Na Amazônia, cupuaçu, taperebá, castanha-do-brasil, urucum, rambotã entre outras importantes culturas agrícolas e extrativistas são polinizadas por abelhas. Agora, pesquisadores da Embrapa descobriram que colocar certo tipo de abelha no açaí pode aumentar a produtividade dos frutos da palmeira em até 40% – e o açaí depende de polinizadores para seu processo reprodutivo natural.
Criadores de abelha e produtores de açaí comemoram a descoberta, que deve aumentar a renda ao longo da cadeia produtiva.
Essa “abelha ideal”, conhecida por apicultores como “abelha-canudo”, ainda está em fase de descrição taxonômica – portanto, não tem nome científico de espécie. O pesquisador Giorgio Venturieri conta ainda que é uma abelha do mesmo grupo de espécies da tubuna (Scaptotrigona bipunctata) – de ocorrência no Sul e Sudeste do Brasil; e Scaptotrigona mexicana – de ocorrência no México, ambas sem ferrão, produtoras de mel e criadas em larga escala dentro e fora do Brasil.
Conhecida provisoriamente como Scaptotrigona sp., é nativa da região amazônica e não possui ferrão. Giorgio Venturieri explica que são grandes as vantagens de utilizar uma abelha da região. “Um animal exótico poderia competir com os animais nativos”, explica. Além disso, há a valorização do conhecimento local e, neste caso, a facilidade de manejo e segurança para o produtor.
O açaí necessita de polinização cruzada, ou seja, os grãos de pólen de uma flor devem encontrar o estigma (órgão reprodutor feminino) de uma flor de outra planta da mesma espécie. Na prática isso significa dizer que o cruzamento acontece entre flores de touceiras diferentes. Como recompensa por este importante serviço, as flores do açaizeiro oferecem néctar e pólen às abelhas.
Pesquisa
“Um bom serviço de polinização gera muito mais frutos em uma mesma plantação”, destaca o pesquisador. E o primeiro desafio da pesquisa foi encontrar entre as diversas espécies de abelhas nativas e exóticas a mais adequada à polinização do açaí, sob dois aspectos: eficiência e facilidade no manejo.
No quesito eficiência, a pesquisa buscou um animal de tamanho menor; que necessita de quantidade de néctar (alimento) proporcional à produção das flores do açaí; e com autonomia de voo adequada à distância entre as palmeiras. Já na questão do manejo, a Scaptotrigona sp. é abelha fácil de criar e reproduzir, é mais rústica e tem resistência natural a pragas. “Uma colônia dessa abelha tem de 10 a 15 mil indivíduos, enquanto que a uruçu-amarela (abelha nativa mais popular entre os criadores da região), tem 4 mil indivíduos. Ou seja, a Scaptotrigona sp. tem mais indivíduos para fazer o serviço de polinização”, explica Venturieri.
Novos mercados para criadores de abelhas
O Pará, graças à domesticação e difusão do uso de abelhas nativas, tem hoje mais de 200 criadores de abelhas sem ferrão. As Scaptotrigonas representam apenas um grupo de espécies entre as várias existentes. Charles André Pereira cria abelhas há 12 anos, atuando principalmente na multiplicação e comercialização de ninhos para outros produtores. Ele já sabia que a espécie é excelente produtora de mel “e descobrir que poliniza o açaí abre boas perspectivas de mercado para os criadores”.
Charles Pereira possui 50 enxames em sua propriedade, localizada em Santo Antônio do Tauá, região nordeste do Pará. “O açaí é uma cultura importante para o estado e pode estimular a criação de um mercado de aluguel e/ou venda de colônias para polinização, como acontece em outras regiões do Brasil e em outros países com a produção de laranja, maçã e melão”.
O método tradicional de divisão de ninhos de abelhas é a divisão da colônia em duas. Com a técnica de produção de minicolônias é possível obter até oito novas colônias por ano a partir de fragmentos de um ninho maior. “As novas colônias, porém, são frágeis e requerem cuidados no manejo e na alimentação, entre outros”, explica o pesquisador Giorgio Venturieri.
A Scaptotrigona sp. tem vantagens sobre outras abelhas na multiplicação de colônias. Por ser um animal resistente a pragas e com ninhos populosos, a produção de minicolônias é viável tanto para o pequeno produtor quanto para bioindústrias.
Na próxima etapa do trabalho de pesquisa, o estoque de colônias localizado na Embrapa Amazônia Oriental será transportado para uma área de produção comercial com o objetivo de dimensionar a quantidade de abelhas necessárias à produção máxima de frutos.
O pesquisador explica que o intuito dessa nova etapa do trabalho é valorizar o serviço das abelhas. “Isso servirá para quantificar benefícios contribuindo na valorização dos serviços de aluguel e venda de colônias para o setor agrícola regional”, completa Giorgio Venturieri. As colmeias, multiplicadas por meio de técnicas de criação racional e mantidas em caixas adequadas, são mais adequadas ao transporte e alocação nos plantios na época da floração, onde permanecem durante os picos do período reprodutivo da cultura.
O que para a pesquisa é a otimização de processos e mais uma possibilidade de utilização sustentável dos recursos naturais da Amazônia, para os criadores de abelha e produtores rurais é uma fonte de renda e eficiência na produção do açaí, uma fruteira que não para de atrair consumidores e ampliar mercados por todo o mundo.
Por: Ana Laura (MTb 1268/PA) – Embrapa Amazônia Oriental