressão estava ainda mais obstinada em levar informação aos ma desfavorecidos socialmente, incorporou uma força de trabalhar para fazer um enfrentamento aos “patrões” da região do médio Juruá.

Foi assim que o Movimento de Educação de Base: (MEB), com o trabalho de educação popular, proporcione aos ribeirinhos, sem escravos daquele sistema, uma tomada de consciência da necessidade da organização social para a formação e empoderamento de sujeitos aptos a integrarem um processo de transformação da realidade.

06-12asproc4O início

Neste contexto, foi criada, em 1991, a Associação dos Produtores Rurais de Carauari – (ASPROC) pelos próprios trabalhadores ribeirinhos, com o objetivo de organizar e comercializar a produção da região, de modo a garantir renda familiar e conservar os recursos naturais que os mantêm, em um município com problemas típicos dos municípios da região Norte: isolados e esquecidos pelos poderes públicos que deveriam promover uma mínima estrutura de subsistência à população.

Carauari é um município localizado às margens do rio Juruá,  rio mais sinuoso do mundo, distante de Manaus, em linha reta, 782 km e pelo rio 1540 km, com Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,599, abaixo da média brasileira, que é de 0,730, e uma população de 25.774 habitantes (IBGE/Censo 2010).

Contribuição significativa

No passado, esta realidade era bem pior. e foi assim em meio a um cenário desfavorável socialmente, que a ASPROC se consolidou. Ao longo destes 22 anos, a Associação tem contribuído significativamente com a conquista de melhorias ambientais, econômicas e sociais pelas famílias que residem nesta região.

Esta contribuição acontece principalmente de duas formas: l – pautando discussões para proposições e reivindicações de políticas e programas de interesse da base, nas áreas social, econômica e ambiental, e 2  executando ações e projetos definidos em assembleias pelos moradores da região.

A ASPROC é hoje uma organização local que propõe discussões em nível local, regional e nacional para as populações tradicionais locais, por meio de parcerias, e suscita discussões pertinentes às políticas de educação, saúde, organização e comercialização da produção e infraestrutura junto aos governos Municipal e Estadual para as comunidades ribeirinhas da região.

06-12asproc1Participação do INCRA

Por ser a instituição responsável pela Reforma Agrária no país e consequentemente com grande participação no campo da agricultura familiar, o INCRA tem importante participação em todo esse processo de transformação no município de Carauari.

O reconhecimento dos moradores da Reserva Extrativista do Médio Juruá (Resex)  como beneficiários da reforma agrária, passaram a ter direito e a receber os vários benefícios do Governo Federal, através do INCRA.

Vale ressaltar que esse foi o primeiro reconhecimento no Brasil dentro de Unidades de Conservação.

Em função desse reconhecimento, a ASPROC em parceria do o INCRA, os investimentos começaram a ser conquistados e os trabalhadores homens e mulheres do campo pudessem continuar trabalhando de forma sustentável.

Em seguida, através do Crédito Habitação disponibilizado pelo INCRA, chegaram as moradias para os ribeirinhos, que agora moram e trabalham com dignidade.

Falta de oportunidades

Um dos principais e maiores problemas das comunidades isoladas da Amazônia está associado à falta de oportunidades para comercializar a produção sustentável das comunidades ribeirinhas. Esta situação levava as famílias a não produzir em excedentes para comercializar e fazia com que as mesmas deixassem de consumir produtos importantes para uma vida saudável, pois não tinham condições financeiras para adquiri-los.

A única oportunidade de venda era quando barcos dos regatões entravam pelos rios e chegavam à região para comercializar produtos provenientes de atividades ambientalmente não recomendáveis como a pesca predatória, a caça comercial de animais silvestres, extração ilegal de madeira e captura de quelônios. Pois estes produtos tinham mercado certo.

Os regatões. ainda presentes na região, são pequenos comerciantes que se deslocam em barcos regionais pelos rios, vendendo mercadorias industrializadas por preços exorbitantes, no mínimo duas vezes o valor vendido na cidade, ou pela troca por recursos naturais. Ou seja. este sistema de trocas injustas deixava as famílias em situação de insegurança alimentar peia exploração a qual estavam submetidas.

Nesta região, esse processo de exploração se agravava em função do isolamento das comunidades ribeirinhas. A distância entre o rural e o urbano, neste caso, chega a 52 horas de viagem de barco. Os custos de deslocamento de muito tempo longe do seu local de trabalho, na busca de mercado.

Associados a esta impossibilidade de comercialização da produção sustentável, viviam a: l – falta de planejamento da produção; II – limitação no gerenciamento do processo deprodução comunitária; III – falta de estrutura para produzir e comercializar a produção local; IV – restrição do mercado local para comercializar os produtos da região; V – baixa qualidade dos produtos da agricultura familiar; VI – fragilidade no sistema de comunicação nas comunidades ribeirinhas.

Estes problemas foram identificados pelas comunidades. Em cada evento coletivo das comunidades eram discutidos, inclusive, formas de superá-los, mas só a partir do ano de 2009 os próprios ribeirinhos encontraram a forma mais eficaz de combatê-los.

06-12asproc2Nos últimos cinco anos, a Associação vem implementando, com apoio da Petrobras e da UNB, em comunidades da Resex do Médio Juruá e RDS Uacari, uma das ações mais eficientes de saúde já recebidas pelos ribeirinhos da região. Trata-se de sistemas de saneamento básico, por meio dos quais é garantida a instalação de mecanismos de esgoto sanitário, a disposição de resíduos e abastecimento de água potável, o gerenciamento do sistema e a promoção de ações de acompanhamento parasitológico e educação ambiental/sanitária nas comunidades.

O projeto, na primeira comunidade já avaliada, provou ser viável ao reduzir significativamente doenças causadas por verminoses.

Processos produtivos

O esforço da ASPROC em organizar os processos produtivos e de comercialização, por meio da dinamização nos processos de comercialização da produção, da busca e conquista de novos mercados para os produtos da agricultura familiar e extrativistas, do incentivo à diversificação e ao aumento da produção com oferta de melhores preços e infraestrutura – associados a outras conquistas sociais, rompeu o subdesenvolvimento na região do Médio Juruá e possibilita o aumento da renda familiar. Tais processos – os consolidados e os em consolidação – têm levado comunidades ribeirinhas à autossustentabilidade e ao fortalecimento dos princípios da autogestão e do uso sustentável dos recursos naturais.

A Implantação do Projeto Comércio Ribeirinho da Cidadania e Solidário (CRCS) viabilizou a garantia da comercialização da produção sustentável dos ribeirinhos da região, sem que estes percam tempo e recursos no processo de comercialização, já que o CRSC garante a comercialização nas próprias comunidades, com preço de mercado, e oferece gêneros alimentícios básicos aos ribeirinhos no preço do comércio mais barato da sede do município, distante até quatro dias das comunidades.

Este projeto dobrou o poder de compra dos ribeirinhos, historicamente explorados e marginalizados.

06-12asproc3Depoimento

“Antes acordava às duas horas da manhã para trabalhar, retornando apenas às três da tarde. Trabalhava apenas com a companhia de Deus e a constante pressão de ter que produzir para poder alimentar minha família. Me considerava escravizado. Éramos obrigados a comprar as mercadorias do patrão e vender a produção para ele e, caso não a vendêssemos, corríamos o risco de sermos expulsos da terra onde morávamos. Dentro de minha casa tinha apenas a rede na qua! dormíamos, e, pelo preço que vendíamos a mercadoria, não poderia ter mais que aquilo”.

Esse relato é do agricultor Sebastião Pinto de Souza, de 58 anos, morador da Comunidade do Roque, eleito o primeiro presidente da ASPROC, mas a realidade em que ele vivia foi transformada pela união de pessoas que, não conformadas pela forma que viviam, se mobilizaram e, em um esforço coletivo, criaram aquela que é a mãe de muitos filhos, a Associação dos Produtores Rurais de Carauari.

Seu Sebastião relata que, na época em que presidiu a Associação, as dificuldades eram muitas: cumprir com os pagamentos dos aluguéis da sede em Carauari, difícil acesso a outras organizações e dificuldade no transporte da produção e dos produtos para as comunidades pela falta de barco próprio.

Mas, hoje em dia, é com muita alegria que este trabalhador destaca as evoluções realizadas pela Associação.

“É muito bom poder olhar para as conquistas que a Associação obteve ao longo dos anos. Hoje temos uma sede própria, um barco que comporta 40 toneladas, um capital de giro de mais de R$ 600 mil, cantinas com mercadorias que nunca pensávamos que teríamos como comprar, onde só tínhamos acesso se comprássemos dos regatoes e por um preço de uma saca de farinha para duas latas de leite.

Hoje, vendemos uma saca de farinha para a ASPROC por um valor correspondente a 18 latas de leite e, dentro de nossas casas, temos freezer, televisão, máquina de lavar eninguém mais precisa dormir em rede, pois todos dormem em cama, com a certeza do compromisso de que tudo que produzirmos a ASPROC vai comprara um preço justo pelo suor que derramamos”.

Amazonianarede – Material jornalistico produzido pela Asproc

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