Carlos Costa*
Na comunidade amazonense de Varre-Vento (não sei o porquê desse nome, quase não ventava em “Varre-Vento”) todos a pessoas a chamavam de “mão de pilão”. Mas o que viria a ser uma “mão de pilão”?
Na realidade não existia uma mão de verdade, mas sim uma pesada madeira com uma parte grossa, mas fina em seu meio, ligando dois lados, cuja parte mais pesada era utilizada para bater dentro de um tronco de árvore cavada, às vezes meio queimado pelo fogo “para facilitar o corte”, como dizia meu pai…
Mas, para que serviria essa tal “mão de pilão” e qual a seria a sua utilidade?
Essas perguntas sem resposta me fundiam a cabeça e eu a olhava desconfiado, sempre de lado, para àquela “coisa” parada em um canto, sempre dentro de uma grande tora de madeira oca. Mas para que serviria?
Só tive a resposta – mas não a certeza – quando minha mãe Josefa chegou do roçado, suada, ofegante, com marcas de carvão no rosto – ela limpava o suor que lhe escorria ao rosto com a manga grossa de sua camisa quando se dirigia ao roçado de milho, sempre com um chapéu em sua cabeça “para me proteger do sol”.
Ganhava vida a tal “mão de pilão” nos braços frágeis de minha mãe, mulher que encarava desafios variados sempre ao lado de meu pai Paulo. Deviam perguntar: “como uma mulher tão frágil, consegue bater tão forte no pilão?”
Pacientemente minha mãe colocava milho dentro do buraco do “tronco cavado” na madeira de tronco de árvore e começava a bater com seus braços pequenos e mão magra devido à “lida” do roçado na comunidade Varre-Vento, local aonde residi até meus oito anos de idade, no interior do Amazonas.
Anos mais tarde, residindo em Manaus, vendo minha mãe moendo milho em um moinho de ferro, colocando milho pela sua boca para transformá-lo em xerém para pintos, depois de minha pergunta, ela me explicou a que se destinava a tal “mão de pilão”.
– Ah, então, era para moer milho?
Fiquei sem resposta, mas entendi que o silêncio de minha mãe significava: “servia para “bater” o milho e produzir o xerém, seu burro!”.
Mesmo assim, fiquei sem entender direito essa resposta dada com o seu silêncio porque “mão de pilão”, para mim, não fazia o menor sentido na inocência dos meus oito anos porque não existia uma mão de verdade que quebrasse o milho, e sim uma espécie de porrete para bater! Por que era chamada de “mão de pilão”?
Nunca saberei e nem quero mais descobrir a razão a origem ou a etimologia da palavra “mão de pilão”!
*Carlos Costa é assistente social, escritor, cronista e jornalista.
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