São Paulo – Foi sofrido, com cara e espírito de Corinthians. Mas a vitória de 3 a 1 sobre o Fluminense, de virada, na Arena Corinthians, fez o torcedor corintiano soltar o grito de campeão brasileiro de 2017 com três rodadas de antecedência. Logo no primeiro minuto de jogo,
Henrique completou escanteio de cabeça e mostrou que a conquista do sétimo título nacional não viria sem suor. Jô, porém, virou o jogo em menos de quatro minutos do segundo tempo. E Jadson, que entrou após o intervalo, deu números finais ao confronto, levando a fiel torcida a acender os sinalizadores na Arena e antecipar ainda mais a festa do hepta.
Em maio deste ano, quando o Corinthians conquistou o Campeonato Paulista em cima da Ponte Preta, o clima alvinegro também era de euforia. Uma inesperada euforia. Contestado no início da temporada, para a qual não fez grandes investimentos, o clube parecia estar atrás dos seus três rivais paulistas – chegando a ser chamado, na época, de quarta força do estado.
Na entrevista coletiva após o título estadual, Fábio Carille, treinador que foi efetivado ao fim de 2016, resumiu o sentimento corintiano: “Nem sonhava com este início”.
Estilo Tite
Para manter o sucesso em uma temporada vitoriosa, Carille se baseou no estilo de jogo do mentor Tite. Mesmo quando o time parecia cair de produção, poucas alterações eram feitas no time titular, nunca mexendo no modo de jogar da equipe. O ídolo Cássio, a explosão de Guilherme Arana e as contratações pouco badaladas de Pablo, Gabriel, Clayson e Jô acabaram sendo pilares da campanha corintiana.
Cássio liderou a defesa, ponto forte da equipe, tendo à frente uma zaga segura formada por Pablo e Balbuena, protegida por Gabriel e auxiliada por Fágner e Arana – o último, revelação do Parque São Jorge, figurou como melhor de sua posição no Brasil e já chama a atenção de clubes como Sevilla e Barcelona. A estabilidade do meio-campo de Maycon, Rodriguinho e Jadson ressaltou o comprometimento do paraguaio Ángel Romero que, muito contestado como atacante, se destacou pelas funções defensivas. Na frente, Jô apareceu como referência. Artilheiro e melhor jogador da equipe campeã, anotou nada menos que dois gols no jogo que garantiu o título diante do Fluminense. Clayson, Camacho e Pedro Henrique ainda tiveram participação importante no campeonato, mesmo quase sempre vindo do banco.
Consistência
A consistência corintiana atingiu seu auge já no primeiro turno do Brasileirão. Em 19 jogos, a equipe de Carille alcançou 14 vitórias e cinco empates (47 pontos), uma marca jamais vista na história do campeonato, desde a competição fixou 20 clubes em disputa no formato de pontos corridos.
Da primeira rodada, quando estreou empatando com a Chapecoense em casa, até a vigésima, quando enfim perdeu para o Vitória, foram mais de três meses de invencibilidade. “Tem muito entendimento desde o primeiro dia”, chegou a dizer o treinador corintiano na oportunidade. “Estamos muito orgulhosos e felizes por esse momento”.
Neste meio, alguns jogos marcantes, como as vitórias em clássicos disputados em casa (2 a 0 contra o Santos e 3 a 2 contra o São Paulo), um 5 a 2 contra o Vasco em São Januário e um simbólico 2 a 0 contra o Palmeiras, jogando na casa do maior rival.
Corinthians x Palmeiras, além de ser conhecido como clássico mais importante de São Paulo, ficou também marcado como a grande disputa pelo título no Brasileirão 2017. Apesar de outros perseguidores ameaçarem corintianos ao longo do campeonato, como Grêmio e Santos, foi o Palmeiras quem se notabilizou como o maior adversário, pressionando o grupo de Carille em um momento decisivo do segundo turno.
Entretanto, o campeão levou a melhor. Quando o alvinegro não ganhava há quatro jogos e vivia seu momento mais frágil no ano, a Arena lotada presenciou um 3 a 2 a favor dos líderes, com gols de Romero, Balbuena e Jô, em jogo que frustrou de vez os palmeirenses e simbolizou o heptacampeonato.
Antes de vencer o Palmeiras pela segunda vez, Carille viveu o momento em que foi mais questionado em toda a sua pequena trajetória como treinador.
Primeiros jogos
Nos 12 primeiros jogos do returno, foram seis derrotas, três empates e somente três vitórias. Os resultados coincidiram com a previsão feita por Renato Gaúcho, em julho: “Anote o que eu estou falando, o Corinthians vai despencar”, disse o treinador do Grêmio. A queda de rendimento corintiana, no entanto, não foi aproveitada pelos concorrentes diretos (entre eles, o próprio Grêmio), e a liderança permaneceu intacta.
Tendo conquistado seu primeiro Campeonato Brasileiro apenas em 1990, o Corinthians ainda venceu duas vezes a competição no século passado: em 1998 e em 1999. Apesar de ter ganho também em 2005, a crescente nacional e internacional da equipe paulista só se intensificou após o clube ser rebaixado à segunda divisão, em 2007.
A partir daí, o projeto de recuperação, encabeçado em etapas diferentes pelo atacante Ronaldo e pelo técnico Tite, conquistou uma Copa do Brasil (2009) e três Campeonatos Brasileiros (2011, 2015 e 2017), além da Libertadores e do Mundial de Clubes em 2012. O heptacampeonato faz o Corinthians ultrapassar São Paulo (hexa em 2008) e Flamengo (hexa em 2009) na galeria de títulos do Brasileirão.
Discípulo de Tite
Na medida em que o trabalho coletivo de um time se destaca mais do que os valores individuais, naturalmente os méritos são dados ao treinador. No caso do Corinthians heptacampeão brasileiro, o treinador é Fábio Carille. Auxiliar do clube desde 2009, quando o técnico era Mano Menezes, Carille foi escolhido no fim de 2016 para comandar a equipe, substituindo Oswaldo de Oliveira.
Na época, o presidente Roberto de Andrade chegou a dizer que não efetivaria o auxiliar, ponderando nomes como Reinaldo Rueda, Guto Ferreira, Jair Ventura e Paulo Autuori antes do atual treinador. A escolha, no final, simbolizou o intuito da direção de não fazer grandes investimentos para a temporada seguinte.
Mesmo sem o aporte financeiro, Carille se utilizou do aprendizado que teve durante os anos trabalhando com Tite para montar uma equipe muito eficiente, que sonha em ter o mesmo sucesso alcançado pelo treinador da seleção brasileira no Parque São Jorge. 2017 foi, ao menos, promissor.
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