Manaus, AM – Uma iniciativa que vem sendo realizada há quase 20 anos pela Marinha do Brasil em localidades do interior da Amazônia levou atendimento médico especializado e odontológico a moradores de 27 comunidades ribeirinhas em regiões de difícil acesso na Reserva Extrativista (Resex) do rio Gregório, entre os municípios de Eirunepé e Ipixuna, no Amazonas.
A Operação Acre 2019, que percorreu durante quatro meses localidades situadas em torno do rio Juruá, tanto no Estado do Amazonas quanto no Acre, atendendo a população dentro do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Doutor Montenegro.
Coordenada pelo 9º Distrito Naval da Marinha do Brasil, a Operação Acre recebeu apoio da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), responsável por incluir as comunidades da Resex do rio Gregório na programação de atendimentos médicos e odontológicos, e também da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), gestora da unidade de conservação.
A ação havia iniciado em janeiro deste ano, com previsão de atender entre 15 a 20 mil pessoas até 30 de abril por 12 municípios: Juruá, Itamarati, Carauari, Eirunepé, Ipixuna e Guajará, no Amazonas, e Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo e Mâncio Lima, no Acre.
Comunidades remotas
As comunidades remotas da Resex do rio Gregório, situadas entre Eirunepé e Ipixuna, puderam ser atendidas a partir de uma parada do navio na orla da comunidade Rivaliza, na foz do rio Gregório e confluência com o rio Juruá.
“Nós fizemos o contato com a Marinha solicitando que o navio de assistência hospitalar fizesse uma parada de dois dias em frente à comunidade Rivaliza, que é a porta de acesso à Resex, para não deslocar da rota deles no rio Juruá”, explicou Marcelo Castro, coordenador do Programa Bolsa Floresta (PBF) da região do Juruá.
“Essa articulação é fundamental para garantir a mobilização dessas famílias que precisam descer o rio Gregório para se integrarem a programação da operação”.
Nos dias 11 e 12 de abril os moradores da Resex do rio Gregório se deslocaram em pequenos barcos até a confluência com o rio Juruá, onde estava parado o navio da Marinha, e foram atendidos nas mais diversas especialidades, como consultas médicas em clínica geral, cardiologia, ginecologia, proctologia, ortopedia e dermatologia; consultas odontológicas; exames clínicos laboratoriais; cirurgias de pequeno porte; pré-natal; exames de mamografia; raio-X; além de palestras educativas; distribuição de medicamentos; e atenção farmacêutica. Ao todo, foram mais de 400 atendimentos e os comunitários também receberam kits de higiene bucal e sandálias para proteção dos pés. Os casos mais graves foram enviados para as sedes municipais.
Apoio a deslocamentos
“Como gestores da unidade de conservação, apoiamos o deslocamento dos comunitários até o local onde estava o navio, garantindo a participação de um número maior de pessoas nesta ação tão importante.
Agradecemos aos parceiros por prestarem este atendimento aos moradores da Resex e esperamos que a ação possa voltar a acontecer nesta região”, declarou Walben Júnior, gestor da Resex Rio Gregório pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema).
Uma das pessoas beneficiadas pela operação foi a dona de casa Maria do Socorro, moradora da comunidade do Santo Amaro, na Resex Rio Gregório. Ela viajou com os filhos até o navio e todos receberam atendimentos médicos. “Eu e meus filhos fomos atendidos. A minha filha estava mal, cansada, à noite não dormiu, mas agora está melhorando”, disse Maria do Socorro. Segundo ela, a Operação Acre é importante por dar acesso em saúde aos moradores de comunidades remotas como as do rio Gregório.
“O atendimento em saúde na minha comunidade não é constante. O agente de saúde enfrenta dificuldades para passar por lá em casa. Isso é importante porque é muito difícil conseguir atendimento. Aqui é mais fácil, tem tudo”.
Importância
O comandante do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Doutor Montenegro, capitão da Marinha Costa Bueno, reforçou a importância de levar saúde às populações mais isoladas.
“Colocar um dos nossos navios à disposição para atender àqueles sem acesso à saúde básica, fazendo com que o Estado possa chegar ao menos assistidos, para nós é uma imensa satisfação e contamos que essa parceria com a Fundação Amazonas Sustentável prospere cada vez mais”, disse.
“É plenamente possível alocar um período na nossa operação para atender essas populações, o que só acontece com diálogo entre todos. Atendemos aqui não a totalidade da população, mas o máximo possível de pessoas”.
Atendimento humanizado
Um diferencial dos atendimentos médicos e odontológicos prestados na Operação Acre 2019 é o contato humanizado dos militares com as populações. “Geralmente, o atendimento feito diretamente nas comunidades, fora da Operação Acre, não conta com uma equipe de médicos especialistas, o que eventualmente dificulta a comunicação com os ribeirinhos”, explicou Erica Osório, assistente de mobilização do PBF do Juruá, que participou da mobilização para levar as famílias até a operação.
“O acolhimento aos ribeirinhos feito pela equipe de profissionais de saúde da Marinha torna mais fácil a compreensão dos sintomas, e o encaminhamento aos especialistas.
Na operação, essas pessoas se sentiram acolhidas e agradecidas. É um resultado que não tem preço e nos deixa muito feliz”.
A dificuldade em levar assistência em saúde aos moradores da Resex do rio Gregório ocorre, segundo o coordenador do PBF Marcelo Castro, devido à geografia da região. “A principal característica da região do rio Gregório é o isolamento e a navegação de difícil acesso.
O rio fica muito seco por muito tempo, o que impede maior parte dos barco de médio porte levar equipe de saúde mais completas e fazer atendimento por mais de oito meses do ano. Tanto que algumas dessas comunidades ficam distantes até 400 quilômetros de via fluvial de qualquer sede municipal. Então sempre o acesso a saúde dessas populações é bem difícil”, explicou.
Pouco acesso
Com pouco acesso a saúde, os moradores da Resex Rio Gregório acabam ficando doentes, o que os impede de cuidar da floresta e do meio ambiente onde vivem, conforme reforçou Marcelo Castro.
“Essa região as pessoas estão expostas a contaminação por veiculação hídrica, verminose, diarreia. Então, é muito estratégico levar eles até a Operação Acre.
Se você não tem saúde, você não tem aula nas escolas, os pais deixam o trabalho de lado no roçado, e consequentemente comprometem suas rendas, aumentando as pressões sobre a floresta”, disse.
Futuras ações em saúde
Com os atendimentos prestados pela Marinha do Brasil na Operação Acre 2019, os comunitários da Resex do rio Gregório poderão a partir de agora protagonizar uma atuação por mais acesso à saúde à população ribeirinha local.
“O exercício desse ano foi didático porque ensinamos a associação de moradores do rio Gregório a se articular de maneira mais independente junto à Secretaria de Saúde e ao 9º Distrito Naval a inclusão deles na Operação Acre 2019.
O capitão Costa Bueno bateu muito nessa tecla que a Marinha é importante para cuidar desses brasileiros, que eles não estão esquecidos no meio da mata. Eles querem colocar isso no calendário”, disse Marcelo Castro, do Programa Bolsa Floresta.
Operação Acre 2019
A tripulação do Navio de Assistência Hospitalar (NAsH) Doutor Montenegro, na Operação Acre 2019, é composta por 70 militares e inclui uma equipe de saúde de 28 militares, sendo seis médicos, dentre eles um clínico geral, dois radiologistas, um proctologista, um dermatologista e um ginecologista; cinco cirurgiões-dentistas; dois farmacêuticos bioquímicos; dois enfermeiros e 13 técnicos de enfermagem; dois técnicos em radiologia médica; dois técnicos em radiologia odontológica; um técnico laboratorial; e um técnico em enfermagem para vacinação.
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