Brasília – Uma das razões apontadas por especialistas para justificar o alto índice de faltas sem justificativa dos deputados é a improdutividade nas sessões deliberativas. Sem acordo, a pauta de votações acaba trancada, emperrando a análise de propostas de interesse público. A pauta bloqueada estimula o congressista a permanecer no estado de origem em vez de viajar para Brasília. “Houve um aumento do número de MPs (medidas provisórias) do governo trancando a pauta durante longo período. Parlamentares vinham para Brasília, não deliberavam e passavam a não vir mais”, ressalta Antônio Queiroz, analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
A pouca capacidade de negociação da presidente Dilma Rousseff com o Congresso teve papel fundamental na paralisação de algumas votações na Câmara. “Sem acordo para as votações, o governo segurou o quanto pôde a pauta. Em vários temas que não interessavam ao Planalto — como a criação de municípios, o piso salarial dos agentes comunitários de saúde e a PEC do Orçamento Impositivo —, o governo usava MPs para trancar a pauta”, afirma Queiroz.
O cientista político pela Universidade de Brasília João Paulo Peixoto salienta que Dilma tem menos “tato” com o Congresso do que o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. “Inegavelmente, Lula tinha mais paciência, aptidão e gosto pela política do que Dilma. Isso era um fator de motivação para o parlamentar, que sentia prazer de negociar, de estar com o presidente. Não havendo esse clima, a tendência é de um certo desencanto.”
Nesse contexto, as ausências em plenário se multiplicam. “O aumento de faltas se dá pela dinâmica de votações relevantes. Sem elas, o deputado não comparece. Ou se sente menos compelido a ir ao plenário”, diz o cientista político Murillo de Aragão. “Outro fato é a realidade de que a participação em plenário não é a única atribuição de um deputado. Muito ocorre nas comissões ou em audiências no Poder Executivo”, completa.
Fonte: Correio Web