CPMI do Cachoeira ganha apenas 48 dias; políticos falam em “pizza”

Brasília – Tal como o Jornal do Brasil anunciara, a volta do Congresso depois das eleições provocou uma queda de braço em torno da prorrogação dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) do Cachoeira.

O primeiro round parece ter sido ganho pelo grupo governista, tendo à frente o relator da Comissão, deputado Odair Cunha (PT-MG). Mais ágil, ele protocolou na manhã desta quarta-feira (31) um requerimento com as assinaturas necessária para prorrogar por apenas 48 dias os trabalhos da comissão. O pedido foi oficialmente apresentado à mesa do Congresso Nacional e basta ser lido em Plenário à tarde para que o prazo seja automaticamente estendido.

O pedido colide com os interesses do chamado grupo independente da CPMI que abriga deputados e senadores de diversos partidos, inclusive o carioca Miro Teixeira e o mato-grossense Pedro Taques, ambos do PDT, partido da base do governo. Eles defendem a prorrogação por um tempo maior – 180 dias – de forma a aprofundarem as investigações, notadamente em torno do envolvimento da Delta Construções com políticos e governos estaduais. Um dos alvos seria o governador do Rio, Sérgio Cabral.

Com a prorrogação por apenas 48 dias, como informa a Agência Senado, os trabalhos vão até 22 de dezembro, quando termina a sessão legislativa de 2012. Desta forma, haverá tempo basicamente para preparar e discutir o relatório final.

Molho de pizza

A decisão provocou a revolta dos que defendem 180 dias de prorrogação. Os senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Álvaro Dias (PSDB-PR) já estão desistindo de buscar assinaturas pela prorrogação maior. Para Rodrigues, foi o “molho da pizza” servida pela comissão de inquérito. Dias, por sua vez, lamentou a chance perdida pelo Congresso de recuperar a “credibilidade” da instituição.

– Os parlamentares se transformaram em verdadeiros pizzaiolos. Hoje foi decretado o sepultamento da CPI, com este enterro medíocre. Não temos mais esperança. O governo passou o rolo para valer, tem maioria esmagadora e a prorrogação de 48 dias significa o fim da CPI agora, pois não há tempo de receber mais informações nem disposição para mais quebras de sigilo. Isso confirma que o propósito desta CPI desde o início foi atacar o PSDB e não investigar este monumental escândalo de corrupção – afirmou o parlamentar tucano.

O senador Taques também não concordou com a prorrogação de 48 dias e afirmou que a comissão está “jogando o lixo para baixo do tapete”. O parlamentar é um dos que defendem novas quebras de sigilos bancários, fiscais e telefônicos de dezenas de empresas que teriam recebidos recursos públicos supostamente desviados pela empreiteira Delta.

Defesa dos trabalhos

O deputado Odair Cunha rebateu as críticas. Para ele, haveria enterro da CPI se o relatório não fosse finalizado.
– Nós estamos fazendo uma investigação aprofundada no prazo que o Congresso Nacional nos deu, que foi de seis meses. Essa prorrogação de 48 dias é necessária para uma discussão transparente de todos os pontos do relatório – disse o relator.

Para o deputado, a CPI conseguiu desmontar uma organização criminosa infiltrada no aparelho estatal, corrompendo parlamentares e agentes do Executivo. Na opinião dele, outras linhas de investigação abertas pela comissão devem ser investigadas por outros órgãos.

– Um processo de investigação sempre leva a outro. A operação Monte Carlo [responsável pela prisão de Cachoeira em 29 de fevereiro], por exemplo, levou a oito novas linhas investigatórias. Com certeza, nosso relatório vai produzir novas frentes, que poderão até mesmo resultar na criação de novas CPIs. Todas as movimentações suspeitas da Delta constarão no relatório – argumentou.

Cabral gera bate-boca

A reunião desta quarta-feira (31) foi marcada por discussões entre os integrantes da comissão. Uma possível convocação do governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, terminou em bate-boca entre dois deputados. Leonardo Picciani (PMDB-RJ) e Rubens Bueno (PPS-PR) discutiram rispidamente sobre a questão. Rubens Bueno reclamou que a Delta foi blindada por tudo e por todos, assim como Sérgio Cabral.

– Estamos há 60 dias sem tomar nenhuma decisão ou atitude. O principal suspeito desta CPI é o Cabral. O que ele tem a esconder? – indagou.

Ao defender o chefe do Executivo fluminense, Picciani chamou Bueno de leviano.

– Cabral não foi convocado porque o nome dele não foi citado sequer uma vez nas milhares de gravações. Relação com o dono da Delta era no plano pessoal e o governador jamais a escondeu.

Requerimento

A pedido do relator e com a concordância de 17 integrantes, os 533 requerimentos constantes em pauta não foram avaliados pela comissão, que volta a se reunir na próxima semana, com data a ser definida pelo presidente, Vital do Rêgo (PMDB-PB).

(Com informações da Agência Senado)

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