Afonso Lobo oferecia vantagens à Moustafa na Sefaz e foi agraciado com R$ 2,2 milhões

Afonso Lobo oferecia vantagens à Moustafa na Sefaz e foi agraciado com 2,2 milhões

Viagens, ingressos para Copa e mais de R$ 30 mil em vinhos foram alguns dos benefícios concedidos a Lobo, segundo investigação da ‘Maus Caminhos’.

Manaus, AM –  O ex-secretário de Estado de Fazenda do Amazonas Afonso Lobo recebia benefícios de Mouhamad Moustafa – apontado como líder do esquema que desviou milhões da saúde pública – para agilizar a liberação de pagamentos, na Sefaz, do grupo empresarial liderado pelo médico. Moustafa, Afonso Lobo, outros quatro ex-secretários e o ex-governador José Melo estão presos por suspeita de envolvimento na organização criminosa.

O caso foi descoberto na Operação Maus Caminhos, deflagrada em 2016, que apontou desvio de mais de R$ 110 milhões, por meio de contratos da Secretaria de Saúde (Susam) com o Instituto Novos Caminhos (INC), liderado por Moustafa. A 2ª fase da ação apurou o envolvimento de agentes públicos nas irregularidades, incluindo ex-secretários do governo Melo.

Além do INC, foram beneficiadas as empresasTotal Saúde, Simea, Salvare – todas de propriedade de Moustafa.

Relatório da investigação

O relatório da investigação obtido pela reportagem mostra que Lobo dava prioridade e agilizava liberações de recursos para a organização social INC e recebia como pagamentos hospedagens em hotéis, motoristas e seguranças, além de ingressos para jogos de futebol da Copa do Mundo de 2014.

A investigação aponta que o valor total de vantagens recebidas por Lobo é de R$ 2.245.746,20. Somente com ingressos para shows, Afonso Lobo recebeu R$ 9.530. Além disso, foram transferidos R$ 600 mil de empresas do médico para as outras empresas a pedido de Lobo. O ex-titular da Sefaz recebeu ainda mais de R$ 33 mil em vinhos de Moustafa.

Ingressos para a Copa

Em uma das conversas interceptadas pela Polícia Federal, no dia 30 de maio de 2014, Mouhamad Moustafa e Afonso Lobo falam sobre ingressos para a final da Copa do Mundo de Futebol 2014, que foi realizada no dia 13 de agosto daquele ano no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

Lobo pede três ingressos, mas o médico afirma ter apenas três. No dia seguinte, no entanto, o médico envia fotos dos ingressos e informa que já resolveu a questão do terceiro ingresso, que custou R$ 1.980.

Em um outro diálogo, no dia 5 de novembro de 2015, o ex-secretário de Fazenda pede ingressos para um show nacional.

Na sequência, o médico pede ajuda para a liberação de pagamentos para as empresas Salvare e Total. Ele envia uma programação de pagamentos do Governo. Afonso Lobo responde dizendo que serão destinados R$ 800 mil para a Salvare e que valor da empresa Total será feito na íntegra.

De acordo com o relatório da investigação, dois dias úteis após o pedido, foram liberados R$ 1.175.055,65 em nome da Salvare e Total Saúde, sendo R$ 825 mil somente da Salvare.

Prioridade garantida

Em outras mensagens, Afonso Lobo revela a Mouhamad que ele tem “prioridade” quanto aos pagamentos.

Os documentos mostram que o ex-secretário tinha uma relação estreita com o médico.

Em uma  outra conversa, Lobo diz: “amigo, vou a brasília será que consegue aquele flat pra mim? (sic)”. Mouhamad responde: “claro, irmão”. O médico ainda pergunta se o secretário quer um carro com motorista, quando chegar em Brasília. No dia seguinte, a conversa continua. Mouhamad confirma a hospedagem de Afonso Lobo em um hotel na capital Federal e manda foto da reserva. Lobo agradece e o médico responde: “você é meu rei doutor (sic)”.

A investigação mostra ainda que o médico levou a quantia de R$ 60 mil para Afonso Lobo “em troca de liberação de pagamentos em favor de suas empresas”. Ele teria ido direto do aeroporto de Manaus, após chegar de viagem, para a Sefaz encontrar com Lobo no dia 31 de agosto do ano passado.

Após análise de objetos apreendidos na operação Maus Caminhos a Polícia Federal diz que foi possível verificar conversas de Whatsapp no dia do fato. Em uma delas, Moustafa pede para Priscila Coutinho – operadora financeira do médico e também envolvida nos pagamentos – mandar um envelope com “60” para que ele possa sair do aeroporto e ir direto na Sefaz “tentar liberar”. A liberação seria de pagamentos, segundo a investigação, .

Câmeras de segurança da Secretaria de Fazenda registram no mesmo dia a chegada do médico no local. Ele aparece acompanhado de um homem que carrega uma bolsa. Eles entram e, 19 minutos depois, deixam o prédio.

|Amazonianarede-G1

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