Praça 14 de Janeiro comemora 131 anos, onde o sagrado e o profano vivem em harmonia

No destaque da foto, o Santuário de N. S. de Fátima

No destaque da foto, o Santuário de N. S. de Fátima
No destaque da foto, o Santuário de N. S. de Fátima

MANAUS – O bairro da Praça 14 de Janeiro, um dos mais históricos e tradicionais da capital, está completando hoje 130 anos, fato eu vem sendo comemorado com muita festa há três dias, com direito a desvio no transito, nas áreas próximas ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima e a queda da Escola de Samba Vitória Regia, que por sinal fica ao lado da Igreja numa perfeita comunhão entre o sagrado e o profano.

No tradicional bairro, um dos mais populares da capital, como fama de festeiro, existe maternidade, quartel da Policia Militar, maternidade, Faculdade, uma das mais famosas Igreja católica da cidade, de Nossa Senhora de Fátima, lojas de carros, uma área quilombola e o maior conglomerado da cidade de lojas de autopeças.

Para comemorar a data, o bairro está em festa há três dias, com a maior programação desenvolvida quadra da Escola de Samba Vitória Régia, com grande participação popular, até porque o bairro. é considerado um dos berços do carnaval na cidade.

Hoje, dia do aniversário, também no palco montado na rua Emílio Moreira, em frente à quadra da escola, os festejos iniciam às 20h e vão até a meia-noite com a bateria da Vitória Régia, Meu Xodó, Xiado da Xinela, Xote com Pimenta e Forró Ideal.

Para o diretor de eventos da Vitória Régia, Rivaldo Pereira, é uma honra a verde e rosa comandar os festejos de aniversário da Praça 14 de Janeiro.

“A Praça 14 é um dos bairros mais tradicionais de Manaus e tem como referência, a padroeira Nossa Senhora de Fátima e a própria Vitória Régia, que nos seus 40 anos assumiu a organização da festa. É o berço do samba, com o primeiro quilombo e um mix de tradições. E por ser perto do Carnaval sempre a escola de samba  é referência na abertura oficial do Carnaval da Praça 14”, conta Rivaldo, que está há 7 anos no cargo pela verde e rosa da Zona Sul.

História

Consideado beró do Samba, no bairro o sagrado e o profano vivem em perfeita harmonia
Consideado beró do Samba, no bairro o sagrado e o profano vivem em perfeita harmonia

Para ilustrar melhor está matéria, apresentamos alguns ligeiros pontos da fantástica história do bairro.

Pra começar, o nome Praça 14 de Janeiro resultou de uma revolta popular, deflagrada em 14 de janeiro de 1892, contra o governador Gregório Thaumaturgo de Azevedo (1891/1892). A insatisfação da população de Manaus foi motivada pelo atraso nos pagamentos do funcionalismo e fornecedores e pela falta de assistência social aos habitantes.

O movimento foi liderado por Almino Álvares Afonso, Leonardo Malcher e Lima Bacuri, opositores políticos de Thaumaturgo. A população exigiu a renúncia de Thaumaturgo e durante a confusão o soldado João Fernandes Pimenta, do Esquadrão de Cavalaria do Batalhão da Polícia de Segurança do Estado, foi morto com um tiro no peito.

Thaumaturgo renunciou em 27 de fevereiro e Eduardo Ribeiro foi nomeado em seguida como governador do Amazonas. Em homenagem ao soldado assassinado, a então chamada de Praça da Conciliação, foi denominada Praça Fernandes Pimenta, mas ainda em 1892, o bairro foi oficialmente batizado de Praça 14 de Janeiro, em referência à data da morte do soldado.

Quilombo Urbano

O bairro, abriga o segundo quilombo urbano do Brasil, a Comunidade do Barranco, no bairro Praça 14, Zona Sul, reúne cerca de 120 descendentes de escravos. Membros da quinta geração da família comentaram sobre as histórias e marcas deixadas pela matriarca Severa Fonseca, que chegou no Amazonas em 1890, depois de ser alforriada no Maranhão.

“Ela tinha marcas das algemas nas pernas e nas mãos. Era uma pessoa muito boa. Tive  sorte de conhecê-la quando casei com o neto dela, em 1950. Mas infelizmente ela faleceu em seguida”, conta a aposentada Creuza da Silva Fonseca, de 79 anos.

Uma comunidade quilombola urbana, faz parte da história do bairro
Uma comunidade quilombola urbana, faz parte da história do bairro

Todos os anos a comunidade realiza a tradicional festa de São Benedito, que entrou no calendário cultural do Estado neste ano. Creuza é devota do santo e contou como a imagem chegou a Manaus. “Quando a vovó Severa foi libertada, os seus senhores, sabendo que ela era devota, deram-lhe a imagem de presente. Dizem que é uma das únicas do Brasil”. A imagem, feita de pau de angola, está guardada em uma das casas do quilombo. Os “Fonsecas” garantem que ela já fez muitos milagres.

Vice-presidente do Movimento Negro e primo do saudoso Nestor Nascimento, considerado o maior líder negro da história do Amazonas, Cássio Fonseca comentou sobre a luta em preservar a história da família. “Estamos no bairro há mais de 125 anos, vindos da cidade de Alcântara, no Maranhão. Diziam que no Amazonas não tinha negros, mas agora somos o segundo quilombo urbano do Brasil, reconhecido pela Fundação Cultural Palmares”.

Hoje, a comunidade oferecerá uma grande feijoada, como de costume. “Todos os anos fazemos essa festa regada a feijoada e samba. É um festejo, uma celebração do nosso povo”, comentou Cássio.

Amazonianarede

 

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