Porto Velho: São Carlos ameaçado pela erosão

Amazonianarede – Diário da Amazônia

Porto Velho – Desde o ano passado, cerca de 200 metros de margem do rio Madeira, do núcleo urbano do distrito de São Carlos, foram dragados pela água.

Os desabamentos, provocados pelo fenômeno conhecido como ‘terras caídas’, atingiram cinco bares e um clube – todos estabelecimentos antigos no lugar – nos meses de outubro e novembro. “Mais de 40 casas ameaçadas foram retiradas da área nos últimos três anos”, segundo o administrador do distrito, Ednardo Medeiros.”Ali ficava uma rua”, diz o policial civil Antônio Dias, apontando para o rio. Ele era dono de um dos bares atingidos. Maria Auxiliadora Teixeira da Silva mora há 16 anos em São Carlos e desde 2010 teve que reconstruir a casa três vezes.

Ela já se prepara para se mudar novamente porque está em área de risco, juntamente com outras 15 famílias que foram alertadas na última sexta-feira (22) pelo coordenador municipal de Defesa Civil, coronel Pimentel, de que devem sair do local. O coordenador fez uma visita ao distrito para verificar a situação. “Nós ainda não interditamos a área porque não foi feito um estudo técnico, mas estamos alertando os moradores para o perigo”, informou. A área foi demarcada com uma fita zebrada.

A erosão está deixando a população assustada. O administrador do distrito relata que em um dos bares atingidos pela erosão, a família do proprietário estava dormindo quando a casa começou a desabar. “Felizmente, eles tiveram tempo de sair antes da casa ser engolida pela água”, lembra ele. Outra situação de perigo foi vivenciada por um pescador que estava dentro de uma canoa no rio. “Quando a casa caiu formou uma onda que virou a canoa. O pescador se jogou na água e conseguiu se salvar”. Maria Auxiliadora da Silva diz que “morre de medo”.E já não dorme tranquila. “Eu estou muito preocupada e acordo de madrugada para ver o rio”, relata.

O fenômeno denominado de terra caída é um velho conhecido dos ribeirinhos do Madeira, mas a rapidez com que vem acontecendo nos distritos de São Carlos e Calama é novidade. O coronel Pimentel explica que o rio vai cavando o barranco por baixo e forma uma “espécie de caverna”, depois a terra vem abaixo. Coincidência ou não, a erosão ficou mais acelerada depois que foram iniciadas as operações da hidrelétrica do Madeira. O coordenador da Defesa Civil diz que não pode afirmar se a usina está influenciando na derrubada dos barrancos. “O que eu posso afirmar é que o depósito de terra no leito do rio potencializa a erosão”.

Prefeitura aguarda laudo da Defesa Civil Nacional

O coordenador da Defesa Civil de Porto Velho, coronel Pimentel, informa que enviou um relatório da situação de São Carlos e também de Calama, “onde a situação é muito mais preocupante”, para a Defesa Civil Nacional, em Brasília, solicitando a vinda para Porto Velho de uma equipe técnica para fazer uma vistoria e um laudo sobre o desbarrancamento. Em Calama vivem cerca de 6 mil pessoas e aproximadamente 600 estão em área de risco iminente. Segundo Corone Pimentel, o nível do rio Madeira está subindo 20 centímetros por dia e deve se elevar até o final de abril. Na sexta-feira, a água já havia atingido os 16 metros, quase o ponto considerado crítico, que é de 16,5 metros. Os desbarrancamentos ocorrem com mais frequência durante a estiagem.

A prefeitura aguarda a avaliação dos técnicos da Defesa Civil Nacional e enquanto não é emitido o laudo a Defesa Civil está procurando uma área para onde possa remanejar as famílias das áreas de risco de São Carlos. O administrador do distrito, Ednardo Medeiros, aponta um local que fica em região mais alta, distante da margem do rio, mas para ocupá-la é necessário providenciar a extensão das redes de água e energia elétrica, além de melhorar a estrada de acesso. O local é considerado Área de Preservação Permanente (APP). No caso de Calama, o coronel Pimentel acredita que poderá ser construído um muro de contenção no barranco.

Ponto turístico

O distrito de São Carlos tem uma população de 1.800 pessoas, que nos finais de semana se eleva para cerca de 3 mil, com a chegada de turistas de Porto Velho. A pequena vila só tem acesso pelo rio Madeira. Além do sossego, da natureza exuberante e da proximidade do lago do Cuniã, São Carlos também atrai pessoas que pescam no rio Jamary, cuja foz fica bem próximo. A população é pacata e acolhedora. A abertura de uma extensão da estrada da Penal até a foz do Jamary aumentou o número de visitantes nos últimos anos. A distância de Porto Velho por terra é de 70 quilômetros. Pequenas embarcações fazem a travessia para a margem esquerda do rio, onde fica o distrito.

O peixe é o principal prato da gastronomia regional. A pequena igreja construída em 1937 é um dos poucos registros do passado do lugar e a cada ano que passa está cada vez mais próxima da margem do rio. São Carlos é povoada por descendentes de nordestinos que trabalhavam nos seringais e índios da região.

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