Belém, PA – Antes de dar início às tarefas domésticas, a autônoma Rosilene Corrêa já é obrigada a lidar com o problema que a atinge pelo menos uma vez por semana.
Com a pia repleta de louças e o tanque cheio de roupas por lavar, na manhã de ontem, as atividades estavam mais uma vez atrasadas em decorrência da falta d’água. “Falta água o tempo todo. Quase toda semana é isso”.
Moradora do bairro do Cruzeiro, no distrito de Icoaraci, a total ausência de água nas torneiras desde as 8h30 da manhã de ontem não é raridade na rotina não apenas da autônoma, mas também dos vizinhos. Sem aviso prévio ou explicação, a água tratada apenas se esgota a qualquer momento, geralmente no período da manhã. “É quando mais falta e quando volta ainda vem amarela”, reclama, ainda na espera do abastecimento para dar início às atividades. “A gente acaba tendo que comprar água mineral pra poder cozinhar, fazer alguma coisa. O almoço atrasa, tudo atrasa… Essa falta de água complica a nossa vida, ainda mais que eu trabalho com venda de refeição”.
Vizinha de Rosilene, a beneficiária Jerlene do Espírito Santo precisa desembolsar muito mais que a quantia cobrada pelo serviço de abastecimento para conseguir ter o serviço básico dentro de casa. Ainda que a conta com a fatura do consumo não atrase um mês sequer, ela que já foi vítima de dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral) ainda precisa pagar para que outra pessoa busque água em um poço artesiano próximo do local. “Hoje mesmo eu tive que pagar pro rapaz ir pegar água pra mim onde tem poço. Só assim que eu consegui lavar a louça”, observava. “Às vezes a gente precisa da água aqui e não consegue. Falta muita, principalmente quando é alguma data comemorativa”.
Distante do local do distrito de Icoaraci, o problema também se repete nos bairros mais centrais de Belém. Abrigando uma das principais avenidas da capital paraense, o bairro do Marco não escapa das deficiências no abastecimento de água. “Todo dia, em certo horário ela falta. Tem dias que 10h já não dá mais água”, garante a balconista e moradora da área, Lia do Nascimento. “A minha sogra tem que acordar 5h pra aproveitar a água até 8h. Tem que se levantar cedo pra juntar água porque na rua dela 8h a água vai embora”.
Convivendo diariamente com o problema, não é raro que os moradores tenham que se deslocar até uma nascente de água potável localizada na rua.
José Leal Martins. Em dias de falta d’água nas torneiras, chegam a se formar filas para conseguir encher galões e baldes. “Tem dias que a água não vem mesmo. Acorda de manhã já sem água e só lá pra 20h é que começa a pingar. Quando acontece isso o jeito é vir aqui pegar água. Fica uma fila que só vendo”, relata. “Tem semana que suspende (o abastecimento), tem semana que funciona e ninguém vê isso. Mas na hora de cobrar, chega a conta. Já não tem água e querem cobrar pra quê?”.
PÉSSIMA QUALIDADE
Com dois galões já cheios d’água que brota pelo cano improvisado na rua, o ajudante Benedito de Lima perde a conta de quantas vezes as torneiras de casa ficam secas. Insatisfeito mesmo quando o serviço é fornecido, ele lembra que a qualidade da água não é das melhores. “Além de faltar muito, essa água quando vem só serve pra lavar roupa mesmo. É muito suja”, afirma. “Às vezes ela vai embora cedo da noite e só volta de manhã”.
Mesmo com a proximidade do local onde estão localizados os lagos artificiais de onde é captada a água distribuída para parte de Belém, a residência do motorista Rosemiro Oliveira não deixa de ter a rotina modificada pela interrupção do abastecimento. “Falta água e muito aqui. Tinha que trocar é essa tubulação. Moro aqui desde os 10 anos e não me lembro de ver trocarem esses tubos”, lembra o senhor de 65 anos. “Ontem (segunda-feira) faltou água 15h e só voltou 22h. E olha que aqui no Curió-Utinga a gente tá bem perto da Cosanpa (Companhia de Saneamento do Estado do Pará)”.
Fonte: DOL