Boa Vista: Situação da água na Capital é “delicada”

Amazonianarede – Folha BV

Boa Vista – Celebrado mundialmente hoje, 22, o Dia Mundial da Água é uma oportunidade para estimular a reflexão em prol dos recursos hídricos. Com uma bacia hidrográfica de 204.640 km² de extensão, os recursos hídricos roraimenses vivem uma situação delicada, especialmente na área urbana de Boa Vista, dos quais os danos vêm principalmente de ações do poder público.

E o poder público é o principal responsável por esta realidade.

Ao comportar 63,25% de toda a população, Boa Vista concentra também os maiores exemplos de degradação, tanto nas lagoas como nos igarapés e nos rios. Os problemas mais preocupantes são a canalização e retificação dos igarapés urbanos e lançamento de esgotos in natura (sem qualquer tipo de tratamento) em rios e igarapés. O problema só não é mais grave porque o nível de esgoto industrial ainda é baixo em Boa Vista.

Segundo o pesquisador da área ambiental Vladimir de Souza, o principal problema, a exemplo de outros estados, é a falta de legislação que evite ocupações irregulares que invadem a área de preservação destes igarapés. Ele falou ainda sobre a parcela de culpa dos governos no quadro atual.

“Hoje o poder público representa cerca de 70% dos problemas aos recursos hídricos, seja pelo lançamento de esgoto nos rios, canalização e negligência na fiscalização”, disse ao salientar que o restante da culpa seria a falta de consciência ambiental da população, que seria a parte mais fácil de ser trabalhada, segundo ele.

Todas as ações feitas contra a natureza são cobradas depois, ainda que demore. Um exemplo desta cobrança é que atualmente mais de 90% das lagoas da capital desapareceram, pois foram aterradas. A ação do passado gera, a cada período chuvoso, um problema que se tornou praticamente crônico: os alagamentos em pontos isolados.

Numa análise mais ampla, quando se fala de Roraima como um todo, a realidade é diferente. Boa parte do Estado é coberta por mata e 80% das nascentes dos grandes rios estão em áreas protegidas, o que para a qualidade da água é excelente. Como exemplo há os rios Tacutu, Maú, Mucajaí e Jauaperi, todos com boa parte do seu percurso em áreas protegidas. Além disso, a grande parcela dos recursos hídricos está na área rural, o que diminui a incidência de ações degradantes.

SOLUÇÕES – Para o pesquisador, com pequenas ações é possível tirar os igarapés de Boa Vista de situação de risco. Ele avalia que na comparação com os principais estados da região Norte, a bacia de Roraima está numa situação confortável. “Nós temos uma das águas de maior qualidade do país, mas os roraimenses não sabem reconhecer e cuidar desta verdadeira riqueza que temos em mãos”, disse.

Igarapé Mirandinha é o que está em situação mais crítica

Boa Vista possui sete grandes igarapés: Caranã, Caxangá, Frasco, Pricumã, Grande, Paca e o Mirandinha, considerado o que mais sofre com a degradação. Seu curso d’água passa pelos bairros dos Estados, Aparecida, Canarinho, Paraviana e Caçari e está quase que totalmente canalizado.

No início desta semana, a Folha denunciou o despejo de esgoto no igarapé Mirandinha, no qual uma estação na elevatória da Companhia de Águas e Esgotos (Caer) estaria despejando dejetos sem tratamento diretamente na parte canalizada do igarapé.

Em fevereiro do ano passado, a Caer já havia sido multada em mais de R$ 1 milhão pelos órgãos ambientais por causa do problema. Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR), realizaram análises de amostras colhidas e confirmaram a poluição ocasionada por esgoto in natura.

Uma moradora que reside próximo ao igarapé contou que o despejo é ininterrupto, principalmente no período da noite. “Além da tristeza em presenciar um flagrante de degradação ambiental, precisamos conviver com o mau cheiro, que é insuportável”, disse.

A Caer nega o despejo de esgoto in natura nos igarapés e no rio Branco. A empresa justificou que um entupimento provocou o desligamento das bombas da elevatória que fica às margens do Mirandinha, no bairro Caçari. Por esse motivo, o esgoto teria sido despejado direto no igarapé por cerca de 1 hora, até o restabelecimento do sistema.

OUTROS – O maior igarapé em extensão é o Caranã, com cerca de 10 quilômetros de comprimento, que passa por vários bairros da zona oeste da cidade. Outro importante é o Caxangá, que fica na área central, passando pelos bairros São Vicente, Calungá e Centro. Já o igarapé do Frasco vem sofrendo agressões com obras que estão destruindo a mata ciliar. Ele percorre bairros como Aeroporto, Cauamé e Jardim Floresta.

O igarapé Grande recebeu esse nome porque é formado por vários igarapés que se unem, formando uma grande área alagada, atingindo os bairros Araceli, Raiar do Sol e Nova Cidade. O igarapé Paca nasce no bairro Jardim das Copaíbas e se une ao igarapé Grande, desaguando no rio Branco.

Governo pode receber recurso para melhorar a gestão das águas

A Agência Nacional de Águas (ANA) lançou ontem, em Brasília, o Programa de Consolidação do Pacto Nacional pela Gestão das Águas (Progestão). Os governos estaduais vão receber, até 2018, parcelas anuais de R$ 750 mil para melhorar a gestão de recursos hídricos em cada região. O repasse vai depender da adesão dessas administrações ao programa.

Com esse apoio financeiro, os estados terão condições de melhorar a gestão das águas. A expectativa, com o novo programa, é que estados mais atrasados consigam se aproximar das estruturas encontradas em Minas Gerais, São Paulo, Ceará e Rio de Janeiro, apontadas como as mais avançadas do país, atualmente.

Pela Constituição Federal, a responsabilidade sobre as águas subterrâneas e as que têm nascentes e foz em determinado território é do estado que sedia essa área. A União responde pelos rios que fazem divisa entre estados ou fronteira com outros países. No entanto, nem todos os locais têm estruturas preparadas para administrar o uso dessas águas ou pessoal suficiente.

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