Final da Copa América expõem longa rivalidade entre Chile e Argentina

No jogo, duelo de craques em busca do título
No jogo, duelo de craques em busca do título
No jogo, duelo de craques em busca do título

Chile – Ao longo dos seus 99 anos de história, a Copa América trouxe aos amantes do futebol partidas épicas, que acirraram ainda mais o clima entre os países sul-americanos enquanto a bola rolava. Porém, na decisão da 44ª edição do torneio, que será disputada neste sábado (4), no estádio Nacional, Chile e Argentina levarão a campo uma rivalidade que extrapola o âmbito esportivo. E para entendê-la é preciso voltar um pouco no tempo e ver o cenário político que cerca os vizinhos.

Os dois países dividem 5.150 km de fronteira. Porém, foi por conta de três ilhas do Canal de Beagle que Chile e Argentina acirraram suas divergências territoriais. Em 1881, as duas nações assinaram um acordo sobre o estreito, que é considerado um ponto geograficamente estratégico, uma vez que separa os Oceanos Atlântico e Pacífico, além de servir como uma ponte para a Antártida.

Os anos se passaram, mas os dois países continuaram travando divergências sobre os limites do estreito. Foi então que em 1977 o Tribunal Internacional de Haia considerou as ilhas chilenas, gerando o repúdio argentino, o que quase levou os dois países à guerra. A solução só veio com mediação do Papa João Paulo II, em 1984.

Guerra das Malvinas

Porém, foi em 1982 que as divergências entre os dois países atingiram seu ápice. Naquele ano, a Argentina tentava recuperar a soberania das Ilhas Malvinas, dominadas pelo Reino Unido desde 1833. Para tal, contava com o apoio dos vizinhos durante o conflito contra os britânicos. O que se viu foi o contrário.

Ainda vivenciando as divergências sobre o Canal de Beagle, o Chile optou por ajudar secretamente o Reino Unido.Segundo acusam os argentinos, aviões britânicos com insígnias chilenas sobrevoavam a Patagônia e usavam bases andinas para suas operações militares.

“Chile, decíme qué se siente”

Mais de 30 anos se passaram, mas os platinos não se esqueceram dos episódios. A prova disso veio na canção “Decime qué se siente”, versão da música “Bad Moon Rising”, do Creedence Clearwater, que é entoada pela “hinchada” argentina durante os torneios que a albiceleste participa.

A música foi criada para a Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil, e teve uma nova versão direcionada aos chilenos na Copa América deste ano. Porém, ao contrário da letra original, que tiravam sarro dos brasileiros no aspecto esportivo, os argentinos optaram por atacar os andinos com uma canção carregada de ódio.

Nessa nova música, os argentinos se mostram amargurados pela postura chilena na Guerra das Malvinas e os acusam de traidores. Não bastassem as divergências políticas, os platinos extrapolaram seu ranço ao tocarem na ferida dos vizinhos com a trágica lembrança do tsunami que atingiu a costa do Chile em 2010.

Chilenos e argentinos pedem paz

A margem do gramado, as estratégias de dois técnicos argentinos
A margem do gramado, as estratégias de dois técnicos argentinos

O contexto fez com que os organizadores da Copa América aumentassem a segurança para a decisão. A Federação Chilena de Futebol destinou dois mil ingressos para os argentinos, que ficarão isolados em um setor do Estádio Nacional, algo que ainda não havia sido feito nesta edição do torneio. Porém, a maior preocupação é com os torcedores platinos que compraram entradas pela internet, o que fez com que a polícia fosse reforçada.

Focados apenas na disputa dentro de campo, os jogadores chilenos e argentinos preferiram deixar de lado a rivalidade e promoveram o clima de paz para a final da Copa América.

O chileno Mena, lateral do Cruzeiro, foi quem levantou a bandeira de que o respeito deve ser mútuo entre os dois lados. “Vai se uma partida muito disputada. Muita coisa pode acontecer, mas é preciso haver respeito entre colegas. Temos que dar o exemplo, porque muitas crianças vão ver esta final”.

O volante argentino Javier Mascherano deu voz ao ala andino. “Tomara que as pessoas entendam que o futebol é um esporte, e não uma guerra”.

Clima não é exclusividade da América do Sul

A tensão política levada aos gramados não é novidade do continente sul-americano. Ao longo da história, o futebol ficou como segundo plano em diversas oportunidades e foi manchado por rivalidades territoriais e, até mesmo, xenofobia. E engana-se quem acredita que esse contexto se resume ao período bélico da Primeira e Segunda Guerra Mundial ou da tensão da Guerra Fria.

Na última edição da Eurocopa, em 2012, diversos países ameaçaram boicotar o torneio, que era sediado simultaneamente na Polônia e Ucrânia. As demais nações europeias questionavam as condições humanas ucranianas e acusavam o governo local de maus tratos a ex-premiê do país Iulia Timochenko, que foi presa supostamente por abuso de poder.

Não bastassem os boicotes dos chefes de estado aos jogos disputados na Ucrânia, as partidas sediadas pelos poloneses foram marcadas por manifestações racistas por parte dos donos da casa.

A história voltou a se repetir em outubro do ano passado. O jogo entre Sérvia e Albânia, que estava sendo disputado em Belgrado, pelas Eliminatórias da Euro-2016, terminou em confusão. Tudo porque o zagueiro sérvio Mitrovic tentou arrancar a bandeira do vizinho bálcã de um drone que sobrevoava o campo. Ao ver aquela cena, os albaneses partiram para cima do rival para defender seu brasão, transformando a partida em uma verdadeira batalha campal, que contou com a invasão de campo da torcida.

O terceiro lugar da competição, foi bravamente conquistado pelo Peru, ao venceu o Paraguai, para surpresa de muita gente.

Amazonianarede

 

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