Ronaldo Santos*
Até onde trocar de celular tem efeitos na forma que contribuímos para um mundo menos poluído? A resposta a esta pergunta passa por uma série de arranjos diários, direitos e escolhas pessoais. Embora a resposta possa ser simples (ou complexa, dependendo do ponto de vista) há de se dar a mão à palmatória em alguns pontos.
Não se trata de ser contra o novo, o moderno o confortável. Veremos os motivos.
Antes de mais nada, a comodidade de um aparelho mais moderno nos dá a sensação de ganharmos tempo – em especial quando os atuais modelos trazem embutidos uma série de serviços on line – indo desde jogos para entretenimento a compras na própria rede, de fato uma verdadeira “mão na roda”.
O segundo fator – direitos – não pode ser desprezado. Se trabalhamos duro, temos nosso dinheiro (ainda que de mesada dos pais) é justo que façamos o uso que nos traga a comodidade citada anteriormente. Ou seja, temos o direito de escolher quantos (e quais) modelos teremos no ano (e, para muitas pessoas, são vários modelos eu um único período anual (!!).
Depois temos que discutir a questão das escolhas. Na verdade este item está muito atrelado aos dois anteriores. Escolho o que me é cômodo, confortável e o que tenho direito. Ponto final.
De fato a análise do quesito “vontade + direito + livre arbítrio” parece simples e nem caberia discussão. Onde, portanto, estaria o problema – se é que há algum? Aprofundemos um pouco mais para ver se é isso mesmo.
A Culpa do Iphone
Não foi a empresa americana Apple que trouxe a idéia de trocar os bens de consumo a cada vez que um novo fosse lançado. Incentivar a troca de novos produtos é antiga. Ocorre mais naqueles que oferecem novidades a cada novo ciclo – o que é mais comum no caso dos aparelhos das mídias digitais (leia-se, computadores, celulares e similares).
Mas, a Apple trouxe uma peça nova no jogo. O criador da empresa, Steve Jobs, já dizia que seu mérito era inventar o que as pessoas mal sabiam que precisavam. Em outras palavras, Jobs dizia que o consumidor não queria um produto, até ver o que sua empresa (no caso ele mesmo) tinha inventado. Bingo!
Celular no lixo?
Mas vamos analisar com calma. O efeito deste novo conceito de mercado-marketing para a cadeia de uso-reuso de lixo é enorme, e infelizmente negativo.
Em tese, um aparelho tem o seu tempo de vida útil. Um Ipad (computador portátil ultra high tech), ou o Iphone (para muitos a versão o Ipad reduzido em suas dimensões) – ambos da Apple – , ou qualquer outro bem de consumo eletro-eletrônico, duraria mais que o ciclo que passa na mão de um único usuário. Verdade.
A questão é, ao estimular a nova compra, a cada ano de um novo modelo, quem vai querer utilizar um que já passou na mão de outro dono?
Se a resposta é “ninguém” (ou quase ninguém), para onde vão milhões de aparelhos semi-novos? A grande verdade é que ficam amontoados em casa (empoeirando até ser dado conta que depois de no máximo dois anos pra nada serve). E, finalmente, vão para o lixo…
Ou alguém acha que um bem que custa de 1,5 a 4 mil reais vai ser doado para o sobrinho mais novo depois de alguns meses de uso? Raramente.
Feira de aparelhos
Há uma iniciativa interessante – inclusive “bombando” nas redes sociais de troca de aparelhos ou venda de usados por valores módicos, baixos (o mais famoso é o Craiglist.com, americana que é uma espécie de classificados pra tudo na rede e no Brasil temos http://www.classificados-brasil.com/ e a http://www.olx.com.br/.
Algo parecido também pode ocorrer com a troca, aos moldes da feira de livros. Mas pouca gente se daria ao trabalho, até porque tem que sair de casa (…).
Primeiro porque o valor a ser retornado não paga o trabalho de anunciar, esperar o valor ser depositado na conta ou mesmo da pessoa ir em sua casa busca a encomenda. Coisa chata para muita gente.
Segundo, e ai entra os Ipads/Iphones da vida, diz respeito ao fato de termos à disposição todo ano um modelo novinho, mais bacana, bonitinho e moderninho disponível!
A solução pra tudo isso? De novo, passar pelo incentivo (ganhar algo em troca) vindo do poder público – entre outras formas mais criativas que esta. Sem incentivo apenas alguns gatos pingados (e olhe lá) irão trocar, vender, doar ou mesmo devolver o seu “usadinho” nos postos de devolução de produtos eletrônicos.
A responsabilidade ambiental de fato não é coisa fácil. Sim, a culpa é do Iphone!
*Ronaldo Santos é engenheiro agrônomo e servidor público federal de carreira no INCRA,AM