Amazonianarede – Osny Araújo
Como homenagem um pouco tardia ao Estado de Rondônia, aos seus idealizadores e trabalhadores que tombaram na sua heroica construção, o Portalamazonianarede, lança está matéria para lembrar um importante marco na história da Amazônia no chamado tempo áureo da borracha ou se preferirem, do “ouro negro”, quando essa grande epopeia ocorreu em nossa região. A ferrovia foi inaugurada em fevereiro de 1912 e agora, tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional e as autoridades rondonienses lutam para ser Patrimônio da Humanidade.
A histórica e lendária Ferrovia Madeira-Mamoré, ligando Porto Velho a cidade de Guajará-Mirim, no Estado de Rondônia, está comemorando este ano o seu primeiro centenário, por isso, o Portal Amazonianarede resolveu falar um pouco dessa obra que foi uma grande epopéia à época, com muitos desafios e mortes, numa época em que a borracha, o chamado ”ouro negro” era a grande fonte da economia regional.
Desativa há muito tempo e até mesmo relegando ao abandono pelo Poder Público, ela continua sendo um dos principais e mais importantes cartões postais de Rondônia e por isso mesmo, é sem nenhuma dúvida a maior atração turística de Porto Velho, até porque conta um pouco da história do Estado incluindo sacrifício à bravura e o sacrifício de um povo.
Construída no período de 1907 a 1912, a Ferrovia Madeira-Mamoré, (EFMM) com366 km de extensão rasgando a florestada Amazônia, foi uma obra difícil e que contou com a participação de mais de vinte mil trabalhadores de aproximadamente 50 países e ceifou milhares devidas de brasileiros e estrangeiros que se aventuram a participar do grande desafio. A maior parte vitima de doenças tropicais, especialmente à malária, época em que a regiãovivia inteiramente isolada do resto do país.
Ainda no século XIX, ocorreram duas tentativas frustradas para a sua construção, o boato de que mesmo com todo o dinheiro do mundo e a metade da sua população trabalhando no projeto, seria impossível o sucesso do empreendimento, face às dificuldades de logísticas em função do isolamento da área e as peculiaridades naturais da região e os ataques das doenças tropicais, lideradas pela malária, inviabilizariam a execução do projeto.
Apesar de esse mito ter se espalhado, o empreendedor norte-americano Percival Farquhar não se deixou contagiar por essa onda negativa e resolveu topar o grande desafio de construir a ferrovia e chegou a afirmar quando se decidiu em tocar o projeto, que “a Madeira-Mamoré seria o seu cartão de visitas”.
Coube a essa ferrovia na Amazônia, ir para a história como a primeira grande obra da engenharia civil americana a ser executada fora dos Estados Unidos.
Farquhar que havia atuando na construção do Canal do Panamá, onde adquiriu experiências e aprendeu a lidar com doenças tropicais, uma das primeiras providências do empreendedor foi à contratação do sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz que em visitas ao canteiro de obras iniciou um trabalho sanitário de saneamento da região, diminuindo em muito o fluxo das doenças tropicais, notadamente a malária, mas ainda assim, a doença atava em larga escala os operários, provocando muitas mortes.
POSSE DA FRONTEIRA
Essa ação empreendedora de Farquhar com a construção da EFMM garantiu ao Brasil a posse da fronteira com a Colômbia e ainda e ainda permitiu a colonização de uma vasta região do território amazônico, partindo da cidade de Porto Velho, fundada em 4 de julho de 1907.
Em reconhecimento a esse grandioso trabalho, o ano passado (2011) o Governo do Estado de Rondônia, numa homenagem a esses heroicos desbravadores, concedeua comenda Marechal Rondon a Percival Farquhar e os 876 americanos que comandaram a desafiadora construção e para comemorar o ano do centenário, em fevereiro, o Governo do Estado instalou solenemente o Co0motê Pré-Candidatura da Estrada de Ferrovia Madeira-Mamoré a condição de Patrimônio Mundial da UNESCO.
SAÍDA PARA O ATLÂNTICO
Tudo começou quando em 1846, o engenheiro boliviano José Augustin Palácios, homem de palavra fácil e fortesargumentos, resolveu conversar com as autoridades locais e falou da idéia de que a melhor saída do seu País para o Atlântico será bela Bacia Amazônica.
Naquele tempo, as dificuldades para transpor a Cordilheira dos Andes e na grande distância do Oceano Pacíficodos mercados europeus e nortemericanos e foi a partir daí, que em 1851, o Governo americano interessado na melhor saída para a importação de seus produtos, resolveu estudar a viabilidade do empreendimento via rio Amazonas.
O Estudo comanda a Bolívia e Belém, descendo pelo lado boliviano os rios Guaporé, Mamoré e Amazonas e a idéia de Palácios foi ratificada, quando ficou comprovado que uma viagem através de uma ferrovia margeando o Madeira, demoraria 59 dias os 180 consumidos pelo Oceano Pacífico.
TRATADO DE PETRÓPOLIS
Com a assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903, já com a região apresentando uma espetacular produção de borracha, chamado conhecido na Amazônia como o “ouro Negro” e o grande sustentáculo econômico da época e numa questão com a Bolívia envolvendo o Acre, o Brasil tomou posse do território acreano e a partir daí teve início da implantação da Madeira-Mamoré Railway.
O principal objetivo de toda essa negociação, dizem os historiados, era vencer o trecho perigoso e encachoeira do rio Madeira, para facilitar o escoamento da borracha boliviana e brasileira e outras mercadorias até que chegassem a um ponto onde pudessem ser embarcadas para a exportação, partindo de Porto Velho, seguido a partir daí viagem pelo rio Amazonas até o Oceano Atlântico.
No início de 1907, o projeto para a construção da Estada de Ferro Madeira-Mamoré, ligando Porto Velho a Guajar5á-Mirim, foi encampado pelo empreendedor estudunidense Percival Farquhar.
O grande desafio foi iniciadoem 1907. As dificuldades de logística, transporte, insanidade da área e outros fatos, retardaram em muito a obra, com o registro de milhares de mortes por doenças tropicais, mas ainda assim a obra avançou e no dia 1º de agosto de 1912 a ferrovia foi inaugurada e estavam ligadas através dela as cidades de Porto Velho e Guajará-mirim. Um fato heróico e histórico para a época na Amazônia.
DECADÊNCIA E CRISE
Em pleno século XX, com a explosão da segunda guerra mundial, a Madeira-Mamoré, ganhou uma grande importância estratégica para o Brasil, operando a todo o vapor para transportar a borracha produzida na região, participando da guerra pelos aliados.
No ano de 1957 a EFMM ainda registrava um intenso movimento de passageiros e cargas, com a participação das 17 empresas que constituíam o consorcio, mas os tempos eram difíceis e a crise começou a se alastrar e a decadência era apenas questão de pouco tempo.
Após 54 anos ininterruptos de atividades, o então presidente do regime militar, o mesmo que criou a Zona Franca de Manaus, Humberto de Alencar Castelo Branco, o primeiro do regime, determinou a sua desativação, mas assinalava na oportunidade que a ferrovia deveria ser substituída por uma rodovia para que não houvesse o rompimento do acordo de Petrópolis em 1903, fato que foi materializado não na sua totalidade, mas com construção das BRs 425 e3 364 ligando Porto Velho a Guajará-mirim e no dia 10 de julho de 1972 as chamadas “Marias fumaças” que cortavam a ferrovia apontaram pela última vez. Era o fim da histórica e lendária Estrada de Ferro madeira-Mamoré e o acervo começou a ser comprado pelas siderúrgicas como sucata.
TURISMO
Considerada uma dos cartões postais de Rondônia e em especial da sua capital Porto Velho, ponto muito visitado por turistas, em 1981 a ”Maria fumaça” voltou a apitar e os três começaram a percorrer um percurso de apenas 7 dos 366 km, com a finalidade básica de atender a demanda turística, mas foi novamente paralisada em 2000.
Passados cinco anos, composição voltou a ser acionada para uma única viagem transportando convidados especiais para uma missa de finados no Cemitério da Candelária, em memória as centenas de operáriosdasmais diferentes nacionalidades que perderam as vidas na sua construção.
PATRIMÔNIO HISTÓRICO NACIONAL
Nesse mesmo ano, as autoridades preocupadas com a preservação da história e vendo o valor turístico da EFMM para o Estado e consequentemente para sua economiae cultura, no dia 10 de Novembro de 2015 a ferrovia foi tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e em novembro do ano passado foi autorizada a sua restauração e veio também o seu tombamento como Patrimônio Cultural Brasileiro.
Dentro desse contexto, o IPHN determinou a restauração da sua grande oficina com 5.700 m² e 13 m de altura.
Vale ressaltar que todo esse trabalho de revitalização de parte da EFMM, está sendo inteiramente custeado pelas compensações dos impactos ambientais e outros causados pelas construções das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau no rio Madeira, com o término desse trabalho previsto para o ano de 2014.
Quando tudo estiver pronto, as locomotivas num determinado trecho da ferrovia deverão voltar a funcionar como trens turísticos, num raio de aproximadamente 8 km, entre a estação de Porto Velho e Santo Antônio, fato que sem nenhuma dúvida será uma grande atração para o turismo da cidade.
PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
No ano que festeja o seu centenário, o Governo do Estado de Rondônia, dedica uma atenção especial a esse pedaço importante da história do Estado e defende com todas as forças o título de Patrimônio Histórica da Humanidade para a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. Nesse sentido, o Governo do Estado já deu o primeiro e importante passo com a completa restauração do Museu de Guajará-Mirim.
Por entender a grande importância que tem a EFMM para a história e para a própria cultura do Estado e da Amazônia, o governador Confúcio Aires Moura, sabe que a luta não será fácil para colocá-la como Patrimônio Histórico da Humanidade, mas acredita plenamente nessa possibilidade.
Para o governador, chegou o momento desse reconhecimento que é concedido pela Organização das Nações Unidades para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), reconhecimento internacional até pela história que carrega a lendária Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
A petição que deu início a esse pleito foi assinada recentemente pelo governador Confúcio e a partir de agora, o Governo vai para o campo objetivando colher assinaturas suficientes a serem encaminhadas a UNESCO em apoio à iniciativa.
MADEIRA-MAMORÉ NA TV
A fascinante história, construída no coração desta Amazônia exuberante, exótica, misteriora, com uma natureza fantástica e cobiçada internacionalmente, enriquecendo a história pátria, foi contada um pouco pela Televisão, ou mais precisamentge pela TV Globo com uma série de muito sucesso intitulada “Mad Maria”.
Mad Maria é um minisérie produzida e exibida pela Rede Globo e pelo Canal Futura, entre 25 de janeiro e 25 de março de 2005 com 35 capílos.
Escrita por Benedito Ruy Barnosa e direção de Ricardo Waddington, foi baseada no romance homônimo dintelectiual amazonense Márcio de Souza, que retrata a incrível construção da impossível Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM).
A minissérie foi gravada nas cidades de Porto Velho e Guajará-Mirim, jno estado de Rondônia, região Norte e as finais foram rodadas em Minas Gerais, na cidade de Passa Quatro.
Essa obra televisa, contou com o primeiro time de atores da Rede Globo, como Antonio Fagundes, Priscila Fantin, Fábio Assunção, Ana Paula Arósio, Tony Ramos, Cásia Kiss, Fidélis Baniwa, Claudia Taia e Juca de Oliveira, nos papéis principais.
Suas chamadas para o início da minissérie, veiculadas na programação da Globo e Globo Internacional, usaram a expressão: “Uma das mais fantásticas páginas da História do Brasil”.
A minissérie Mad Maria esteve engavetada por 20 anos, quando o diretor artístico da emissoara José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, mostrou o livro homônimo do escritor amazonense Márcio de Souza a Benedito Ruy Barnosa e pediu que ele o transformasse em uma minissérie. Escrita entre 1980 e 1981, a minissérie deixou de ser produzida, uma vez que na época não existia os recursos necessários para o empreendimento.
Para as primeiras gravações, foram usadas locações em Ronmdônia: Abunã e Porto Velho. Para gravações feitas em Abunã, foi necessário reconstruir seis quilômetros de trilhos que estavam soterrados por barro e mato, e reformar a Mad Maria, nome da locomotiva que há um século abria a estrada de ferro.
Ao todo, a minissérie mobilizou cerca de 400 funcionários em Rondônia. Elenco e Técnicos geraram só nos trinta dias que ficaram em Guajará-Mirim, uma das bases de gravações, o impacto de um milhão de reais da economia local. A minissérie como um todo, foi orçada em cerca de doze milhões de reais, uma das mais caras da história da emissora.
A minissérie também foi exibida pela Globo Internacional, e a Globo Marcas lançou o livro Uma Saga Amazônica Através da Minissérie Mad Maria, que retrata as gravações. A trilha sonora produzida especialmente para a minissérie.
(Fonte: Esta matéria foi elaborada com pesquisas na Wikipédia, Rede Globo outras fontes da internet, historiadores e Governo de Rondônia.)