O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora

13-07almirAlmir Carlos*

Tradicionalíssimo Colégio de freiras de nossa capital, localizado na Rua Silva Ramos, foi para todos nós, jovens da redondeza, um dos mais marcantes locais de nossa infância e juventude. Todos da nossa turma frequentavam a missa aos domingos, às 07:00, pois esse ato significava nosso passaporte para que nossos pais nos deixassem ir ao cinema, aliás, só íamos se assistíssemos a Santa Missa!
A cena mais cínica, dissimulada, até mesmo cômica, que até hoje vejo nitidamente ao fechar os olhos, era ao adentrarmos à Igreja e nos persignarmos, olhar para a cara do Getúlio, todo paramentado de coroinha atrás do Padre Argentino, segurando sua batina e chegando ao Altar. Nesse momento todos nós olhávamos um para a cara do outro e começávamos a soltar risinhos maliciosos e sarcásticos, acompanhados de um PSIUUU! Emitido pala Irmã Perina, uma italiana baixinha, que usava uns óculos bem pequenos e quadradinhos, com seus olhinhos rápidos e certeiros.

A Irmã Perina exerceu sobre nós um domínio total através de sua simpatia e maneira amorável com a qual nos tratava. Posso dizer que para nós, ela representava a verdadeira Nossa Senhora! Segundo nosso querido e saudoso colega Sebastião Marinho, que na década de 70 foi Professor deste Educandário, ela até 1975, ainda era viva e estava morando em Roma. Que saudades da Irmã Perina! Verdade sendo o que nos falam, um dia gostaria de encontrá-la. Tenho certeza de que todos os meus amigos, também!
Nas décadas de 1970/80, tínhamos um campinho ao lado do Colégio, pelo Beco Comendador Clementino, e que tinha três mangueiras no meio, onde batíamos nossas peladas. Na hora do recreio do Colégio, nós ficávamos olhando os “fundos” das meninas pelos buracos dos tijolos. Elas claro sem perceber, ficavam bem à vontade, escâncaras, sentadas com as pernas relaxadas…que vista! Estivéssemos onde estivéssemos, a hora do recreio do Colégio Auxiliadora era sagrada, hora de colimar as calcinhas das nossas musas…

O quintal das freiras, era muito grande e cheio de fruteiras, principalmente jaqueiras, mangueiras, pitombeiras e goiabeiras. Pulávamos o muro pela Rua Comendador Clementino. Levávamos em vidrinhos sal e vinagre para fazermos salada com as hortaliças das freiras.

Ficávamos às vezes a manhã inteira pelo quintal das religiosas, nos fartando com as frutas que comíamos ali mesmo, geralmente em cima da Caixa de Força. Às vezes quando menos esperávamos, Freiras, Noviças, Internas e cachorros, estavam bem próximos, nos colocando prá correr. Nós enfiávamos cabos de vassouras nos buracos dos tijolos dos muros e escapávamos com uma agilidade de fazer inveja a qualquer atleta.

Algumas meninas, estudantes do Colégio, e que não eram nossas “paqueras”, as feias, ficavam pedindo para que apanhássemos e jogássemos por cima do muro, manga rosa para elas, fruta abundante nas mangueiras do campinho e nós de sacanagem, pegávamos algumas bem madurinhas e avermelhadas de um lado e que de outro já estavam podres e jogávamos para elas.

Imaginem quando a menina segurava aquela manga já podre: Espocava e espirrava manga podre por cima delas, melando suas fardas. Tomavam um verdadeiro banho de manga!Ficavam praguejando e nos chamando de bandalhos prá cima, numa verdadeira vociferação de impropérios, não condizentes com suas formações religiosas. Mas, bem que merecíamos. Eu, João, Getúlio, Lobinho Alzeir, Zé do Lixo, Nato, Sabá Marinho, Vital, Nin, Ladeira, Paulo Marinho, Frank, Fred, Ricardo, dentre outros, éramos os demônios na vida das freiras do Colégio Auxiliadora. Mas, um dia a coisa mudou…

As Irmãs Quitéria e Nair , resolveram, não sei porque cargas d`água, fazer Oratório, aos moldes do que era feito no Colégio Dom Bosco (onde eu e muitos outros estudávamos) e chamou a todos nós para participarmos. Íamos à missa, depois jogávamos futebol, num campinho improvisado por elas em frente ao prédio do Colégio, ao lado da Igreja. Começávamos a bater nossa pelada, daí a pouco a porrada cantava, porque nós jogávamos contra o time da Nhamundá, com Quincas, Zequinha, Lucas, Petrônio e geralmente terminava em porrada, pois o nosso time, modéstia a parte, era melhor: Eu, Alzeir, meu irmão João(um verdadeiro craque), Mário, Getúlio (que corria com certeza mais que o Uzaim Bolt, Vital, Ladeira e Sabá Marinho, era o que se pode dizer sem reservas: Um show de bola, logo…

Mas…um dia tudo mudou: A Igreja foi demolida para que fosse construída uma outra em seu lugar (que perdura até hoje) e…infelizmente nosso Oratório acabou!

Interessante é que depois disso, pelos idos de 1973, começamos a freqüentar o Bar do Horácio, sobrinho do Manuel de Abreu, que tinha um comércio na Silva Ramos/Japurá e que foi herdado pelo primeiro, com a morte do Tio. Interessante, por quê? Porque a partir desse ano, nos aproximamos das alunas do Colégio de uma tal maneira, que muitos de nós acabamos namorando com algumas delas.

Era a fase das “Brincadeiras” e nós sempre éramos convidados por elas para essas festinhas ( muitos estão graças a Deus, até hoje casados com essas nossas colegas de outrora). Era para nós, o auge da fama entre os colegas, namorar uma aluna do Colégio Auxiliadora. Eu, com certeza e sem modéstia, namorei a mais bonita da época, uma carioquinha linda, chamada Inês.

Na hora da saída das alunas às 12:00h, a Silva Ramos se transformava numa verdadeira passarela, com as mais belas moças da cidade desfilando em toda a sua extensão: A Inger Mara, Ana, Maely, Maru, Amália, Diva, Dodora, Socorro, Vera, Naíde, Norma, Emília, Lena, Lulu, Martha…meu Deus, estou sendo injusto citando nomes! Com certeza esquecerei de pelo menos uma dúzia de moças lindas e maravilhosas que enfeitavam com seus sorrisos a rua mais badalada de nossa querida Manaus.

O Nin namorava a Augusta (que prematura e apressadamente foi em busca de Jesus Cristo), garota fantástica, maravilhosa…O Vital, irmão do Nin, namorava a Cynthia, o Jaime era apaixonado pela Ruth, o Sabá, namorava a Socorro e o Lobinho , a Vera…Dá prá entender nosso envolvimento com o Colégio? O porquê de nosso amor por ele?

Passo hoje em frente ao Colégio e vejo mocinhas lindas entrando/saindo e no meio delas, uma sobrinha que acabei de deixar… Olho para os carros que vão parando e saindo apressadamente…vislumbro alguns colegas da época, com a cabeleira toda branca (e outros sem nenhuma), deixando suas netas…dou um sorriso maroto e fico a pensar na ordem natural da vida, que ora se repete, mostrando o quão é efêmera e passageira nossa permanência por aqui…O tempo passa… a vida prossegue…e graças a Deus, ainda fazemos parte dela…

*Almir Carlos professor, pedagogo e escreve neste Portal histórias e estórias da Manaus antiga.
Obs: Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião do Portal.

 

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