Amazonas – O Parque Municipal do Mindu, símbolo de resistência e da luta pela preservação do bioma amazônico na cidade de Manaus, foi escolhido pela Arquidiocese de Manaus para ser o palco do lançamento da Campanha da Fraternidade 2017, com o tema “Fraternidade: Biomas Brasileiros e a Defesa da Vida”.
A campanha será lançada oficialmente no próximo dia 1º de março, Quarta-feira de Cinzas, no anfiteatro do parque, às 9h, com uma solenidade que dará início ao período da Quaresma para a Igreja Católica. O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira, 22, na sede da Cáritas Arquidiocesana, no Centro, pelo arcebispo metropolitano de Manaus, dom Sérgio Castriani.
A subsecretária municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Aldenira Queiroz, que esteve na Cáritas, destacou que a escolha do Parque do Mindu tem um caráter especial pelo histórico e a importância da área protegida para a cidade. “Estamos aqui para agradecer à Arquidiocese de Manaus em nome do prefeito Arthur Virgílio Neto e do secretário de Meio Ambiente, Antonio Nelson, porque o Mindu é um ambiente bastante significativo para Manaus”, disse ela, em referência ao processo de criação do parque, a partir de um movimento de luta encabeçado pelos moradores do Parque Dez e do prefeito Arthur Virgilio Neto, em seu primeiro mandato, contra a grilagem que ameaçava a área.
“Essa é uma área de extrema relevância para a cidade, visto que o parque abriga um bioma completo e está situado em plena área urbana de Manaus”, observou Aldenira Queiroz. Para a subsecretária, a Campanha da Fraternidade terá um papel importante na sensibilização da sociedade ao desenvolver atividades ao longo do ano sobre o tema. “Quem respeita o meio ambiente respeita a si próprio e a nossa casa comum”, lembrou.
O padre Geraldo Badham, coordenador da pastoral da Arquidiocese, destacou que a realidade dos biomas brasileiros (seja o Cerrado, Pantanal, Pampas, Mata Atlântica e a Amazônia) é preocupante. “Hoje, os biomas brasileiros encontram-se em degradação. Foram criadas reservas de florestas dentro dos biomas, e se isso não acontecesse não sei o que seria da Amazônia”, lembrou.
Ele explicou os motivos da escolha do Mindu. “A razão de escolhermos o Mindu é que ali encontramos o bioma completo, perfeito. Há vida, há natureza, sabemos que o igarapé está poluído, mas é simbólico também para todos nós, pois é nele que encontramos a ação humana e seus efeitos danosos”, observou.
O arcebispo de Manaus, dom Sérgio Castriani, ressaltou que cuidar do bioma é cuidar da vida. “A importância do tema é transversal, interessa a todos e a cada um. Parece distante, mas é algo que está muito perto de nós, já que utilizamos a água e respiramos o ar para viver. Ano passado, o tema foi saneamento básico. Este ano, ampliamos, tendo em vista a preocupação do Papa Francisco com a temática”, afirmou dom Sérgio, acrescentando que ainda temos o privilégio de viver num bioma quase intocado.
O Parque do Mindu, administrado pela Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), é um dos poucos remanescentes de floresta nativa que abriga fauna silvestre local. “O espaço tem grande importância no sentido de mudança de comportamento a partir dos processos educativos que ocorrem lá dentro. Não só como laboratório aberto de estudos e pesquisas, mas como fragmento de floresta fundamental para a cidade e aberto ao público”, afirma o diretor de Áreas Protegidas da Semmas, Márcio Bentes.
O Parque do Mindu
Com pouco mais de 40 hectares, o Parque do Mindu integra o Corredor Ecológico Urbano do Igarapé do Mindu, tendo uma importância fundamental na conectividade entre fragmentos florestais urbanos vivos. Criado pelo prefeito Arthur Virgilio Neto, a partir de um movimento de resistência dos moradores em prol da sua conservação, 22 anos depois o parque continua um santuário ecológico em plena área urbana.
Com opções como trilhas ecológicas interpretativas, orquidário, pontes e passarelas por entre as copas das árvores, café regional no chapéu de palha, playground para crianças, academia ao ar livre e o principal: o contato direto com a natureza. O Parque do Mindu possui também auditório, biblioteca e anfiteatro bastante requisitados para a realização de eventos, além de ser utilizado como laboratório de pesquisas científicas por estudantes e instituições de ensino.
Alem de promover o resgate e a reaproximação do parque com a cidade, o parque é casa de inúmeras espécies da fauna silvestre, a exemplo do sauim- de- coleira, que é tema de uma exposição fixa na unidade.
Histórico
Localizado na Rua Perimetral, s/n, no Parque Dez de Novembro, o Parque Municipal do Mindu nasceu de um movimento dos moradores do entorno como forma de proteger o fragmento (de matas primária e secundária) contra a ação de invasores em 1989. O movimento foi liderado pelo então prefeito Arthur Virgílio Neto, decisivo para a criação do Parque, num momento em que houve a participação de toda a sociedade cientifica, ambientalista e movimentos populares.
O parque possui área total de 40,8 hectares e tem suas raízes nos anos de 1940, quando da instalação da gruta em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes, às margens do igarapé que dá nome ao espaço, pela então proprietária (já falecida) da área conhecida naquele momento como Sítio da Pedreira.
Com a venda da propriedade, no começo de 1960, para os Padres Redentoristas da Paróquia Nossa Senhora Aparecida (freqüentado pela antiga proprietária, Dirce Ramos, devota de Nossa Senhora), o local passou a ser utilizado como retiro para a Comunidade Salesiana, que desenvolveu diversas atividades na área, como o plantio de árvores frutíferas e cultivo de hortaliças.
No final dos anos 60 e começo de 1970, com a construção do Conjunto Residencial Humberto de Alencar Castelo Branco e as invasões nas adjacências, o igarapé do Mindu começou a apresentar sinais de poluição, decorrentes, principalmente, dos esgotos domésticos e resíduos sólidos lançados diretamente sobre o seu leito. Em 1975, com o aumento da poluição do igarapé do Mindu, já considerado desde esta época impróprio para a balneabilidade, o terreno foi vendido para o Ministério da Fazenda, que o incorporou à área verde da cidade de Manaus. A área passou a ser alvo de interesses imobiliários e dos processos de invasões e desmatamentos.
Contrários a esta situação, em 1989 os moradores do Parque Dez de Novembro deram início a um movimento popular, visando à defesa e preservação do local, que culminou no seu posterior reconhecimento como área protegida do município de Manaus.
Em 18 de março de 1992, com a visita da primeira ministra da Noruega, Gro Harlem, por meio do gesto simbólico do plantio de uma muda de Sumaúma (Ceiba pentandra), inaugurou-se, o que é considerado o “marco legal” para a criação do Parque. Em maio deste mesmo ano o Parque recebeu a visita de 142 adolescentes de 44 países, integrantes do “Projeto Gaia (Mãe Terra)”, que permaneceram durante três semanas na área realizando serviços de limpeza, construção de pontes, abertura de trilhas interpretativas e construção do Monumento da Fertilidade, utilizando pedras enviadas por crianças de vários países.
Amazonianarede-Semcom