
Pesquisadores detectam ondas magnéticas que explicam o aquecimento extremo da coroa solar
Pesquisadores finalmente encontraram a peça que faltava para resolver um dos maiores enigmas da física solar: o motivo pelo qual a atmosfera externa do Sol, conhecida como coroa, atinge temperaturas de milhões de graus Celsius, enquanto a superfície do astro permanece em torno de 5,5 mil °C.
O mistério, que intrigava cientistas desde os anos 1940, pode ter sido solucionado com a detecção direta de minúsculas ondas magnéticas chamadas ondas de Alfvén torsionais.
A descoberta, publicada na revista Nature Astronomy, foi feita por uma equipe internacional liderada pelo professor Richard Morton, da Universidade de Northumbria, no Reino Unido. Utilizando o mais poderoso telescópio solar já construído, o Daniel K. Inouye, no Havaí, os pesquisadores observaram pela primeira vez as ondulações que torcem as linhas magnéticas do Sol, transportando energia capaz de aquecer a coroa a temperaturas extremas.
Essas ondas, previstas em 1942 pelo físico sueco e ganhador do Nobel Hannes Alfvén, haviam sido detectadas apenas em escalas maiores e associadas a erupções solares. Agora, os cientistas confirmaram que versões menores dessas ondas, presentes de forma contínua, permeiam a atmosfera solar e podem ser a chave para explicar seu “calor impossível”.
O avanço foi possível graças ao instrumento Cryogenic Near Infrared Spectropolarimeter (Cryo-NIRSP), o espectropolarímetro infravermelho mais avançado do mundo. O equipamento detecta variações sutis no movimento do plasma solar, permitindo medir deslocamentos que revelam o padrão de torção das ondas magnéticas. Com uma abertura de quatro metros, que é quatro vezes maior que a dos telescópios anteriores, o Inouye oferece um nível de detalhe sem precedentes sobre o comportamento da coroa.
Segundo o professor Morton, a principal dificuldade foi separar o movimento de torção de outras oscilações do plasma. “A coroa é dominada por movimentos oscilatórios que mascaram as torções. Tivemos de desenvolver novas técnicas analíticas para remover esse ruído e revelar as ondas magnéticas giratórias”, explicou. O estudo contou ainda com o apoio de universidades da China, Bélgica e Reino Unido, além do Observatório Solar Nacional dos Estados Unidos.
As imagens obtidas mostram o deslocamento do plasma aquecido a 1,6 milhão de graus, movendo-se para frente e para trás ao longo das estruturas magnéticas solares. Os cientistas registraram assinaturas opostas de velocidade — azuis e vermelhas — que indicam o movimento de torção característico das ondas de Alfvén. Modelos tridimensionais de computador confirmaram que o padrão observado corresponde ao previsto pelas teorias de transporte energético solar.
A implicação da descoberta vai além da astrofísica. As ondas de Alfvén estão diretamente ligadas à origem do vento solar, o fluxo constante de partículas carregadas que emana do Sol e influencia todo o Sistema Solar. Compreender como essas ondas transferem energia pode ajudar a prever tempestades solares capazes de afetar satélites, redes elétricas e sistemas de navegação na Terra.
Morton destaca que o achado valida décadas de modelos teóricos sobre o comportamento da coroa. “Essas observações diretas permitem testar, pela primeira vez, as previsões sobre como a energia é gerada e transportada pelo campo magnético solar”, afirmou. O pesquisador acredita que o Inouye abrirá uma nova era no estudo da física solar, oferecendo dados contínuos sobre as interações entre magnetismo e plasma.
O trabalho, financiado por instituições britânicas, europeias e chinesas, encerra uma busca científica que começou há mais de 70 anos. E, ao mesmo tempo, inaugura novos caminhos para entender a dinâmica energética do Sol.
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Do R7 Portal d24am



