(Tatiana Campos/Agência de Notícias do Acre)
Uma nova esperança para os pacientes que aguardam por um transplante de fígado no estado está próxima de se concretizar. O Acre se prepara para vencer mais um desafio na área da medicina: iniciar a captação e transplantes do órgão no estado, procedimento realizado até então apenas com córneas e rins.
Para o governador Tião Viana, está é uma nova fronteira em relação aos transplantes vencida na Amazônia. A Secretaria de Saúde finaliza a documentação que será enviada ao Sistema Nacional de Transplantes (SNT) para aguardar o cadastro do estado no sistema. O processo de credenciamento do Hospital das Clínicas será concluído com a publicação de portaria específica em Brasília.
O médico Tércio Genzini, diretor do Grupo Hepato, que é parceiro do Acre para a implementação do trabalho de captação e transplantes de fígado, explica que o resultado é fruto de um longo processo de capacitação, consolidação de procedimentos e aquisição de materiais. Alguns pacientes portadores de cirrose hepática já estão sendo selecionados e assim que surgirem doadores compatíveis os transplantes serão iniciados.
Genzini também dirige os serviços de hepatologia dos hospitais Bandeirantes e Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ele explica que os primeiros transplantes serão feitos em conjunto entre o Grupo Hepato e a equipe médica local, formada por dois cirurgiões, três clínicos gerais e quatro enfermeiros, sendo um instrumentador. “Assim que o procedimento estiver consolidado e a equipe local, que já recebeu um treinamento específico, se sentir confortável para realizá-lo sozinha o grupo deixará de participar de forma direta. Os primeiros transplantes serão feitos também com dois cirurgiões, um anestesista e um instrumentador do Hepato”, complementa o doutor Genzini.
Doar órgãos salva vidas
O Acre tem doadores suficientes para suprir a necessidade da fila de espera por transplantes de fígado no estado. O problema é que em mais de 80% dos possíveis casos existe a recusa da família em doar os órgãos. Este é um desafio, explica Genzini, que precisa ser vencido através de todas as formas de conscientização.
“Como o doador de órgãos ainda tem o coração batendo, isso impressiona algumas famílias e cria esperança de recuperação. A medicina considera morta uma pessoa com morte cerebral, onde o cérebro já não tem nem circulação nem atividade. E isso é diferente do coma, onde a pessoa pode voltar, pois neste caso o cérebro não perdeu a atividade e continua a ter circulação sanguínea”, justifica.
A morte cerebral é um processo irreversível. O coração continua a bater por algumas horas ou dias, até que também pare de funcionar, paralisando todos os demais órgãos. “É este o tempo que a equipe médica tem para esclarecer as dúvidas da família e realizar o procedimento. Cada doador faz com que duas pessoas voltem a enxergar, duas voltem a ter rins e uma volte a ter fígado. São vidas sendo salvas neste ato”, ressalta.