Politec aponta negligência e imprudência. Anglo American discorda

O acidente ocorrido em fins de março deste ano, no terminal portuário da mineradora multinacional Anglo American, em Santana, no Amapá, foi fruto de negligência e imprudência da empresa.

É o que aponta o laudo do exame pericial elaborado pelo Departamento de Criminalística da Polícia Técnico-científica do Amapá (Politec). Quatro trabalhadores morreram, dois continuam desaparecidos e o local segue interditado.

No laudo, os cinco peritos apontam que o desmoronamento de parte do terreno onde a empresa Anglo American armazenava milhares de toneladas de minério de ferro foi causado por vários fatores, tais como a sobrecarga de operações de transporte e embarque de minérios e o estoque de material próximo à margem do rio Amazonas.

A principal causa, contudo, foi a ausência de estruturas de contenção adequadas junto à margem do terminal portuário. Segundo os peritos, essas estruturas serviriam para reforçar a estabilidade do solo e o talude cons-truído pela empresa. O talude é uma espécie de contenção inclinada, feita no próprio terreno. No acidente, foi justamente o talude, cuja altura variava entre 20 metros e 40 metros, que desmoronou.

Com o deslizamento, não só a terra, mas parte da montanha de minério armazenado no topo do talude atingiu caminhões, guindastes, parte do escritório da empresa e arrastou para o fundo do rio seis trabalhadores que carregavam uma embarcação com destino à China. De acordo com o laudo, o pátio de estocagem tinha capacidade para armazenar 288 mil toneladas de minério.

O impacto da queda do material na água gerou uma onda que atingiu o píer e embarcações. No entanto, os peritos foram tachativos ao afirmar que, ao contrário do que a Anglo American divulgou inicialmente, o acidente não foi causado por fenômenos naturais. Os peritos também apontam que, até à conclusão do laudo, a empresa não havia entregue cópias dos projetos da obra portuária, da licença de construção e dos exames de ensaio de resistência do solo. Também não foram apresentados documentos ou registros atestando que os estudos prévios do solo, como testes de sondagens e de pesquisas geológicas, tenham sido feitos.

Próximo ao cais flutuante, a profundidade do rio varia entre 37 metros e 40 metros. Já o píer flutuante tinha nove metros de largura por 250 metros de cumprimento e era usado por embarcações que transportavam o minério vendido pela Anglo American a países do Oriente Médio, da Ásia e Europa.

Após o acidente, o empreendimento foi interditado por órgãos como o Ministério do Trabalho e Emprego, que avaliou que o local oferecia risco aos trabalhadores. O Instituto do Meio Ambiente e de Ordenamento Territorial do Estado do Amapá (Imap) multou a empresa em R$ 20 milhões, alegando que houve alterações graves na natureza. A multinacional está recorrendo da sanção.

NOTA OFICIAL

A Anglo American contestou o resultado do laudo, divulgando uma Nota, ontem.
Leia a íntegra da Nota da Anglo American:

“A Anglo American – Sistema Amapá confirma que ontem, dia 12 de agosto, recebeu o laudo da Polícia Técnica do Amapá, que será analisado cuidadosamente. No entanto, a Anglo American descarta qualquer alegação de negligência, uma vez que as atividades no porto e na área de estoque de minério de ferro sempre seguiram o limite de capacidade definido pelo projeto do porto, devidamente aprovado pelas autoridades.

Além do laudo da Polícia Técnica, a Anglo American informa que renomados experts estão conduzindo uma investigação técnica independente e detalhada, que já conta com mais de 120 dias de estudos e trabalhos minuciosos de geotecnia no local. Resultados dessa investigação foram apresentados para a Polícia, IMAP e Marinha no final de julho. O relatório da investigação independente indica que o incidente do dia 28 de março não foi causado por fatores operacionais, mas por uma combinação de fatores imprevisíveis, incluindo aspectos geotécnicos. Para fornecer informações adicionais para a investigação, mais estudos e sondagens estão sendo realizados.

A Anglo American reforça que continua trabalhando em colaboração com as autoridades na investigação”.

(Fonte: Diário do Amapá)

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