Por que não protestamos pelas causas ambientais

Ronaldo Santos*

É fato: não vemos os protestos pedirem (também) por melhoria nas políticas voltadas ao meio ambiente. A grita que se deu no pais é de fato inédita, mas não chegou a ser de vanguarda quanto ao “que se pede”. Em outras palavras, pede-se o que mais “dói no pé”. Aliás, que bom que passamos a pressionar pelo que antes não era agenda para o “povão” (mudanças na política).

Interessante notar que mesmo os movimento “Fora Collor” ou o “Diretas já” não tiveram o mesmo perfil. Pedia-se coisas importantes para a sociedade de então. No novo cenário, a dúvida que muitos analistas de comportamento social suscitam é: será que poderíamos transportar as insatisfações para outros campos como proteção dos direitos a melhorias no padrão ambiental? Seria utopia?

Ou para deixar o tempo ao tempo, o ideal, talvez, é que se espere um avanço natural do pensamento e evolução naquilo que é pedido.

Outros países

Ainda assim, é possível que haja uma explicação para pensarmos primeiro em outros temas mais afetos ao dia a dia e, somente depois de obtidas aquelas, passarmos a – quem sabe – pensar em outras coisas. Vejamos:

Comecemos por uma tentativa de explicação psicológica. Na pirâmide de necessidades humanas, segundo esta teoria, buscamos primeiro as necessidades básicas, depois as sociais e só depois aquelas que dizem respeito ao bem estar geral e da coletividade. Isso pode explicar, em parte, o motivo de as manifestações às ruas serem primeiro por dignidade, moralidade, acesso a serviços sociais de primeira necessidade.

Com efeito, olhando os cartazes e faixas das ruas, vemos que pouco ou quase nada está associada à proteção dos direitos chamados de terceira ou quarta ordem (ou geração): recursos naturais protegidos, equilibrados, limpos.

Em países “desenvolvidos” não foi diferente. As causas sociais (direitos civis) foram os que primeiro vieram à frente das manifestações. As de cunho ambientais, consumeristas ou de proteção de patrimônios culturais, passaram a fazer parte da agenda pós década de 70. Muitos consideram esta evolução um processo de amadurecimento natural da sociedade. Faz sentido.

Se assim for, teríamos um padrão natural nas manifestações tupiniquins.

Sugestões de agenda

E olha que não falta o que incluir nestas agendas. O Brasil é tido como modelo em diversas questões ambientais. Leis e padrões de conduta geral, por aqui, são considerados avançados. Mesmo assim há muito a avançar sempre.

Podemos incluir na pauta padrões melhores de proteção aos alimentos (questões dos transgênicos, redução de agrotóxicos); exigir a manutenção dos compromissos já assumidos pelo país quanto à redução na emissão de gases do efeito estufa (embora aqui mereça um reconhecimento que o Brasil tem conseguido diminuir o desmatamento na Amazônia, responsável por 75% das emissões).

Ao mesmo tempo, há de se olhar o modelo de transporte urbanos que, em última analise, tem total relação com a questão ambiental e mesmo com a gênese dos protestos (transporte público).

Hoje, o modelo adotado incentiva o uso de veículos. Ambientalmente ou mesmo do ponto de vista do bom transporte nas cidades este formato é uma aberração. Ou seja: redução nos impostos para que se consuma mais carros, que por sua vez piora o transito que piora o transporte público.

Diversas outras plataformas de base ambiental ou de patrimônio cultural podem ser elencadas. A lista não é tão simples.

Mas, venhamos e convenhamos: num momento em que só se fala em corrupção, reforma política e gastos de dinheiro público não é nada fácil incluir tal plataforma na discussão.

Mesmo assim, estão ai boas agendas.

*Ronaldo Santos, ´s servidor público federal de carreira (Incra), engenheiro agrônomo e acadêmico de direito. 

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