Porto Velho – Rio Madeira – Em Porto Velho, estudos desenvolvidos pela Energia Sustentável do Brasil – ESBR, concessionária da Usina Hidrelétrica Jirau, apontam para a existência de 20 barreiros próximos ao empreendimento e de 14 espécies de aves que se alimentam deles, principalmente psitacídeos (nome científico para categorizar aves da família das araras e papagaios).
Os estudos fazem parte dos 33 programas socioambientais desenvolvidos pela ESBR na região do empreendimento, totalizando um investimento aproximado de R$ 1,2 bilhão em pesquisas, monitoramentos e ações diversas que buscam mitigar possíveis interferências sociais e ambientais. “As ações do programa são acompanhadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e as descobertas e resultados a que chegamos, foram levados ao conhecimento do órgão”, enfatiza a coordenadora de Meio Biótico da ESBR, Ludmila Castro.
A coordenadora do Subprograma de Monitoramento da Avifauna pela Arcadis Logos, Érica Cristina Padovani Haller, que participa dos estudos desde o início, em 2009, ressalta que o grupo de pesquisadores de Jirau é o primeiro na América do Sul a chegar a uma possível conclusão sobre o motivo dos pássaros se alimentarem de barro.
Os resultados ainda estão sendo publicados, mas a pesquisadora adianta que para chegar a este ponto, foram analisadas amostras das camadas de solo ingeridas pelas aves e observado o comportamento das mesmas durante um período de dois anos. “Nós notamos que elas não bicavam em todas as camadas. Somente em algumas. E nessas camadas constatamos a presença de duas substâncias químicas importantes que regulam a acidez do organismo, as quais serão reveladas em breve. Acreditamos que eles utilizem o barro como regulador da acidez”, adianta Érica.
A pesquisadora também revela que os estudos realizados até agora constataram que a formação do reservatório da Usina Jirau não afetará as aves que se alimentam de barro. Dos 20 barreiros registrados – sendo cinco na região do Caiçara, três em Mutum e 12 em Abunã – somente um, o que está localizado mais próximo ao barramento, na região do Caiçara, ficará submerso.
Quanto aos situados na região de Mutum, ficarão com partes submersas apenas em um período do ano, como já ocorre naturalmente hoje, uma vez que o reservatório vai operar com cota variável ao longo dos meses, ou seja, mais baixo no período de estiagem, de junho a novembro, e mais alto durante a cheia natural do rio. Já os barreiros de Abunã praticamente não terão influência do reservatório, uma vez que ficam distantes do barramento. “E é justamente nesses barreiros de Abunã, na área conhecida como Paredão Vermelho, que não será afetada, que encontramos a maior concentração das aves”, assinala Érica.
“É importante esclarecer que essas aves não se alimentam unicamente de barro. Elas comem frutos e sementes como todas as outras. O que ocorre é que em um determinado momento do ano, quando os barreiros estão expostos, elas comem também camadas específicas de barro, como se quisessem repor algo que está faltando ou complementar a alimentação”, informa Érica, acrescentando que essas espécies são abundantes e de ampla distribuição na bacia Amazônica, além de apresentarem hábitos migratórios, se deslocando constantemente por grandes distâncias.
Para auxiliar no monitoramento, nos dois primeiros anos do programa, 133 animais foram anilhados (marcação com anéis numerados). Com isso, quando a Usina estiver operando, será possível saber se as aves estão usando os mesmos barreiros ou migrando para outros. O monitoramento dos barreiros será realizado pelo empreendimento por, pelo menos, mais dois anos após o início da geração de energia elétrica.