Debate religioso e ataques cruzados esquentam a campanha presidencial

15-09marimaRio – Marina tenta afastar o estigma de ser evangélica fervorosa e defende o convívio respeitoso. Ao mesmo tempo, volta a artilharia contra Dilma. Ao responder, a presidente critica a “vitimização” da rival. No Rio, Aécio promete bolsa de um salário mínimo para ajudar estudantes.

Os temas sensíveis que alimentaram o debate religioso e predominaram no segundo turno da eleição de 2010, caso do aborto e do casamento gay, voltam à baila esta semana com o debate promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) amanhã, em Aparecida (SP). Desta vez, entretanto, todos estão ressabiados e tentam se blindar para não deixar que esses assuntos, ou o fato de professarem uma religião diferente, atrapalhem a campanha.

Nesse último caso, quem mais trabalha o discurso é Marina Silva (PSB). Empatada com a presidente candidata Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas, a socialista tenta tirar a pecha de fundamentalista evangélica. Ontem, aproveitou o domingo para citar a questão religiosa. “Hoje, muitos vão à missa. Outros vão ao culto. Aqueles que não creem vão se divertir. Meu compromisso é com o estado laico. Conviver de maneira respeitosa na diferença. Precisamos criar uma cultura de paz e não de ódio”, disse, em Ceilândia, acrescentando que não vai “agredir uma mulher”, referindo-se a Dilma.

Os demais presidenciáveis não têm sentido tanta necessidade de se firmar perante o eleitorado católico. Os tucanos, por exemplo, consideram que o candidato do PSDB, Aécio Neves, que sempre participa de cerimônias religiosas em Minas Gerais, não tem problemas dessa ordem na campanha. Tampouco a presidente Dilma considera ter diferenças a tirar com a Igreja, mesmo depois de ter sido vítima de ataques de segmentos ligados aos católicos na eleição de 2010. Naquela temporada, houve, inclusive, a distribuição de panfletos apócrifos nas proximidades da Basílica de Aparecida, no dia da Padroeira do Brasil, 12 de outubro. Até ontem, Dilma não havia preparado nada específico para anunciar no debate da CNBB, que será transmitido ao vivo, amanhã, a partir das 21h30 por oito emissoras de inspiração católica, 230 rádios e uma infinidade de portais católicos.

Assessores da campanha da presidente consideram que os temas religiosos não dominarão o debate. Em conversas reservadas, eles têm dito que o que está em jogo é um projeto de país — o modelo que está aí e o que será proposto pelos demais. Portanto, os temas se referem mais aos programas sociais, à eficiência dos serviços públicos e à economia. Tudo isso, obviamente, entremeado com o chamado combate à corrupção, em que os adversários de Dilma tentam debitar da conta dela qualquer escândalo que envolva o Poder Executivo federal.

Petrobras

Ontem, por exemplo, no comício do PSB em Ceilândia, a crise na Petrobras se fez presente. Ao rebater os ataques que tem recebido do PT, Marina entremeou o discurso de oferecer “a outra face” com críticas diretas: “À corrupção da Petrobras, eu ofereço a face da honestidade”, disse ela, ao lado do candidato a governador Rodrigo Rollemberg (PSB), do candidato a senador na chapa, Antonio Reguffe (PDT), e do senador Cristovam Buarque (PDT), que não disputa cargo nesta eleição, mas tem trabalhado em favor dos colegas. “Temos que eleger a bancada da Marina, que não será comprada com mensalão nem recursos da Petrobras.” À tarde, em encontro com lideranças indígenas, Marina disse não ter “posicionamento ideológico contra hidrelétricas”.

“Indignação”

Dilma Rousseff, por sua vez, respondeu às críticas de Marina durante coletiva no Palácio da Alvorada. “Eu não ataco, eu divirjo. Isso faz parte da democracia”, disse a petista, para, em seguida responder à declaração de Marina sobre o “assalto” à Petrobras por 12 anos: “Tive um momento de indignação quando a candidata se referiu ao que foi feito pelo PT na Petrobras em 12 anos. Primeiro, porque ela foi do PT por 27 anos. Dos 12, ela esteve no ministério ou na bancada do partido em oito. (…) Houve um ataque que não acho que foi um ataque político. Não tenho nenhum problema em discutir o que está no programa da candidata. Não cabe à gente se vitimizar. Enquanto o debate for político e não disser respeito à honra e a características pessoais de ninguém, que se dê o debate e falem de projetos, que é da democracia”, disse Dilma. Quanto às declarações de Marina de que os adversários só a atacam, a petista respondeu que quem quer ser presidente tem que saber aguentar “críticas e pressão”. “Não tem coitadinho na Presidência. Quem se sente coitadinho não pode chegar lá”, afirmou.

A presidente convocou a coletiva para dizer que abrirá uma segunda fase do Ciências sem Fronteiras, com a oferta de mais 100 mil bolsas. Segundo ela, 86,1 mil pessoas já foram contempladas com o programa. E, no novo edital de seleção, aberto até o dia 29, já se inscreveram 60 mil pessoas, para disputar 14,9 mil bolsas. Por isso, segundo ela, quem não for contemplado agora terá nova chance com a segunda fase.

Programa tucano

O candidato do PSDB, Aécio Neves, também aproveitou o domingo para anunciar uma nova bolsa a estudantes durante visita à Central Única das Favelas (Cufa), em Madureira, Zona Norte do Rio. Acompanhado do ex-jogador de futebol Ronaldo Fenômeno — os dois chegaram a arriscar alguns passos de capoeira e de dança funk —, o candidato prometeu pagar um benefício no valor de um salário mínimo por mês para garantir a conclusão dos estudos a jovens brasileiros entre 18 e 29 anos que não completaram o ensino fundamental ou o médio. “Eu vou pagar uma bolsa de um salário mínimo para resgatar os 20 milhões de jovens que não concluíram esse ensino. Eles vão completar o fundamental. Os que quiserem vão concluir o ensino médio e a gente vai qualificá-los no curso técnico, que tem a ver com as oportunidades do mercado.”

Segundo o presidenciável, ao fim de cada ano de ensino, os alunos receberão o recurso da bolsa em uma conta pessoal, podendo retirá-lo no término do curso, desde que tenha tido assiduidade e bom comportamento. O candidato defendeu ainda a implantação de políticas de qualificação profissional e geração de renda nos aglomerados e favelas. “Nós temos que levar políticas de geração de renda e de qualificação para as pessoas onde elas moram.

Existe um conjunto de ações que estamos propondo que, além da qualificação, é permitir a oferta de crédito, a construção de hospitais nos grandes aglomerados brasileiros e escolas de qualidade. Não adianta a gente criar uma expectativa para esses jovens se não dermos condições”, disse. Segundo Aécio, qualificação e geração de renda são duas das principais propostas do PSDB para as favelas e para os aglomerados brasileiros.

Fonte: Correio Web

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