Amazonianarede – Osny Araújo
Manaus – Protegido por lei, o peixe-boi da Amazônia, uma mamífero de carne saborosa de cor clara e vermelha, que no passado fazia parte abertamente da culinária amazonense, a exemplo do que ocorre com a tartaruga, é proibida a sua captura, mas continua sendo comercializado nos centros urbanos de forma clandestina e criminosa, especialmente nas feiras periféricas, onde a fiscalização é mais difícil.
Há alguns anos, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia ( INPA) com a participação da Associação Amigos do Peixe-boi, vem trabalhando na assistência a espécie, inclusive com a reprodução em cativeiro, mas ainda esta muito longe o dia em que a sua reprodução poderá ocorrer como já temos a da tartaruga, onde os criatórios já começam a fornecer o quelônios para famosos restaurantes da cidade, com o devido licenciamento dos órgãos ambientais para a sua criação e reprodução em cativeiro.
Com Peixe-boi, tudo é muito mais delicado e demorado, mas o trabalho cientifico foi iniciado e se desenvolve com muito sucesso pelo INPA, até para preservar a espécie na natureza.
O MAIOR
O peixe-boi da Amazônia é o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil conforme lista do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Desde 1967 a caça e a comercialização de produtos derivados dele são proibidos no Brasil, mas a melhor notícia para a espécie veio mesmo há 14 anos, quando num dia como hoje (7) veio ao mundo “Erê”,o primeiro peixe-boi da Amazônia a nascer em cativeiro.
O ‘bicho’ nasceu num dos aquários do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e abriu um leque de oportunidades para os cientistas aprenderem as características e o modo de vida da espécie, o que é fundamental para a preservação dela.
Embora tenha quase desaparecido dos rios do Estado, a população amazônida guarda uma grande identificação com a espécie.
FESTA DO PEIXE-BOI
A no município de Novo Airão – localizado a 115 quilômetros de Manaus -, um Festival do Peixe-Boi que envolve toda a comunidade central e as populações ribeirinhas do Parque Nacional das Anavilhanas.
O interessante é que em outros festivais, como o do Abacaxi, em Novo Remanso no município de Itacoatiara, do Açaí, em Codajás, da melancia, em Manicoré, do Leite, em Autazes, do Cupuaçu, em Presidente Figueiredo, da Laranja, no rio Preto da Eva, do Guaraná, em Maués, para citar alguns, durante os festivais o consumo dos produtos que dão nome aos festivais é muito grande, fato que não ocorre na Festa do Peixe-boi, que por ser uma espécie de captura proibida, tudo gira em torno de folclórico e lendas, sem que haja o consumo da sua carne e tudo, pela preservação da espécie, desse interessante mamífero aquático dos rios amazônicos.
O próprio nome Erê foi escolhido para o primeiro filhote nascido em cativeiro por meio de consulta à população do Amazonas.
O ASTRO DO AVIAQUÁRIO DA MATRIZ
Num passado não tão distante, quando ainda existia o famoso Aviaquário da Matriz, no centro histórico de Manaus, um peixe-boi também foi durante muitos anos a sua maior atração do parque Aviaquário localizado em plena praça da matriz Nossa Senhora da Conceição, no Centro de Manaus.
A espécie, era admirada por crianças, jovens e adultos e os turistas que por aqui chegavam, uma visita ao Aviaquário para ver outras espécies e principalmente o peixe-boi é grande e de lá todos saiam impressionados, principalmente os visitantes de outros países. Hoje o Aviaquário não existe mais, tudo ficou apenas na lembrança do que foi e o que representou um dia para a cidade.
Hoje, o peixe-boi pode ser visto e admirado pelos manauaras e turistas no Bosque da Ciência onde o INPA mantem as espécies, crianças, jovens e adultas em grandes tanques, com toda a assistência científica e técnica, ajudando dessa forma na preservação da nobre espécie mamífera aquática da Amazônia.
Uma frequência costumeira nesse interessante projeto mantido pelo INPA em parceria com a Associação Amigos do Peixe-boi, é dos estudantes, que de maneira isolada ou acompanhada de seus professores visitam as espécies e procuram se inteirar sobre o trabalho, as suas características, como vivem etc.
TUDO COMEÇOU EM 74
A pesquisa científica da espécie no Estado não representa nenhuma novidade e té bem antiga, tendo começado no ano de 1974 no INPA. A mãe de Erê, batizada de ‘Boo’ foi a segunda da espécie a ser levada para estudos instituto.
Conforme declaração do veterinário da instituição Anselmo d‘Afonseca, no sítio do instituto na Internet, o nascimento foi um acontecimento importante para obtenção de mais informações sobre a biologia da espécie.
“A partir desse nascimento, começamos a ter dados sobre a interação de mãe e filhote, a composição do leite, da vocalização da mãe e filhote, da época de desmame, foi possível também começar a comparar o crescimento do Erê com os filhotes órfãos”, explica o veterinário.
O sucesso na pesquisa incentivou o Inpa a criar um conjunto de aquários no Bosque da Ciência, localizado no bairro Aleixo, Zona Centro-Sul de Manaus, só para peixes-boi e eles são a principal atração para crianças e adultos que frequentam o local aos domingos.
Portanto, neste domingo (7) será dia de festa e de comemorar o salto proporcionado por Erê à preservação da espécie.
ÚNICA EM ÁGUA DOCE
O peixe-boi da Amazônia é uma espécie única da ordem sirênia, a qual está ligado também o peixe-boi marinho. É um mamífero aquático que se alimenta de plantas e habita somente as bacias dos rios Amazonas, no Brasil, e Orinoco, no Peru. Dessa ordem é o único que vive em água doce.
Embora a pesquisa científica tenha avançado na busca da reprodução em cativeiro e a caça tenha sido reduzida, a espécie ainda convive com o risco de extinção, sobretudo em função da pesca predatória.
Os pescadores que se utilizam de redes de arrastão acabam capturando a mãe e não perdem a viagem matando-a. Em consequência, o filho acaba morrendo por não contar mais com o alimento e a proteção.
Do peixe-boi é feito a mixira, um composto da carne dele maturada na própria gordura. A gordura também é usada para fins de iluminação em comunidades do interior.
LONGEVIDADE
O tempo de vida do peixe-boi da Amazônia conforme estudos científicos é de 50 anos. Houve casos de animais excepcionais que chegaram aos 60 anos.
Os cientistas apontam que o principal fator para o encurtamento da vida da espécie é a predação feita pelo homem. Um indivíduo adulto pode atingir facilmente os 300 quilos e medir aproximadamente 2,5 metros.
AQUI, SÓ DEUS
Como o peixe-muito é muito difícil de ser capturado e o pirarucu uma presa fácil, essas duas espécies, as maiores dos rios da Amazônia, devido a esse fatio, fez com que surgissem uma série de lendas na r3gião enfocando a questão e que são contadas em meio a muitas risadas pelos caboclos e pescadores da Amazônia, tentando explicar porque é tão difícil se capturar u peixe boi e as facilidade a facilidade que o fato ocorre cm o pirarucu, outra espécie muito apreciada na culinária amazônica.
Essa lenda diz mais ou menos que Deus ao criar as duas espécies, as levou para colocar no rio, como dois bons companheiros e assim foi feito.
Primeiro, Deus pegou o pirarucu e o entregou a natureza, colocando-o no rio e após uma ligeira mergulho, o peixe veio a tona e teria dito, ao ver a imensidão do rio – “aqui, nem Deus “, mergulhou e partiu.
Já com o peixe-boi, a história foi um pouco diferente, não no seu ritual, mas no comportamento da espécie. Assim como fez com o pirarucu, Deus colocou o peixe-boi na água que também mergulhou e voltou a tona, após ter uma ideia da imensidão da sua nova morada e balbuciou – “Aqui, só Deus”, por isso, segundo os caboclos da região, a captura do pirarucu é feita com relativa facilidade e a do peixe-boi, é uma tarefa árdua, difícil, quase uma aventura.
CARACTRÍSTICAS
O peixe-boi, uma espécie que tem uma mistura de boi com peixe, tem o couro grosso e escuro e algumas barbichas. Sua carne, muito saborosa e agora com o consumo proibido, é uma mistura de branca e vermelha e seus hábitos são solitários, raramente são vistos em grupo fora da época de acasalamento.
Alimentam-se de algas, capins aquáticos entre outras plantas. Com isso controlam o crescimento das plantas aquáticas e fertilizam com suas fezes as águas que frequentam, contribuindo para a produtividade pesqueira.
Um peixe-boi adulto pode comer até 16 kg de plantas por dia e consegue armazenar até 50 litros de gordura como fonte energética para a época da seca, quando as gramíneas de que se alimenta diminuem de disponibilidade.
As nadadeiras, que ainda apresentam resquícios de unhas, ajudam o animal a escavar e arrancar a vegetação aquática enraizada no fundo.
Essa alimentação contém sílica, elemento que desgasta os dentes com rapidez, mas também a isso os manatis estão adaptados: os molares deslocam-se para a frente cerca de 1 mm por mês e se desprendem quando estão completamente desgastados, sendo substituídos por dentes novos situados na parte posterior da mandíbula
A espécie possui baixa taxa de reprodução: a fêmea tem geralmente um filhote a cada três anos, sendo um ano de gestação e dois anos de amamentação. Nasce apenas um filhote por vez.
Ameaçados de extinção no Brasil, são protegidos desde 1990 pelo Centro Nacional de Conservação e Manejo de Sirênios. O seu tempo de vida gira em torno de 50 anos.
(Esta matéria foi elaborada com informações do INPA, pesquisas, incluindo uma de um trabalho de Gerson Dantas)