Brasília – Com a promessa de universalizar o acesso à internet e a expectativa de uma disputa politizada, a presidente Dilma Rousseff preferiu a rede para dar o pontapé inicial da campanha, com o lançamento do site oficial. Em um vídeo de 3 minutos, a presidente prometeu mais interação com os eleitores e, em alguns trechos, flertou com políticas comandadas por ela, como o destaque ao Marco Civil da Internet, sancionado em abril, e a participação popular nas decisões políticas, apresentada em um decreto publicado mês passado. A exposição das vitrines eleitorais da presidente, entretanto, já vinha sendo fortalecida e ganhou mais força no último mês. Nas últimas três semanas em que pode lançar programas, antes da legislação eleitoral entrar em vigor, a presidente reeditou o Ciência sem Fronteiras, o Pronatec e o Minha Casa, Minha Vida.
No vídeo, Dilma se comprometeu a fazer uma campanha de “alto nível”. “Ao contrário do que pensam alguns, acho que essa vai ser uma das campanhas mais politizadas da nossa história. Espero que essa politização se dê em torno da discussão, das grandes reformas que o Brasil precisa fazer para caminhar melhor e mais rápido”, disse. O principal espaço para fazer esse debate será a rede — ela afirma ter sido a “presidenta que ajudou a criar o primeiro Marco Civil da Internet no mundo”. “Somos um dos países com mais acessos à internet no mundo, e uma das minhas prioridades, em um segundo mandato, será democratizar ainda mais o uso da internet no Brasil”, prometeu.
A ideia da presidente é detalhar as propostas no site, “sendo a principal o ‘projeto banda larga para todos’”. O projeto visa promover a universalização do do uso da rede, com um serviço de internet rápida, barata, potente e segura. A intenção é que a rede se torne uma ferramenta de educação, lazer e instrumento de participação popular, em especial nas decisões do governo.
Iniciada oficialmente ontem, a maratona da presidente com foco na corrida já havia começado. O estímulo à interação com a sociedade dentro do governo, que ela cita no vídeo, por exemplo, foi iniciado no fim de maio, com a inauguração do portal Participa.Br. A página ficou no ar pouco mais de um mês e foi congelada devido às regras da legislação eleitoral.
Pacotes eleitorais
Nas últimas semanas, ela investiu no relançamento de programas com metas atuais ainda em fase de conclusão. O último foi a terceira fase do Minha Casa, Minha Vida, na quinta-feira. Graças à tecnologia, a nova etapa foi lançada em 11 cidades simultaneamente, com uma pendência de 350 mil unidades para serem entregues até o fim do ano. Nessa nova etapa, o programa oferecerá 3 milhões de unidades — 500 mil a mais do que a promessa a ser finalizada este ano.
Na semana anterior, foi a vez de o Ciência Sem Fronteiras ser reeditado. Criado em 2011, ele tinha a meta de oferecer 101 mil bolsas de estudo no exterior, sendo cerca de 25% custeadas pela iniciativa privada. Como o setor teve dificuldade de cumprir essa parcela, no dia 25, a presidente afirmou que o governo arcaria com os custos das que faltaram para alcançar o objetivo. Anunciou ainda uma marca semelhante à do início do governo para o próximo ano, com 100 mil bolsas. Sete dias antes, a presidente relançou o Pronatec, com 25% a mais de matrículas a partir de 2015 e com a possibilidade de aproveitar os créditos dos cursos já feitos. O governo alcançou 7,4 milhões dos 8 milhões de matrículas prometidas.
Embora os programas tenham sido reeditados sem o cumprimento da meta, a presidente tem ressaltado que, em todos os casos, está perto de concluir as promessas. “Falta contratar mais 350 mil (unidades habitacionais). Nós, hoje, temos competência e capacidade para fazer isso até o fim do ano, sem o menor problema”, disse, no lançamento do Minha Casa, Minha Vida 3. O argumento é o mesmo do Ministério da Educação. No lançamento do Pronatec 2.0, a pasta afirmou que é natural a presidente estabelecer novas metas antes da conclusão das atuais, porque o ministério detectou a capacidade de cumprir o que prometeu.
Para a oposição, entretanto, a maratona tem caráter meramente eleitoreiro. O líder do PSDB na Câmara, deputado Antônio Imbassahy (BA), diz que a presidente entrou o ano em campanha. Na avaliação dele, os anúncios ocorreram com a mira nas urnas. “A tática de Dilma é velha. Ela não apenas tem relançado programas que já existem como repetido promessas, algumas ainda do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nem ele concluiu. Estamos vendo projetos relançados muitas vezes pela terceira, quarta vez consecutiva. A campanha dela começou cedo”, critica o tucano.
“Uma das minhas prioridades, em um segundo mandato, será democratizar ainda mais o uso da internet no Brasil”
Dilma Rousseff (PT), candidata à Presidência da República
Vitrines ampliadas
No último mês, a presidente Dilma Rousseff lançou, em cerimônias cheias de pompa, novas versões de suas principais vitrines eleitorais. Nos três casos, as metas foram renovadas. Confira o que foi apresentado:
Ciência Sem Fronteiras
» Como era: criado em 2011, o programa prometia 101 mil bolsas até 2014. Até o momento, já foram ofertadas cerca de 84 mil oportunidades.
» Como fica: sem nenhuma roupagem nova, a partir de 2015, o governo promete mais 100 mil bolsas.
Pronatec
» Como era: também criado em 2011, o Pronatec nasceu com a meta de matricular 8 milhões de estudantes em cursos técnicos até 2014. Atualmente, o governo contabiliza 7,4 milhões inscritos.
» Como fica: para o próximo ano, a meta passou para 12 milhões de matrículas em quatro anos. Além do aumento no número de vagas, os estudantes poderão aproveitar os créditos já cursados em novos cursos.
Minha Casa, Minha Vida
» Como era: lançado no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2009, o Minha Casa, Minha Vida foi renovado no governo Dilma com o objetivo de entregar mais 2,75 milhões de unidades. Somando o milhão de unidades prometidas por Lula, o governo ainda precisa entregar 350 mil para alcançar a meta.
» Como fica: com a mesma estrutura, a partir de 2015, o governo promete contratar mais 3 milhões de unidades.
Fonte: Correio Web