Amazonas – Para delimitar uma área de conservação – que são as áreas naturais passíveis de proteção por suas características especiais – os responsáveis por este trabalho usualmente se baseiam em uma lista de espécies raras, onde as áreas que contém essas espécies são tidas como áreas de conservação. A forma como é feita essa análise vem desde a década de 70, mas ao longo do tempo, as pesquisas foram se aprimorando.
Foi assim que o bolsista em pós-doutorado pelo Programa de Apoio à Pesquisa (Universal Amazonas) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), doutor Jorge Luiz P. Souza, desenvolveu um estudo tendo como base a resposta das formigas de uma determinada área interessante para conservação.
As pesquisas iniciaram em 2014, quando Jorge, estudando a dinâmica dos mais diversos organismos, observou que ao longo do tempo as espécies que existem num determinado lugar tendem a se substituir e essa substituição pode ser relativamente rápida.
Trabalhando com as formigas desde que veio para Manaus, em 2005, o pesquisador foi se aprofundando ainda mais nos estudos em torno dessas espécies e notou que, em um determinado lugar onde as espécies eram consideradas raras, quando havia outro evento de coleta para pesquisa, aquelas espécies não eram mais raras, pois já haviam se tornado frequentes naquele local.
“Foi assim que eu cheguei à conclusão de que, se eu tivesse utilizado a primeira lista que eu havia feito, eu iria decidir que aquela área seria interessante para conservação, porém, ao observar o comportamento das formigas em outro momento, notei que as pesquisas em torno delas deveriam ser aprofundadas, pois elas se tornaram frequentes ali naquele local, deixando de ser raras, e foi assim que eu cheguei a esse projeto e o submeti ao edital da Fapeam”, explicou Souza.
Objetivo do projeto
O foco nas pesquisas começou a partir dessa observação, e de acordo com Jorge, o primeiro objetivo foi entender como acontecia a substituição das espécies ao longo de um período de tempo, seja medindo efeitos sazonais de chuva, seca, ou ao longo da época do ano.
Segundo ele, para melhorar a política de tomada de decisão para uma área de conservação é preciso entender como funciona a dinâmica populacional dos organismos ao longo do tempo. Se as pesquisas se basearem apenas no resultado de uma primeira coleta, então pode ser que se esteja priorizando uma área que não tão relevante para a conservação em detrimentos de outras, e por isso é preciso que existam pesquisas mais aprofundadas em torno desta dinâmica das espécies ao longo do tempo.
Dividido em três fases, o projeto está em sua última etapa. A primeira consistiu em organizar o banco de dados das espécies e depois coletar mais material (repetição temporal) para identificá-las. A análise desses materiais fez parte da segunda fase do estudo e teve como finalidade entender como ocorre a substituição dessas espécies ao longo do tempo.
A terceira e última fase é a reunião dos dados para que o resultado seja divulgado. Para ele, um dos resultados que o projeto irá trazer é suscitar mais discussões em torno da política de escolha de áreas de conservação e, assim, gerar melhores tomadas de decisões em relação à escolha dessas áreas.
“Infelizmente é uma situação complicada, porque quando se vão delimitar grandes extensões territoriais para conservação da biodiversidade, nem todas as pessoas, principalmente aquelas que têm uma distância grande da ciência ou que não têm uma relação muito próxima ao meio ambiente, conseguem entender o porquê de lutarmos tanto pela preservação da biodiversidade do planeta. Por isso, quanto mais essa discussão for fomentada com base em estudos científicos confiáveis, melhor será para entender o motivo de defendermos tanto a conservação de determinados lugares”, afirmou Jorge Luiz.
Outro resultado que essa pesquisa já está gerando é a formação de pessoal do próprio Estado que estão tomando como base o estudo da sazonalidade na resposta das formigas. De acordo com Souza, já se formaram alunos de mestrado, graduação, e iniciação científica, todos devido ao projeto que os auxiliou em suas teses e trabalhos.
Amazonianarede-Agencia Fapeam
Apoio das instituições
Para Jorge Luiz, o incentivo das instituições de ensino e pesquisa é fundamental para o andamento do projeto. Além da Fapeam, que apoia a iniciativa por meio do Programa Universal Amazonas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) também são parceiras desse estudo.
“Nós estamos trabalhando junto à UFMT como forma de expandir esse estudo para outros biomas e levar a pesquisa para fora do Amazonas. Já a Fapeam vem incentivar a nós, pesquisadores, a permanecermos aqui no Estado, aplicando o resultado das nossas pesquisas aqui na região e isso é muito importante para se ter um retorno do investimento aplicado em Ciência, Tecnologia e Inovação, pelo Estado”, finalizou Souza.
O projeto de pesquisa está previsto para ser finalizado no primeiro trimestre de 2017.