
Amazonas – A Polícia Federal prendeu 96 pessoas em Manaus e em quatro Estados, entre elas sete advogados e um vereador, membros da facção criminosa Família do Norte (FDN). Durante a operação La Muralla, que ocorreu no Brasil e em quatro países da região fronteiriça, todos os líderes da organização, como o criador da FDN, José Roberto Fernandes Barbosa, o “Zé Roberto”, foram transferidos para os presídios federais. Quase R$ 1 milhão e 25 carros de luxo foram apreendidos na ação.
O superintendente regional da Polícia Federal, Marcelo Rezende, afirmou que o objetivo da operação era desarticular a FDN, que atua em várias camadas no mundo do crime, inclusive no tráfico internacional de armas e drogas.
Entre os crimes estão, também, homicídios, sequestros, tortura, extorsão, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e corrupção de agentes públicos. O bando pretendia lançar candidaturas na política local. “Os líderes da facção coordenavam os crimes ocorridos na cidade de dentro da cadeia.
Eles estão ligados a pelo menos 30 homicídios, dos 37 registrados entre os dias 17 e 18 de julho. Eles comandam quase todos os crimes cometidos no Amazonas”, disse o superintendente.
Ainda segundo o delegado, o propósito da operação era desmantelar o poder que os traficantes tinham dentro dos presídios. “Além de advogados, os agentes públicos também estão envolvidos na quadrilha, uma vez que recebiam dinheiro para facilitar os trâmites que favoreciam a facção dentro dos órgãos públicos. Nós ainda não temos a informação de envolvimento de policiais na organização”, afirmou o delegado.
De acordo com a polícia, na casa dos traficantes – cujos locais não foram repassados – foram apreendidas armas, drogas, 25 carros de luxo e uma motocicleta, além de R$880 mil e 700 dólares.
A operação de âmbito nacional e internacional ocorreu também nas cidades de Tonantins, Tabatinga, Crateús, Caucaia e Fortaleza, todas no Ceará, além de Boa Vista (RR) e no Rio de Janeiro (RJ). A ação teve o apoio da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), onde os agentes percorreram os países de Peru, Colômbia, Venezuela e Bolívia.
Transferência
Entre os líderes da facção que foram transferidos para os presídios federais, estão o chefe da organização José Roberto Barbosa, o “Zé Roberto da Compensa”, Alan de Souza Castimário, o “Nanico”, e seus xerifes, Cleomar Ribeiro, o “Copinho”, Marcos Roberto Miranda da Silva, o “Marcos Pará”, Francisco Álvaro Pereira, o “Bicho do Mato”, “Moçambique”, e Jaime o “Machimba”.
Outros líderes do tráfico da FND Geomison de Lira Arantes, o “Roque”, e “Giba” foram preso dentro de suas residências. Um dos fundadores da FDN, Gelson Carnaúba, que já está preso em um presídio federal, irá responder por mais crimes como o tráfico internacional de drogas. O filho de “Zé Roberto”, o ex-presidiário Luciano da Silva Barbosa, não foi localizado ontem e está foragido.
Ainda segundo a polícia, três colombianos foram presos em Tabatinga (AM) e um advogado, cujo nome não foi divulgado) foi detido no Ceará envolvido com o crime organizado do Amazonas.
Defensores
Apontados pela polícia como membros da FDN, uma vez que eles disponibilizavam suas contas bancárias para serem usadas por traficantes, onde o dinheiro vindo do tráfico era movimentado, seis advogados foram presos em Manaus e um no Ceará.
Rosângela Amorim da Silva, Aldemir da Rocha Silva Júnior, Luiz Sérgio Vieiralves Donato Lopes Filho, Lucimar Vidinha Gomes e Janderson Fernandes Ribeiro foram autuados pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa. Conforme a Polícia Federal, os advogados foram descobertos depois de terem sido flagrados em escutas telefônicas negociando com os líderes da facção criminosa.
De acordo com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cristian Naranjo, a defesa vai trabalhar para que os advogados possam ficar detidos em prisão domiciliar, uma vez que o Comando de Policiamento Especializado (CPE) estão com suas celas lotadas. “Não há o que se discutir sobre as provas que a polícia apresentou. Mas como advogados não podem ser transferidos para um presídio comum, por conta disso, acho que possam ficar em casa com monitoramento”, explicou.
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