Qualidade das águas do Prosamim

Ronaldo Santos

 

 

Ronaldo Santos
Ronaldo Santos *

Algumas grandes capitais no mundo ostentam civilidade ao exporem o trato aos seus recursos ambientais, e mais especialmente, aos mananciais hídricos. Veja-se, por exemplo, os casos mais famosos como os rios Sena em Paris, o Tâmisa em Londres, o rio Tejo em Lisboa, entre outros.

Já no Brasil, temos as tentativas de despoluir o rio Tietê, em São Paulo, e a Baia de Guanabara, Rio de Janeiro (mais detalhes aqui). Como sabemos, estamos longe do ideal nestes casos.

Em nenhum destas cidades, contudo, a situação era (é) parecida com a de Manaus. Aqui, o problema passa pela concentração de populações de baixa renda (maioria) residindo sobre os mananciais. Portanto, obviamente não é justa uma comparação. A citação a estes casos apenas para mostrar em que lugar no tempo e espaço estamos quando assunto é a despoluição de rios em áreas urbanas.

As águas do Prosamim estão recuperadas?

O projeto Prosamim, como já falado no último texto (leia aqui) tem em um dos seus componentes o fator ambiental. Em linhas gerais, seria a recuperação da qualidade das águas dos igarapés que cortam a cidade de Manaus: além do aspecto visual, há a questão da qualidade da água em si, ou seja, aspectos físicos, químicos e biológicos que praticamente se perderam ao longo dos anos.

Para estes objetivos seria necessário, em linhas gerais: reestruturar as encostas evitando a caída de barranco e terra nas águas; retirar o lixo que lá foi jogado; zerar ou reduzir a emissão de esgoto “in natura”; tratar o esgoto oriundo das redondezas e, finalmente, conduzir campanhas para não mais haver resíduos sólidos sendo jogado em suas águas. Considerando que o sucesso destes objetivos depende de terceiros, não é pouca coisa.

Nuca demais lembrar, ainda, que em alguns casos, seria possível a revitalização das margens dos rios para lazer (com a criação de pequenos parques com valorização do paisagismo, por exemplo).

O visual

Do que se vê, até agora, as áreas que foram primeiramente trabalhadas pelo projeto apresentam aspecto visual desejável. Há pouco, ou nenhum lixo flutuando nas partes que há água (é importante distinguir que em alguns trechos os rios perderam substancial volume que antes era comum – ainda que em período mais seco. Isso se deve à redução da profundidade ocasionada por muito detrito jogado em suas águas).

Na maior parte, portanto, há resultados importantes quanto à quantidade de lixo que atualmente flutuam nas águas. Como houve retirada das casas – que em sua maioria ficava literalmente sobre as águas –  muito provavelmente reduziu-se a quantidade de esgoto doméstico que iam para as águas – o que, por conseqüência, reduziu também a quantidade de espuma branca (comum quando há mistura deste tipo de material doméstico).

O cheiro

A conseqüência imediata quando se retira a fonte de matéria orgânica que cai nas águas é, com o tempo, a redução gradativa do cheiro oriundo das reações bioquímicas neste cenário. Por serem águas correntes, a substituição do odor característico é rapidamente vislumbrada, pois não se tem mais a fonte da matéria que produz como resultado este cheiro: a correnteza renova com rapidez o corpo hídrico.

Até aqui, no geral, observa-se uma redução importante no odor dos mananciais. Os locais com mais de um ano de projeto concluído, portanto, se não apresentam ainda ideal pelo menos está muito próximo.

Aspectos bioquímicos

Quando se fala em qualidade da água é inafastável a avaliação de parâmetros fundamentais que tem relação com o que há na água. Geralmente a concentração de oxigênio e a quantidade de matéria orgânica são ótimos indicadores. Geralmente também se analisa se há metais tóxicos nas águas. Assim, há condição de verificar se os índices estão nos níveis aceitáveis pelos padrões (no Brasil os padrões estão ditados na Resolução n. 357 do Conama – Conselho Nacional de Meio Ambiente).

dados no site do Prosamim para poucos pontos de coleta ano base-2013 (embora alguns documentos estejam indisponíveis). Contudo, boa parte dos índices é satisfatória. Outros nem tanto. Neste tipo de avaliação é fundamental o acompanhamento periódico – dada à capacidade de alteração do cenário ao longo do tempo.

Os resultados são de razoáveis para bons. Há informações, inclusive, para se fazer boa propaganda do projeto.  Talvez não seja o caso, mas os modernos acompanhamentos de qualidade ambiental em projetos similares (ar ou água) mostram que uma ferramenta essencial é a apresentação da qualidade em mapas e, pelo menos mês a mês.

Por fim, há um índice que é muito desejável, mas de difícil alcance: a presença de fauna (de peixes ou anfíbios, no mínimo). Bem verdade que estes últimos são mais resilientes (resistentes) à locais poluídos, mas se estão presentes também são indicadores de qualidade ambiental. Não se tem notícia, até aqui, de presença de peixes nos igarapés que foram trabalhados. Seria uma ótima noticia.

*Ronaldo Santos é engenheiro agrônomo acadêmico de Direito e servidor público federal,  de  carreira.

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